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Desculpas de Lula são inúteis, diz filho de vítima de Battisti

Lula pediu desculpas a famílias de vítimas de Battisti (foto) - Alberto Pizzoli/AFP
Lula pediu desculpas a famílias de vítimas de Battisti (foto) Imagem: Alberto Pizzoli/AFP

Em Milão

21/08/2020 11h22

O filho de uma das vítimas de Cesare Battisti, Alberto Torregiani, afirmou à ANSA que o pedido de desculpas do ex-presidente Luiz Inácio da Silva "são inúteis".

"As desculpas de Lula? Melhor tarde do que nunca. Mas, são inúteis. Agora quero ver o que diz quem havia apoiado sua decisão. Porque falar isso hoje? Para ser notícia? Terá suas motivações pessoais. Eu fico atônito. Mas, volta-se a esse caso ciclicamente. Se sobre Battisti não se fala há três meses, começo a me preocupar. Mas, nós não fazemos nada com as suas desculpas", disse Torregiani, filho de um joalheiro morto pelo terrorista.

O ex-presidente pediu desculpas às famílias das vítimas de Cesare Battisti e reconheceu o "erro" em manter o italiano no país em uma entrevista ao canal de YouTube "TV Democracia", ontem.

Explicando todo o caso, Lula disse que tomou a decisão com base no que seu então ministro Tarso Genro havia lhe falado.

"O Tarso Genro quando tomou a decisão, ele tomou a decisão porque achava que ele era inocente. O Tarso Genro me disse o seguinte: 'não dá para mandar ele embora porque ele pode ser detonado na Itália e ele é inocente'. Toda a esquerda brasileira, todo mundo defendia que o Battisti ficasse aqui", disse aos jornalistas.

"Eu nunca estive com o Battisti. Ele nunca me procurou porque talvez eu não fosse um revolucionário como ele achava. Por isso, me ative naquilo que meu ministro disse que ele era inocente, que não tinha provas da culpabilidade", acrescentou.

No entanto, quando o italiano foi extraditado para a Itália, fato que ocorreu em 2019, ele confessou que cometeu os quatro assassinatos que era acusado enquanto fazia parte do grupo terrorista Proletários Armados pelo Comunismo (PAC) na década de 1970.

"Quando ele foi preso e ele confessa foi uma frustração, foi uma frustração para mim porque ele comprometeu um governo que tinha uma relação extraordinária, que ainda tenho, com toda a esquerda italiana, com a esquerda europeia, e ele não precisaria ter mentido, pelo menos, para quem o estava querendo aqui. Porque a base da amizade na política é você não prejudicar um amigo. Você cometeu um crime, o advogado vai saber como defender. Porque não dá para mentir para os amigos", disse Lula.

O caso

Battisti chegou ao Brasil em 2004 após fugir da França, que havia autorizado sua extradição para a Itália após anos vivendo em território francês. Em 2007, ele foi detido no Rio de Janeiro e, dois anos depois, Genro concedeu o status de refugiado para o italiano.

No entanto, o Supremo Tribunal Federal (STF) anulou o benefício, mas reconheceu que a decisão sobre o caso devia ser tomada pelo presidente da República - fato que aconteceu no dia 31 de dezembro de 2010.

Oito anos depois, já no governo de Michel Temer, a Presidência revogou o status de refugiado e, pouco depois, o STF determinou uma nova prisão de Battisti. Com a determinação, ele fugiu novamente, dessa vez para a Bolívia, onde foi preso em janeiro de 2019 e extraditado para a Itália menos de 24 horas depois da detenção.

Atualmente, Battisti cumpre penas de prisão perpétua em isolamento na prisão de Oristano, na Sardenha.