Desmate da Amazônia em gestão Bolsonaro equivale à área do Estado do RJ
O presidente Jair Bolsonaro (PL), que tenta a reeleição, deve terminar os quatro anos de gestão com um total de 47 mil km² de desmatamento na Amazônia. O número representa o total da área destruída segundo as estimativas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) entre 2019 e 2022 e é 60% maior do que o registrado nos quatro anos anteriores no governos Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB).
A área desmatada na gestão Bolsonaro é maior que todo o Estado do Rio de Janeiro, por exemplo, com seus 43 mil km². Se esse estrago for comparado com a extensão da cidade de São Paulo, equivale a dizer que, durante o governo do atual presidente, uma área de floresta equivalente à capital paulista foi desmatada a cada 45 dias.
Segundo o Inpe, o volume de desmatamento já consolidado de 2019, 2020 e 2021 soma 34 mil km² de vegetação perdida. Neste ano, segundo os especialistas, uma projeção extremamente conservadora indica, pelo menos, mais 12 mil km² de derrubadas, mas os indicativos são de que esse volume de 2022 deve ficar próximo de 15 mil km².
Esses números estão fora da curva histórica. Os dados do Inpe indicam que, nos quatro anos anteriores, de 2015 a 2018, o volume total de desmatamento da Amazônia chegou a 28.583 km².
A reportagem questionou o Ministério do Meio Ambiente (MMA) sobre os dados de desmatamento, mas a pasta declarou que não iria comentar porque a questão deve ser respondida pela pasta da Justiça. Órgãos federais de combate ao desmatamento, como Ibama e o Instituto Chico Mendes (ICMBio), são diretamente vinculados ao Ministério do Meio Ambiente.
A operação Guardiões do Bioma, que combate ilícitos ambientais, é coordenada pelo Ministério da Justiça. A ação - que reúne agentes da Força Nacional, do Ibama e do ICMBio - só foi lançada em julho de 2021, dois anos e meio depois de Bolsonaro chegar ao Palácio do Planalto. Também questionado pela reportagem, o Ministério da Justiça não respondeu.
O consultor jurídico do Instituto Socioambiental (ISA), Mauricio Guetta, afirma que os dados expõem a forma como a gestão Bolsonaro sempre encarou a área ambiental. "Desde o primeiro dia de 2019, o governo incentivou, sistematicamente, a criminalidade ambiental e desmontou todas as políticas e instituições públicas de proteção do meio ambiente. O resultado é o descontrole do desmatamento e de outras atividades ilegais, como o garimpo em terras indígenas, além do descumprimento das metas climáticas", diz.
Professor de Direito Ambiental, Guetta chama a atenção ainda para os danos externos que estes números produzem para a economia e imagem do Brasil. "Os prejuízos são irreparáveis não apenas nas esferas ambiental e social, mas também na econômica, com perda de investimentos e de credibilidade internacional."
Para Marcio Astrini, secretário executivo do Observatório do Clima, há possibilidade de a "tragédia aumentar", uma vez que Bolsonaro, caso reeleito, não tem sinalizado para uma mudança de políticas de preservação da floresta. A rede é formada por 68 organizações da sociedade civil brasileira que atuam na agenda socioambiental e do clima.
Emissões de carbono dobraram na Amazônia
Estudo realizado por 30 cientistas brasileiros e divulgado na quarta-feira, 5 pelo Observatório do Clima mostra que os recordes de desmatamento e queimadas nos dois primeiros anos do governo Bolsonaro causaram aumento de 89% nas emissões de gás carbônico em 2019 e de 122% em 2020, na comparação com a média anual registrada entre 2010 e 2018.
O estudo, coordenado pela pesquisadora do Inpe Luciana Gatti, aponta que em 2019 o aumento das emissões foi resultado da alta de 79% no desmatamento e de 14% na área queimada na Amazônia, na comparação com a média dos nove anos que antecederam o atual governo.
No primeiro ano da gestão Bolsonaro, as multas ambientais aplicadas caíram 30%. A queda nas multas pagas foi ainda maior, de 74%. Em 2020, quando as emissões de CO₂ mais que dobraram, o desmatamento subiu 74% e a área queimada teve alta de 42%. Já as multas aplicadas despencaram 54%, enquanto as pagas despencaram 89%.
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