Em livro, papa critica 'economia selvagem' e defende Amazônia
O papa Francisco voltou a condenar o que chamou de "economia selvagem", que apareceu ainda mais durante a pandemia do novo coronavírus (Sars-CoV-2), em uma série de entrevistas para o autor e criador do movimento Slow Food, o italiano Carlo Petrini, que lançou hoje o livro "TerraFutura. Diálogos com o papa Francisco sobre ecologia integral".
"A humanidade é pisoteada por esse vírus e por tantos outros vírus que nós ajudamos a crescer. Esses vírus injustos: uma economia de mercado selvagem, uma injustiça social violenta onde as pessoas morrem como animais e vivem, também, por muitas vezes, como animais", disse em um dos trechos.
Petrini, que é um agnóstico convicto, entrevistou Francisco por três vezes entre maio de 2018 e julho de 2020 para abordar temas relacionados ao meio ambiente e como os danos causados à natureza afetam a sociedade.
Na última entrevista, o líder da Igreja Católica afirmou que a pandemia acabou colocando o tema da "exploração do trabalho" na "ordem do dia" e que "os povos acabam perdendo suas próprias identidades nas mãos dos populismos selvagens que querem 'salvá-los' com as suas ideias e doutrinas através da doutrinação".
Durante a conversa com o italiano, o Pontífice revelou que sentiu "cansaço" por conta da "insistência com que os bispos brasileiros falavam dos grandes problemas da Amazônia" durante a Conferência de Aparecida, realizada em 2007, e revelou que à época "não entendia" qual era o seu papel nessa questão.
Jorge Mario Bergoglio ainda disse que religiosos colombianos e equatorianos insistiam para adicionar questões ligadas à Amazônia no documento final do evento.
Atualmente, Francisco é uma das maiores vozes na defesa "pulmão natural do mundo", criando comissões exclusivas para a área e direcionando verbas para ajudar no combate aos crimes ambientais na região amazônica. O Papa também destaca que o mundo deve se preocupar com as comunidades indígenas que vivem na região amazônica.
"No início, eu também não entendia esses temas. Depois, quando comecei a estudar e tomei consciência, um mundo se abriu.
Acredito que é correto também dar tempo para todos entenderem, mas ao mesmo tempo, devemos nos apressar para mudar os paradigmas de nosso tempo se quisermos ter um futuro", diz um trecho da entrevista divulgada pelo portal católico Vatican News.
Francisco ainda recordou um de seus discursos, em Puerto Maldonado, em que defende o respeito à cultura dos povos indígenas.
"Todos podemos rezar da mesma maneira, mas isso destrói a biodiversidade humana, que é principalmente cultural. Todos devem rezar de acordo com sua própria cultura. E celebram os sacramentos de acordo com sua própria cultura: na Igreja existem mais de 25 ritos litúrgicos diferentes, que nasceram em diferentes culturas", pontua.
Durante as conversas, o Papa defendeu seu antecessor e disse que se "irrita quando dizem que Bento XVI é um conservador". Para Francisco, Joseph Ratzinger foi um "revolucionário" em diversos sentidos, como na condenação ao proselitismo religioso, e lembrou que o foi Bento XVI o primeiro a conversar com os Yanomamis.
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