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Greve geral na França contra reforma da previdência tem confrontos

Em Paris

05/12/2019 12h05

A França enfrenta uma greve geral hoje contra o projeto de reforma da Previdência defendido pelo governo do presidente Emmanuel Macron. A greve teve protestos contra a polícia em diversas cidades, com manifestantes usando rojões e as autoridades lançando bombas de gás em alguns locais.

A paralisação atinge os serviços de transporte, como trens e aeroportos, além de escolas, hospitais, coleta de lixo e até a Torre Eiffel, símbolo da capital, Paris. Ao todo, estavam agendadas 250 manifestações pelo país. Os atos contam com o apoio de partidos da oposição e do movimento dos "coletes amarelos".

De acordo com o Palácio do Eliseu, Macron está "calmo e determinado a conduzir a reforma, ouvindo as demandas e fazendo consultas". O governo também informou que o primeiro-ministro Édouard Philippe se "expressará na metade da semana que vem sobre a arquitetura geral da reforma", dando mais detalhes sobre o projeto.

A proposta pretende instituir um sistema previdenciário único de pontos para substituir os 42 regimes atuais (regime geral, de funcionários públicos, privados, autônomos e complementares).

O governo, que não fala em alterar a idade mínima para aposentadoria, promete um sistema mais justo e equilibrado, eliminando privilégios concedidos a apenas algumas categorias.

No novo sistema, todos os trabalhadores teriam os mesmos direitos no momento de receber a aposentadoria.

A oposição, por sua vez, alega que há risco para "precarização" dos aposentados.

França - Sebastien SALOM-GOMIS / AFP - Sebastien SALOM-GOMIS / AFP
Manifestante francês usa rojão durante a greve geral, em Nantes
Imagem: Sebastien SALOM-GOMIS / AFP

Afetados

Quase 90% das viagens dos trens de alta velocidade foram canceladas hoje, dez das 16 linhas de metrô de Paris estavam fechadas, centenas de voos foram cancelados e muitas escolas não abriram as portas.

Para evitar o caos nos transportes, muitos franceses optaram por trabalhar de casa.

"Pedi para trabalhar de casa hoje, mas espero que a greve não dure muito porque não posso fazer isto por muito tempo", declarou à AFP Diana Silavong, executiva em uma empresa farmacêutica.

Muitas pessoas decidiram caminhar de suas casas até o local de trabalho.

"Eu queria pegar uma bicicleta, mas acho que todos tiveram a mesma ideia", disse Guillaume, sorrindo, diante de uma estação de bicicletas de serviço gratuito completamente vazia em Paris. "Vou ter que seguir para o escritório a pé", acrescentou, resignado.

O caos e a desinformação também prejudicaram os turistas, muitos deles surpresos ao ver as portas do metrô fechadas. "Ontem compramos passagens e hoje não há ninguém para nos informar", disseram Pedro Marques e Ana Sampaio, dois portugueses que pretendiam visitar Montmartre.

Torre Eiffel - Gonzalo Fuentes/Reuters - Gonzalo Fuentes/Reuters
Ciclista passam em frente à Torre Eiffel, em Paris, que não abriu para visitantes nesta quinta
Imagem: Gonzalo Fuentes/Reuters

Torre Eiffel fechada

A Torre Eiffel, um dos monumentos mais populares de Paris, permanecerá fechada hoje. A equipe presente "não é suficiente para abrir o monumento em condições ótimas de segurança e acolhida ao público", informou a empresa que administra o local.

O Castelo de Versalhes aconselhou que os turistas "adiem" as visitas de hoje e amanhã.

Também era quase impossível chegar ao aeroporto Charles de Gaulle porque a linha de trem que liga Paris aos terminais funcionava de maneira parcial, apenas nos horários de pico.

A paralisação de parte dos controladores aéreos obrigou a Air France a cancelar 30% dos voos domésticos e 15% dos voos europeus. A empresa informou, no entanto, que todos os voos de longa distância serão mantidos.

A companhia britânica de baixo custo EasyJet cancelou 223 voos nacionais e internacionais de curta distância e advertiu que outras viagens podem sofrer atrasos.

Muitas escolas do país permaneceram fechadas.

"Quase 70% dos professores do ensino básico estão em greve. Os números do ensino médio são similares. Nunca havia visto algo semelhante", disse à AFP Bernadette Groison, secretária-geral do FSU, o principal sindicato dos trabalhadores do setor de ensino.

Policiais, garis, advogados, aposentados e motoristas de transportadoras, assim como os "coletes amarelos", o influente movimento social surgido em novembro de 2018 na França, aderiram à greve.

O movimento de protesto também recebeu o apoio de 182 artistas e intelectuais, entre eles o economista Thomas Piketty, autor de um 'best-seller' sobre a desigualdade, assim como dos partidos de esquerda.

Quase 250 comícios estão previstos em dezenas de cidades. Em Paris, as autoridades anunciaram a mobilização 6.000 policiais para evitar distúrbios durante uma passeata prevista para a tarde.

A indignação popular foi motivada pela reforma da Previdência preparada pelo governo de Macron, uma promessa de campanha que tem como objetivo eliminar os 42 regimes especiais que existem atualmente e que concedem privilégios a determinadas categoria profissionais.

O governo pretende estabelecer um sistema único, no qual todos os trabalhadores terão os mesmos direitos no momento de receber a aposentadoria.

Para o governo, este é um sistema mais justo e mais simples, no qual "cada euro cotado dará a todos os mesmos direitos". Porém, os sindicatos temem que o novo sistema adie a aposentadoria, atualmente aos 62 anos, e diminua o nível das pensões.

*Com informações da Ansa e da AFP