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Papa inicia trabalhos do Sínodo da Amazônia e cobra respeito aos índios

Cardeal italiano Lorenzo Baldisseri e o Papa Francisco durante a abertura dos trabalhos do Sínodo dos Bispos para a Região Pan-Amazônica - Andreas Solaro/AFP
Cardeal italiano Lorenzo Baldisseri e o Papa Francisco durante a abertura dos trabalhos do Sínodo dos Bispos para a Região Pan-Amazônica Imagem: Andreas Solaro/AFP

Cidade do Vaticano

07/10/2019 08h51

O Papa Francisco deu início hoje aos trabalhos do Sínodo dos Bispos para a Região Pan-Amazônica, que durante três semanas discutirá temas ligados à maior floresta tropical do planeta.

A missa de abertura da assembleia foi realizada ontem na Basílica de São Pedro, Vaticano, mas as discussões começaram apenas nesta segunda. Antes do início, o líder católico liderou uma procissão de sacerdotes, indígenas e outros fiéis da Basílica de São Pedro ao plenário do Sínodo, em um ato repleto de canoas, pagaias (um tipo de remo) e cartazes em defesa da Amazônia.

"Devemos nos aproximar dos povos amazônicos na ponta dos pés, respeitando sua história, sua cultura, seu estilo de bem viver", disse o Papa na abertura da assembleia. O Pontífice também pediu "prudência nas informações" que serão passadas para fora, lembrando que haverá um serviço de briefing para a imprensa.

O evento deve discutir novas formas de evangelização dos povos amazônicos e a criação de uma "ecologia integral" que garanta a preservação da floresta, em linha com a "Louvado seja", encíclica ambiental de Francisco.

"Um processo como o Sínodo pode ser um pouco afetado se cada um disser o que pensa ao sair da sala. Informações dadas com imprudência levam a equívocos", acrescentou. Jorge Bergoglio ainda alertou que os padres e bispos não foram ao Vaticano para "inventar programas de desenvolvimento social ou de tutela das culturas como se elas fossem um museu".

"Isso não respeitaria a realidade de um povo, que deve ser soberana", declarou. Além disso, pediu respeito às roupas e aos costumes dos povos indígenas. "Fiquei triste com um comentário de brincadeira sobre um senhor que tinha plumas no chapéu. Qual é a diferença entre as plumas e os tricórnios que alguns oficiais usam em nossos dicastérios?", questionou.

Discussão

O Sínodo acontece até o dia 27 de outubro e tem como relator o cardeal brasileiro e arcebispo emérito de São Paulo, Cláudio Hummes.

Em seu primeiro pronunciamento na assembleia, Hummes lembrou que a Amazônia sofre com uma "carência de presbíteros" que leva à ausência dos sacramentos, como a Eucaristia.

"As comunidades indígenas nos pediram que - embora confirmando o valor do celibato na Igreja -, frente à necessidade da maior parte das comunidades católicas na Amazônia, se abra caminho à ordenação sacerdotal de homens casados residentes na comunidade", disse o brasileiro.

A proposta de ordenar homens casados - preferivelmente indígenas - como padres é motivo de oposição na Igreja Católica e gerou até acusações de heresia por parte de bispos ultraconservadores, como o cardeal americano Raymond Burke.

O Sínodo também discutirá formas de aumentar o papel das mulheres na vida da igreja amazônica. Hummes ainda denunciou que a floresta está "cada vez mais ameaçada por interesses econômicos e políticos dos setores dominantes da sociedade".

O cardeal apontou o dedo contra "empresas que extraem de modo predatório e irresponsável - legal ou ilegalmente - as riquezas do subsolo e alteram a biodiversidade, frequentemente com a conivência ou a permissividade de governos locais e nacionais, e às vezes até com o consenso de algumas autoridades indígenas".

Segundo Hummes, o Sínodo também deve tratar de questões como o assassinato de líderes ambientalistas, megaprojetos de infraestrutura e a violência contra as mulheres.