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ONU: maior usina nuclear da Europa está em situação 'insustentável'

Usina nuclear de Zaporizhzhia, na Ucrânia, controlada por russos mas operada por ucranianos desde o início da guerra - IAEA/via REUTERS
Usina nuclear de Zaporizhzhia, na Ucrânia, controlada por russos mas operada por ucranianos desde o início da guerra Imagem: IAEA/via REUTERS

06/09/2022 12h29

A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) informou que a situação na central nuclear de Zaporizhzhia, que fica na Ucrânia, mas está sob controle militar russo, "é insustentável".

A afirmação está no relatório de 52 páginas divulgado nesta terça-feira (6) após uma missão da agência ligada à ONU fazer uma inspeção na usina.

"É a primeira vez que um conflito militar está se desenvolvendo entre as estruturas" de uma central nuclear dessas dimensões, ressalta ainda a nota.

A usina de Zaporizhzhia, a maior da Europa, está sendo operada por técnicos ucranianos desde que os militares tomaram o controle do local, no início de março, e isso também é um motivo de preocupação da AIEA.

"A equipe ucraniana que opera a usina sob a ocupação militar russa está sob constante pressão e estresse, especialmente, por conta da equipe limitada disponível", acrescenta o texto ressaltando que há grandes riscos de que uma "falha humana" ocorra a qualquer momento.

"Um incidente nuclear pode ter um sério impacto no país e para além de suas fronteiras", acrescentam os especialistas constatando in loco o que sempre disseram com base em dados remotos, de que vários episódios "violaram os princípios de segurança nuclear".

O grupo de especialistas ainda disse que "na expectativa para o fim do conflito e do restabelecimento de condições estáveis, há a necessidade urgente de medidas rápidas para evitar que um incidente nuclear seja provocado por conta dos danos físicos provocados por instrumentos militares".

24.ago.22 - Imagem de satélite mostra incêndio ao lado da usina nuclear de Zaporizhzhia - European Union, Copernicus Senti/via REUTERS - European Union, Copernicus Senti/via REUTERS
24.ago.22 - Imagem de satélite mostra incêndio ao lado da usina nuclear de Zaporizhzhia
Imagem: European Union, Copernicus Senti/via REUTERS

Por isso, a AIEA pede a "imediata criação de uma condição de segurança nuclear e de uma zona de proteção de segurança" na área da usina, que fica na cidade de Energodar, e o "fim imediato" das atividades militares para evitar "novos danos à planta e às suas estruturas".

O relatório ainda aponta que os especialistas "observaram danos em diversas áreas causados por eventos" provocados pelos conflitos, com "alguns dos danos próximos aos edifícios dos reatores".

"Os especialistas ainda observaram que alguns trabalhos de reparos já haviam sido efetuados ou estavam em andamento por alguns dos danos e notaram que novos trabalhos serão necessários para reparar todos os danos causados", pontua ainda a AIEA.

A missão da AIEA, que contava com 13 especialistas incluindo o diretor-geral, Rafael Grossi, foi à Zaporizhzhia após um acordo com a Rússia e com a Ucrânia - já que a usina não era vistoriada desde fevereiro, quando o conflito começou.

Apesar dos ataques às estradas utilizadas pelo grupo, eles conseguiram chegar em segurança na quinta-feira (1º).

Uma parte da equipe deixou o local ainda no mesmo dia e os demais membros permaneceram até a segunda-feira (5). Há ainda a possibilidade de que a presença da AIEA na planta nuclear se torne permanente.

Ucrânia e Rússia trocam constantes acusações sobre quem realiza os ataques contra a área da usina, de forma que é impossível verificar de maneira independente quem está falando a verdade.

Kiev diz que os russos transformaram o local como uma base de lançamentos e uma sede de armazenamento de armas. Moscou nega a informação e diz que ocupa a central como forma de segurança.

Fato é que a estrutura foi afetada de forma intensa nas últimas semanas, com danos em prédios anexos, de armazenamento de combustíveis e de resfriamento dos reatores. Com seis deles instalados, Zaporizhzhia só tinha dois em funcionamento desde o início da guerra, em fevereiro.

Atualmente, os russos desligaram um deles por conta dos problemas provocados por ataques militares.