Topo

Esse conteúdo é antigo

Pré-candidato a presidente, Janones se define como 'populista do bem'

André Janones aposta em enquetes nas redes sociais para fechar partes do eventual programa de governo dele - Pablo Valadares/Câmara dos Deputados
André Janones aposta em enquetes nas redes sociais para fechar partes do eventual programa de governo dele Imagem: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados

Gustavo Queiroz *

Em São Paulo

28/01/2022 13h01Atualizada em 28/01/2022 13h17

O deputado federal André Janones (MG), pré-candidato à Presidência pelo Avante, atribui à atuação nas redes sociais seu mandato de deputado federal, conquistado em 2018.

Caso confirme a disposição de entrar oficialmente na disputa pelo Palácio do Planalto, o futuro plano de governo também poderá ser atribuído à interação com os seguidores nas mídias digitais.

Janones, que se define como um "populista do bem", pretende usar as enquetes nas redes para consolidar pontos de um futuro programa de governo.

O Avante fará amanhã um evento no Recife para apresentar a pré-candidatura do parlamentar, que negocia com nomes como o especialista em marketing político Felipe Pimentel e o jornalista Marcelo Tognozzi a montagem de uma equipe de comunicação.

O objetivo é impulsionar ainda mais o palanque nas redes sociais, onde somente no Facebook possui cerca de 8 milhões de seguidores.

"Estamos buscando alguns nomes para somar. Minhas redes sociais eu que toco, absolutamente só", afirmou Janones ao pontuar que precisará de ajuda para a produção de conteúdo, pois "não dá mais para ir sozinho com o celular na mão".

Na sua trajetória intuitiva e "solitária", o deputado mineiro vivenciou o auge da onda "antipolítica" no país e agora busca se situar no espectro ideológico da centro-esquerda.

A popularidade digital já faz ele ser reconhecido por funcionários de restaurantes ou frequentadores de uma padaria da Vila Madalena, na zona oeste de São Paulo.

Acostumado a usar as mídias digitais para definir a atuação na Câmara, Janones também quer se valer das redes e das consultas aos seguidores para desenhar uma base de propostas de governo.

Ele admite que não tem opinião fechada sobre temas da macroeconomia, por exemplo.

Ele diz manter posição em 90% dos projetos que vota, mas, durante a disputa sobre a privatização dos Correios, mudou de ideia após uma enquete no Facebook.

"Eu não consegui convencê-los, mesmo entendendo que a privatização seria positiva. Uma enquete com 200 mil deu 79% contra a privatização", lembrou.

Entre os temas que potencialmente serão consultados está o destino do teto de gastos no próximo governo. Janones admite que não tem posição definida sobre a âncora fiscal criada na gestão de Michel Temer (MDB).

O pré-candidato defende a presença nas redes como um caminho para "atingir a base da pirâmide" e discutir problemas reais com a população. Apesar disso, reconhece que as enquetes não seguem metodologia científica para aferição da opinião da população.

"A gente sabe que não tem teor científico, não dá pra dizer que é uma pesquisa, mas dá um parâmetro", defendeu.

"Eu me considero um populista. Não consigo ver essa palavra com a conotação negativa que se dá. Considerar o que vem de fora na tomada das minhas decisões para mim é algo positivo. Estou ali para refletir o que a sociedade quer", afirmou.

O presidente nacional do Avante, deputado federal Luis Tibé (MG), já busca diálogo com outras legendas e alega que "precisa agregar mais gente" à campanha.

Defende também que o partido está unido de forma unânime em torno do correligionário como candidato próprio ao Planalto.

Janones foi pego de surpresa quando atingiu 2 pontos porcentuais na pesquisa Ipec de dezembro, a única que colocou o nome dele no páreo até agora.

Empatado com o governador de SP, João Doria (PSDB), na ocasião, ele reconhece que os 8 milhões de usuários que o seguem no Facebook não podem sozinhos garantir a vitória, mas "alavancam" uma candidatura.

A intenção dele é furar a bolha das redes e conquistar até 5% do eleitorado em 60 dias.

O "fenômeno" digital no qual Janones se tornou já é conhecido. Ele ganhou destaque especial durante as votações sobre o Auxílio Emergencial, cujos valores pagos oscilaram ao longo do tempo.

Na ocasião, o parlamentar precisou de uma camisa branca, uma gravata roxa e o celular na mão, na vertical, para alcançar no Facebook a marca da cantora Marília Mendonça e atingir 3,3 milhões de visualizações e 177 mil comentários em um vídeo - a live mais comentada no mundo ocidental.

Para se ter uma ideia, o streamer Casimiro, um dos nomes do entretenimento que conquista números expressivos nas redes sociais, obteve o maior número de visualizações simultâneas em transmissões ao vivo na Twitch nesta semana, com 540 mil espectadores.

Com uso de palavras-chave bem medidas, estética amadora e sem grande estrutura, a estratégia de uso das redes de Janones lembra a do presidente Jair Bolsonaro (PL) na última eleição - os dois disputam liderança de desempenho nas redes.

O parlamentar diz ver semelhança no que chama de "autenticidade" com que ele e o chefe do Executivo federal dialogam com os seguidores, mas marca distância de Bolsonaro.

"Uso para divulgar meu trabalho, não para polemizar, ao contrário do presidente", afirmou, garantindo nunca ter apoiado ou feito elogios ao presidente. "Acho um governo desastroso. A pandemia mostrou um lado até sombrio (do governo), eu diria", disse.

Cota

Nos gastos parlamentares do ano passado, Janones desembolsou 55,14% de sua cota em divulgação da atividade como deputado. Número superior à média da Casa, de 31,47%.

Ele atribui a própria ascensão virtual à greve dos caminhoneiros de 2018 quando, advogado do grupo, conquistou 2 milhões de seguidores só no Facebook.

Sem fugir da tática vitoriosa, para 2022 continua apostando em uma "alta taxa de conversão" de seguidores em votos.

Janones diz que a decisão por uma possível candidatura presidencial é recente. Um ônibus do partido já faz um tour em municípios de Minas Gerais, há quatro meses, com o objetivo de "dialogar" com a população - o deputado não descarta tentar a reeleição, uma vaga no Senado ou até o governo mineiro.

A possibilidade de concorrer ao Planalto, porém, mudou os planos do partido, que expandiu o trajeto do parlamentar para outros estados.

Mineiro, ele costuma se apresentar como filho de "mãe doméstica, pai cadeirante e oriundo de escola pública". "Eu era um Celso Russomanno na saúde", comparou. "Durante dez anos, colocava a faca no pescoço do poder público para cobrar atendimento", disse.

Ex-cobrador de ônibus, o deputado foi filiado ao PT e chegou a disputar eleição para prefeito em Ituiutaba (MG) pelo PSC, antes de conquistar o apoio das redes e se eleger deputado com 178.660 mil votos em 2018.

Ontem, ele participou do evento de filiação de lideranças do MBL ao Podemos, partido de Sérgio Moro. O ex-juiz busca se aproximar do deputado do Avante, que, por ora, resiste.

Durante o evento em São Paulo, Janones desejou sucesso a Moro. "Nós temos projetos diferentes a nível nacional, mas o mesmo que eu disse ao MBL, eu digo a você: nosso objetivo é um só, o bem do país", afirmou.

Ao Estadão, porém, classificou o presidenciável do Podemos como um "puxadinho" da direita bolsonarista ou um "Bolsonaro honesto".

* Com colaboração de Eduardo Kattah