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Falta de oxigênio mata ao menos 24 pacientes em cidades do interior do AM e do PA

Na última semana, outras 18 pessoas morreram asfixiadas em três cidades amazonenses - Jeffrey Greenberg/Education Images/Universal Images Group via Getty Images
Na última semana, outras 18 pessoas morreram asfixiadas em três cidades amazonenses Imagem: Jeffrey Greenberg/Education Images/Universal Images Group via Getty Images

Liege Albuquerque, Vinicius Lima e Danielle Ferreira

Manaus e Belém

20/01/2021 10h17

Ao menos seis pessoas da mesma família morreram por asfixia na cidade de Faro, Pará, de segunda-feira, 18, para ontem. A realidade no local, de 12 mil habitantes, é de colapso na rede da saúde com a falta de oxigênio para pacientes da covid-19. O município fica na divisa com o Amazonas, estado que ainda não resolveu a crise de abastecimento do insumo, que se estende há pelo menos 13 dias.

Na última semana, outras 18 pessoas morreram asfixiadas em três cidades amazonenses, conforme governos locais e o Ministério Público. Balanços extraoficiais de prefeituras e médicos apontam um total de 35 óbitos.

Em Faro, a situação mais preocupante é na comunidade de Nova Maracanã, onde havia na terça 34 hospitalizados. A prefeitura pede ajuda para transferir oito doentes em estado grave e com urgência de UTI. A falta de estrutura também atinge as cidades vizinhas de Terra Santa (PA) e Nhamundá (AM).

Na manhã de ontem, o prefeito de Faro, Paulo Carvalho, conseguiu comprar 20 cilindros de oxigênio de Santarém (PA). Faro também costuma comprar suprimentos em Manaus. "Ambas as cidades estão em crise. A demanda é maior que a quantidade, porque a produção está comprometida", diz, referindo-se à crise na empresa White Martins, fornecedora de oxigênio hospitalar no oeste do Pará.

Prevendo alta de infecções, a prefeitura de Faro aumentou o total de leitos de seis para 30. Segundo o médico da Unidade Básica de Saúde da cidade Yordanes Perez, o oxigênio recebido nesta terça garante só dois dias de tratamento dos pacientes.

O morador Luís Carvalho relatou a mobilização na madrugada para ajudar os doentes. Segundo ele, foi preciso o empréstimo de dois cilindros de Nhamundá para evitar mais mortes. "Eram três horas da madrugada quando duas balas (cilindros) chegaram de voadeira (espécie de lancha) em Faro. Uma ficou aqui (NA UBS) e a outra levamos de carro para Nova Maracanã", conta.

Desde o dia 5, Faro está em toque de recolher. De 20h às 5h, não é permitida movimentação. Durante o dia, o comércio local funciona com restrições. As medidas foram tomadas após o fim de ano, quando a cidade recebeu muitos visitantes de Manaus.

Na semana passada, o Pará proibiu a circulação de embarcações vindas do Amazonas. A Secretaria de Saúde Pública do Pará informou ser de responsabilidade das prefeituras a manutenção de contratos e a aquisição do oxigênio. Conforme o Estado, 159 cilindros foram distribuídos ontem para a região.

Amazonas

Em Coari, a 362 quilômetros de Manaus, foram confirmados sete óbitos de domingo para segunda por falta de oxigênio no hospital regional. A prefeitura da cidade acusou o Estado de reter 200 cilindros. Conforme o governo, o Estado teria enviado 40 cilindros na segunda, mas o avião que realizaria o desembarque dos equipamentos foi direto para o município de Tefé, a 523 km da capital, impossibilitando o retorno a Coari já que o aeroporto local não opera voos noturnos.

Em nota, a Secretaria de Saúde do Amazonas disse lamentar e afirmou que, por "opção do município, o sistema de saúde na cidade é independente, sendo a gestão municipal". Mas, segundo o texto, o Estado "nunca se furtou de auxiliar a administração local". A pasta alega que a carga de cilindros foi enviada a Tefé, por causa de um atraso da fornecedora de oxigênio.

As outras mortes por asfixia no interior foram em Manacapuru (7), segundo o MP e Itacoatiara (4), onde o governo do Estado sugeriu na semana passada abrir valas diante da impossibilidade de suprir rapidamente os estoques de oxigênio. Em Manaus, não há dados oficiais.

O Amazonas não está conseguindo suprir a demanda do interior de pedidos de internação ou oxigênio. Enquanto defensores públicos e promotores entram com ações civis públicas para tentar priorizar seus municípios, decisões judiciais barram as tentativas e colocam na mão do Estado decidir quem é prioridade.