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Derretimento da 'geleira do Juízo Final' é mais alarmante do que se pensava

A geleira Thwaites, na Antártida Imagem: Reprodução / Wikimedia Commons / Nasa

São Paulo

23/05/2024 09h17

A grande geleira Thwaites, conhecida como "Geleira do Juízo Final" e localizada na Antártida, corre maior risco de derreter do que cientistas acreditavam. Isto porque água salgada e quente passa por vários quilômetros abaixo dela, o que pode torná-la ainda mais vulnerável.

O que aconteceu

A conclusão faz parte de uma pesquisa realizada por uma equipe de glaciologistas da Universidade de Califórnia, nos EUA, e da Universidade de Waterloo, no Canadá. O artigo foi publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences, nesta segunda-feira (20).

Nova informação é alarmante porque o derretimento da Thwaites pode provocar um aumento de 65 centímetros do nível do mar. De acordo com o estudo, água quente do oceano ganhou acesso às cavidades de geleiras devido ao aumento da intensidade de ventos vindos do oeste. Esses ventos, por sua vez, são resultado da combinação entre o rápido aquecimento global e o esfriamento da segunda camada da atmosfera na Antártida.

"Elevação" da superfície da geleira. Então, a água acumulada nas cavidades e dutos da geleira cria pressão suficiente para elevar os blocos de gelo.

Outro ponto de preocupação é que a água salgada precisa de uma temperatura mais baixa para congelar do que a doce. Apesar da diferença não ser grande — a água doce congela a 0ºC enquanto a salgada a -2ºC —, ela é suficiente para provocar grande derretimento das geleiras.

Uma visão do movimento das marés na geleira Thwaites, na Antártica Imagem: Reprodução / Universidade de Califórnia e Universidade de Waterloo

Os pesquisadores reuniram dados de março a junho de 2023 pela missão de satélites comerciais da Finlândia, ICEYE. A frota de satélites da missão forma uma constelação na órbita polar ao redor do planeta. Com a ferramenta, os pesquisadores puderam obter dados em longo prazo. Antes disso, eles tinham apenas informações esporádicas.

Com os novos recursos, foi possível concluir que a geleira apresenta um recuo de 0,5 km por ano. O dado é consistente com os 0,6km/ano observados entre 2010 e 2011 e é metade da taxa observada entre 1992 e 2011, de 1 km/ano.

Eric Rignot, autor líder do estudo, professor da Universidade da Califórnia e cientista da Nasa, acredita que o estudo trará benefícios a longo prazo para modelos de interação entre o oceano e as geleiras. "Se nós pudermos adicionar o processo destacado no artigo, que não é incluso na maioria dos modelos, as reconstruções devem concordar muito melhor com as observações", diz.

Os pesquisadores ainda não sabem quanto tempo pode levar até que a intrusão de água na Thwaites se torne irreversível. Eles pretendem aprimorar os modelos para poder predizer se é questão de décadas ou séculos.

Em 2019, uma pesquisa da Nasa encontrou uma caverna de 300 metros de altura que crescia no centro da geleira. O buraco era grande o suficiente para caber 14 bilhões de toneladas de gelo — mas a maior parte dele havia derretido apenas nos últimos três anos.

Derretimento de geleiras atinge recorde

Imagem de satélite da grande geleira Thwaites, conhecida como 'Geleira do Juízo Final' Imagem: Reprodução / Wikimedia Commons / Nasa

Número dobrou. Um relatório publicado em 2023 pela OMM (Organização Meteorológica Mundial) indicou que a taxa de aumento médio do nível global do mar dobrou entre a década de 1993 e a década encerrada em 2022, o que representa um recorde.

Além disso, 58% da superfície do oceano experimentou ao menos uma onda de calor marinho em 2022. Esse número também ultrapassou os anos anteriores.

A ONU (Organização das Nações Unidas) alertou que o aumento do nível do mar significa uma sentença de morte para os países mais vulneráveis a esse crescimento. Quase 900 milhões de pessoas vivem em áreas costeiras baixas. "Comunidades baixas e países inteiros poderiam desaparecer, o mundo testemunharia um êxodo em massa de populações inteiras em escala bíblica e a competição por água doce, terra e outros recursos se tornaria cada vez mais acirrada", afirmou o secretário-geral da ONU, António Guterres.

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