Análise/A batalha entre Itália e França por predomínio na UE
PARIS, 25 JAN (ANSA) - Por Lucas Rizzi - As vizinhas Itália e França, segunda e terceira maiores economias da zona do euro e países fundadores da União Europeia, protagonizam uma batalha retórica e política em busca de predomínio no bloco.
Aliadas de longa data, Roma e Paris viram suas relações bilaterais azedarem a partir de 1º de junho, data que marcou a chegada do populismo ao poder na Itália.
Ao entrar no Palácio Chigi, sede do governo, o antissistema Movimento 5 Estrelas (M5S) e a ultranacionalista Liga olharam para o noroeste e viram um Emmanuel Macron já impopular e que sofria para implantar o liberalismo social que derrotara o extremismo de Marine Le Pen um ano antes.
Desde então, o presidente da França se tornou o alvo favorito dos vice-primeiros-ministros italianos, Matteo Salvini (Liga) e Luigi Di Maio (M5S). "Senhorzinho que se excede no champanhe" e "hipócrita" foram apenas alguns dos epítetos usados pelos dois líderes para definir Macron, um defensor contumaz da União Europeia que Salvini e Di Maio sempre quiseram ver pelas costas.
A polêmica mais recente entre os países diz respeito ao desejo do governo italiano de obter a extradição de "terroristas" espalhados pelo mundo. Desde a prisão de Cesare Battisti, há pouco mais de 10 dias, Salvini vem insistindo para a França entregar criminosos foragidos da Justiça italiana e chegou até a comparar Macron com Jair Bolsonaro.
Em uma mensagem no Twitter, o ministro citou uma declaração na qual o presidente afirma que o Brasil "não será mais refúgio de bandidos na capa de presos políticos", em clara referência a Battisti. "Aprecio as palavras do presidente brasileiro, a quem agradeço mais uma vez pela colaboração mostrada no caso Battisti. A Itália espera uma declaração idêntica também da parte de Macron", atacou Salvini. Além disso, fontes do Ministério da Justiça afirmaram ter enviado à França "pedidos de extradição de todos os foragidos localizados no país".
A resposta de Paris chegou na última quinta-feira (24), por meio do porta-voz do Ministério da Justiça francês, Youssef Badr. Em entrevista à ANSA, ele garantiu que o governo não recebeu "nenhuma nova solicitação oficial de extradição por parte das autoridades italianas".
Eleições europeias - A polêmica acontece no âmbito da crescente batalha retórica movida pela Itália, que busca criar um antagonismo com a França dentro da União Europeia, em vista das eleições para renovar o Parlamento do bloco, entre 23 e 26 de maio.
A expectativa de Salvini é capitanear um crescimento inédito de forças ultranacionalistas dentro da UE, aliando-se à francesa Marine Le Pen e a outros movimentos de extrema direita na Europa. Macron, por sua vez, acaba de assinar com a Alemanha um tratado de claro viés europeísta e depende de um bom desempenho de seu partido em maio para se fortalecer internamente e em Bruxelas - principalmente em função da aposentadoria de Angela Merkel, prevista para 2021.
Além de Salvini, o presidente da França tem sido alvo da retórica inflamada de Di Maio, que o acusou de provocar a crise migratória no Mediterrâneo ao "explorar" a África. Os dois vice-primeiros-ministros também já demonstraram apoio explícito ao movimento dos "coletes amarelos", que tenta derrubar Macron.
O próprio chanceler italiano, Enzo Moavero, reconheceu nesta semana que tal retórica fará parte do debate das eleições europeias. "Devemos nos acostumar com esses tons", disse.
África e comércio - Um dos teatros do embate Paris-Roma é a Líbia, país que passou por um processo de fragmentação após a queda de Muammar Kadafi e que hoje possui dois governos estabelecidos: o de Trípoli, chefiado pelo primeiro-ministro Fayez al Sarraj, e o de Tobruk, do general Khalifa Haftar.
Enquanto a Itália está do lado de Sarraj e tem uma parceria para treinar a Guarda Costeira líbia, Macron busca legitimar Haftar como comandante da principal força armada do país. As duas nações europeias já realizaram conferências internacionais sobre a crise líbia, um dos vetores da emergência migratória no Mediterrâneo, mas o general boicotou aquela organizada pela Itália.
Roma e Paris também protagonizam batalhas comerciais que envolvem alguns de seus principais grupos industriais. Em uma delas, a empresa francesa Vivendi tenta recuperar o controle da operadora de telefonia italiana TIM, do qual foi alijada com ajuda do governo italiano.
Em outra, a França busca impedir a estatal Fincantieri de assumir o comando do estaleiro Chantiers de l'Atlantique (STX).
Macron, até o momento, tem se mantido afastado da batalha retórica, deixando a linha de frente para seus ministros, mas já se autoproclamou o "principal opositor" dos nacionalistas na União Europeia. (ANSA)Veja mais notícias, fotos e vídeos em www.ansabrasil.com.br.
Aliadas de longa data, Roma e Paris viram suas relações bilaterais azedarem a partir de 1º de junho, data que marcou a chegada do populismo ao poder na Itália.
Ao entrar no Palácio Chigi, sede do governo, o antissistema Movimento 5 Estrelas (M5S) e a ultranacionalista Liga olharam para o noroeste e viram um Emmanuel Macron já impopular e que sofria para implantar o liberalismo social que derrotara o extremismo de Marine Le Pen um ano antes.
Desde então, o presidente da França se tornou o alvo favorito dos vice-primeiros-ministros italianos, Matteo Salvini (Liga) e Luigi Di Maio (M5S). "Senhorzinho que se excede no champanhe" e "hipócrita" foram apenas alguns dos epítetos usados pelos dois líderes para definir Macron, um defensor contumaz da União Europeia que Salvini e Di Maio sempre quiseram ver pelas costas.
A polêmica mais recente entre os países diz respeito ao desejo do governo italiano de obter a extradição de "terroristas" espalhados pelo mundo. Desde a prisão de Cesare Battisti, há pouco mais de 10 dias, Salvini vem insistindo para a França entregar criminosos foragidos da Justiça italiana e chegou até a comparar Macron com Jair Bolsonaro.
Em uma mensagem no Twitter, o ministro citou uma declaração na qual o presidente afirma que o Brasil "não será mais refúgio de bandidos na capa de presos políticos", em clara referência a Battisti. "Aprecio as palavras do presidente brasileiro, a quem agradeço mais uma vez pela colaboração mostrada no caso Battisti. A Itália espera uma declaração idêntica também da parte de Macron", atacou Salvini. Além disso, fontes do Ministério da Justiça afirmaram ter enviado à França "pedidos de extradição de todos os foragidos localizados no país".
A resposta de Paris chegou na última quinta-feira (24), por meio do porta-voz do Ministério da Justiça francês, Youssef Badr. Em entrevista à ANSA, ele garantiu que o governo não recebeu "nenhuma nova solicitação oficial de extradição por parte das autoridades italianas".
Eleições europeias - A polêmica acontece no âmbito da crescente batalha retórica movida pela Itália, que busca criar um antagonismo com a França dentro da União Europeia, em vista das eleições para renovar o Parlamento do bloco, entre 23 e 26 de maio.
A expectativa de Salvini é capitanear um crescimento inédito de forças ultranacionalistas dentro da UE, aliando-se à francesa Marine Le Pen e a outros movimentos de extrema direita na Europa. Macron, por sua vez, acaba de assinar com a Alemanha um tratado de claro viés europeísta e depende de um bom desempenho de seu partido em maio para se fortalecer internamente e em Bruxelas - principalmente em função da aposentadoria de Angela Merkel, prevista para 2021.
Além de Salvini, o presidente da França tem sido alvo da retórica inflamada de Di Maio, que o acusou de provocar a crise migratória no Mediterrâneo ao "explorar" a África. Os dois vice-primeiros-ministros também já demonstraram apoio explícito ao movimento dos "coletes amarelos", que tenta derrubar Macron.
O próprio chanceler italiano, Enzo Moavero, reconheceu nesta semana que tal retórica fará parte do debate das eleições europeias. "Devemos nos acostumar com esses tons", disse.
África e comércio - Um dos teatros do embate Paris-Roma é a Líbia, país que passou por um processo de fragmentação após a queda de Muammar Kadafi e que hoje possui dois governos estabelecidos: o de Trípoli, chefiado pelo primeiro-ministro Fayez al Sarraj, e o de Tobruk, do general Khalifa Haftar.
Enquanto a Itália está do lado de Sarraj e tem uma parceria para treinar a Guarda Costeira líbia, Macron busca legitimar Haftar como comandante da principal força armada do país. As duas nações europeias já realizaram conferências internacionais sobre a crise líbia, um dos vetores da emergência migratória no Mediterrâneo, mas o general boicotou aquela organizada pela Itália.
Roma e Paris também protagonizam batalhas comerciais que envolvem alguns de seus principais grupos industriais. Em uma delas, a empresa francesa Vivendi tenta recuperar o controle da operadora de telefonia italiana TIM, do qual foi alijada com ajuda do governo italiano.
Em outra, a França busca impedir a estatal Fincantieri de assumir o comando do estaleiro Chantiers de l'Atlantique (STX).
Macron, até o momento, tem se mantido afastado da batalha retórica, deixando a linha de frente para seus ministros, mas já se autoproclamou o "principal opositor" dos nacionalistas na União Europeia. (ANSA)
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