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UE e África lançam força-tarefa para 'proteger' imigrantes

29/11/2017 20h09

BRUXELAS, 29 NOV (ANSA) - Após as denúncias de que imigrantes estão sendo vendidos como escravos na Líbia, a União Europeia, a União Africana e a Organização das Nações Unidas (ONU) anunciaram nesta quarta-feira (29) a criação de uma "força-tarefa" para proteger as pessoas ao longo das rotas migratórias.   

A decisão foi tomada durante uma reunião entre o secretário-geral da ONU, António Guterres, o presidente da Comissão da UA, Moussa Faki, o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, e a alta representante para Política Externa da UE, Federica Mogherini.   

Os quatro se encontraram durante a 5ª Cúpula UE-África, que acontece em Abidjan, maior cidade da Costa do Marfim, e reúne os principais líderes dos dois blocos. O trabalho da força-tarefa será coordenado com as autoridades da Líbia para acelerar a realocação de solicitantes de refúgio e a repatriação voluntária de imigrantes sem direito a proteção internacional.   

O presidente da Nigéria, Muhammadu Buhari, por exemplo, já afirmou que todos os cidadãos de seu país bloqueados em solo líbio e em qualquer parte do mundo serão repatriados e "reabilitados". "É chocante que alguns nigerianos tenham sido vendidos em leilão como cabras por poucos dólares na Líbia", disse.   

Além disso, a iniciativa intensificará a colaboração entre todas as partes envolvidas para desmantelar as redes de traficantes de seres humanos que atuam na Líbia e contribuir para o desenvolvimento dos países de origem dos imigrantes.   

Os fluxos migratórios entre UE e África nascem nas nações subsaarianas, passam pela Líbia, cruzam o Mediterrâneo e chegam à Itália. Entre 1º de janeiro e 29 de novembro de 2017, 117.042 pessoas realizaram a travessia, número 32,23% menor que o registrado no mesmo período do ano passado, segundo o Ministério do Interior italiano.   

Boa parte dessa queda se deve ao acordo para o país europeu treinar e equipar a Guarda Costeira da Líbia, capacitando-a para realizar resgates no Mediterrâneo. Com isso, as pessoas socorridas no mar são levadas de volta para a nação africana, desestimulando novas travessias.   

No entanto, essa estratégia evidenciou algo que já estava claro desde a assinatura do pacto, em fevereiro: as dificuldades das autoridades da Líbia, um país fragmentado desde a queda de Muammar Kadafi, para administrar grandes fluxos migratórios.   

São frequentes as denúncias de violações dos direitos humanos em campos de acolhimento na nação e de vendas de imigrantes da África Subsaariana como escravos, como foi flagrado pela emissora "CNN" em outubro passado.   

Na Itália, contudo, a estratégia é celebrada. "Exprimo satisfação pelos resultados extraordinários dos últimos meses para reduzir os fluxos migratórios irregulares nas mãos dos traficantes. Os números são impressionantes. De julho a novembro, passamos dos 102.786 de 2016 para os 33.288 de 2017", disse o primeiro-ministro Paolo Gentiloni, presente na cúpula em Abidjan. Os marfinenses formam o terceiro maior contingente de migrantes forçados que desembarcam em solo italiano, com 9.324 pessoas, atrás de nigerianos (18.049) e guineanos (9.604) - os três países ficam na África Subsaariana, também conhecida como "África Negra".   

"Cabeça erguida" - Gentiloni encerrou na Costa do Marfim uma viagem de quatro dias pelo continente, que incluiu também Tunísia, Angola e Gana, onde a questão migratória dominou a pauta. "A Itália fez sua parte, com orgulho e cabeça erguida", afirmou.   

Além disso, ele celebrou o fato de a cúpula entre UE e UA ter envolvido os países africanos no combate à crise migratória. "O caminho está traçado, é preciso colocar a mão no bolso, porque não é possível que [as medidas] sejam financiadas apenas por Itália, Alemanha e União Europeia", acrescentou o premier, em recado direto aos países do leste europeu - Hungria, República Tcheca, Eslováquia e Polônia - que se recusam a apoiar as políticas migratórias do bloco.   

"Cada um precisa fazer sua parte nesta estrada aberta pela Itália", disse. (ANSA)
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