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Cracolândia volta a se movimentar pelo centro de SP e busca local 'visível'

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Frequentadores da cracolândia buscam lugar 'visível' por temer que, longe dos olhos da sociedade, se instalem em 'cemitério'
Imagem: TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO CONTEÚDO

20/05/2022 20h06

Um dia depois da operação policial que prendeu oito pessoas por tráfico de drogas na Rua Doutor Frederico Steidel, na quinta-feira, 19, usuários e traficantes buscaram novos pontos na região central. Um dos focos foi a comunidade do Moinho, na Barra Funda, zona oeste da cidade, mas o local foi descartado. Na visão dos usuários, a presença de poucos moradores no local facilitaria ações truculentas da polícia. O deslocamento dos usuários causou apreensão nas ruas dos Campos Elísios.

No final da manhã desta sexta-feira, 20, cerca de 50 integrantes do chamado fluxo deixaram a esquina da rua Helvétia com a Barão de Campinas em direção à Barra Funda. O acesso é feito por uma passarela de pedestres, sobre a linha férrea, nas proximidades da rua Eduardo Prado. O novo local, que representaria uma nova fronteira para a cracolândia, foi descartado.

Usuários e familiares afirmam que ele foi considerado perigoso por ter poucos moradores no local, o que traria menor visibilidade em caso de ação da polícia. "Lá seria um cemitério e ninguém ficaria sabendo", diz a dona de casa Antonia, que prefere mencionar apenas o primeiro nome e tem uma filha de 25 anos na cracolândia.

O relato foi comprovado por vendedores ambulantes que acompanham os usuários para vender cigarros e bebidas. "Eles preferem ficar num lugar em que todo mundo possa ver se acontecer alguma violência", diz a vendedora Raquel, que acompanha o fluxo há seis anos.

Os dependentes químicos ficaram ainda mais temerosos dos confrontos com a polícia depois da morte de Raimundo Nonato Fonseca Junior, de 32 anos, que levou um tiro no tórax durante os deslocamentos do fluxo pela região da Praça Princesa na semana passada. Um policial civil é acusado de ter atirado em direção ao grupo. O Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) investiga se o disparo matou o usuário de drogas. Familiares opinam que as imagens feitas por moradores do prédio da região foram decisivas para a investigação.

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Operação contra tráfico fez com que muitos frequentadores do fluxo fugissem
Imagem: TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO CONTEÚDO

O Estadão acompanhou parte do deslocamento. Por volta das 11h, parte das lojas da rua Barão de Campinas fechou discretamente as portas diante da passagem dos usuários. Alguns deles pediam "uma ajuda" e vasculhavam os sacos de lixo em busca de restos de alimentos. "A cracolândia tá viva", gritou um usuário empurrando um carrinho de supermercados cheio de sacos plásticos. Viaturas policiais chegaram a escoltar um pequeno grupo.

O momento de maior tensão foi a passagem pelo Colégio Boni Consilii, na Rua Barão de Limeira. Seguranças privados chegaram a oferecer abrigo para os pedestres. Mesmo sem crianças no local, eles trancaram o portão que permite acesso de vans escolares. E eles avisaram para quem passasse: "Cuidado, eles estão na esquina". Não houve tentativa de assaltos nem violência contra os pedestres.

Na volta da Barra Funda, os usuários estavam ainda mais dispersos, em grupos menores, o que diminuiu um pouco a tensão entre os moradores e trabalhadores. "O que a gente faz se eles entrarem?", perguntou a funcionária de uma empresa de peças de borracha na Rua Adolfo Gordo. Do grupo de cinco funcionários que observava os usuários na calçada, ninguém respondeu.

Por causa da insegurança, a Lanchonete Palmares, localizada a 100 metros da nova cracolândia, não ofereceu almoço nesta sexta-feira. A gerente Helena colocou duas mesas na porta do estabelecimento para formar uma espécie de barricada. Não houve tentativa de invasão. "Não fiz almoço hoje porque eu sabia que não venderia. O movimento caiu mais de 70%", lamenta.

Desde que foram retirados da Praça Princesa Isabel em uma grande operação policial na quarta-feira da semana passada, os usuários de drogas já ocuparam diferentes endereços, principalmente a Praça Marechal Deodoro e a rua Helvétia, entre a rua Barão de Campinas. A esquina da Avenida São João com a Rua Frederico Steidel também era um local ocupado com frequência até a operação policial desta quinta-feira.

Polícia faz prisões durante operação

A Secretaria de Segurança Pública informou que foram presas oito pessoas em flagrante por tráfico de drogas na quinta-feira, durante a nova fase operação da "Caronte", que age integrada à Operação Sufoco para combater o comércio de entorpecentes na área central de São Paulo.

Além das prisões, um alvo da operação foi detido e outros dois procurados pela Justiça acabaram capturados. Dois adolescentes foram apreendidos por associação ao tráfico. A operação visava cumprir 32 mandados de prisão contra traficantes.

Ainda de acordo com a polícia, foram recolhidas porções de cocaína, crack, lança-perfume e maconha, além de 11 facas, um simulacro de arma de fogo, oito cartões de crédito e R$ 5.499,50 em espécie.

Um dia depois da operação policial que prendeu oito pessoas por tráfico de drogas na Rua Doutor Frederico Steidel, fluxo busca novos pontos na cidade