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Economia pauta eleição na Argentina

21/10/2011 05h58

Seja pelo seu bom desempenho nos últimos anos ou pelos temores em relação ao futuro, a economia esteve e está no centro das campanhas eleitorais na Argentina, que no próximo domingo terá eleições para presidente e parte do Congresso Nacional.

O forte crescimento econômico registrado a partir 2003, quando o então presidente Nestor Kirchner (2003-2007) chegou à Presidência, e a acelerada expansão nos últimos anos são apontados como fatores "decisivos" para a provável reeleição da presidente Cristina Kirchner.

No encerramento de sua campanha nesta quarta-feira, Cristina disse que, se eleita, seguirá engajada em manter "crescimento econômico com justiça social".

O subsecretário de coordenação econômica do Ministério da Economia, Alejandro Robba, diz que o atual "modelo econômico é uma fórmula que deu certo e que será mantida".

"(O modelo)É baseado no mercado interno e regional, com uma maior presença do Estado e distribuição de renda", diz.

Sobre a inflação que tem assustado os argentinos, Robba reconhece que "a inflação é mais alta do que em outros países", mas diz que "ela se acomodará".

Segundo os dados do governo, a economia argentina registra uma média de crescimento anual de 7% desde 2003. Para 2001, a estimativa é crescimento de 8,3% este ano e de 5,1% em 2012.

'Oportunidade desperdiçada'

A sustentabilidade do atual modelo, que conta com grande intervenção do Estado, dividiu opiniões ao longo da campanha.

Para o ex-presidente do Banco Central, economista e deputado da oposição, Alfonso Prat-Gay, da Coalición Cívica, a Argentina está "jogando fora uma oportunidade".

"A economia cresce, mas a inflação é maquiada, o governo aumentou o gasto público e estamos jogando fora uma oportunidade para resolver problemas estruturais do país, como questões de infra-estrutura", disse Prat-Gay.

Para ele, o governo gerou uma "fantasia", graças a subsídios estatais como os dirigidos a setores como transporte público e energia elétrica, que permitiram que as tarifas fossem congeladas, apesar da inflação.

"Em algum momento o governo deverá ajustar estes números e temo que esta conta sobrará para a população", disse.

Emprego

Na visão do especialista em mercado de trabalho e área social, o economista Ernesto Kritz, da Sel Consultores, o favoritismo de Cristina está ligado aos resultados da economia.

"A partir de 2003, com o kirchnerismo, foram criados três milhões de empregos formais. Fato que explica a liderança da presidente nas pesquisas de opinião. Ou seja, ela tem apoio dos pobres, mas também da classe média", disse Kritz.

Na sua opinião, a oposição "se equivoca" ao avaliar que a provável preferência do eleitorado esteja ligada, por exemplo, "ao populismo do governo, ao consumismo e aos planos sociais" distribuídos pela atual gestão.

Kritz lembra, no entanto, que cerca de 20% da população (entre oito e dez milhões de pessoas) não consegue sair da pobreza desde 2007.

Dados contestados
Oficialmente, a pobreza atinge apenas 8,5% da população, segundo o Indec (o IBGE argentino).

Investidores e a oposição, por sua vez, acusam o governo de adulterar as estatísticas do Indec.

Outro dado contestado é da inflação, cujo índice oficial é de 10% anual.

Levantamentos realizados por governos provinciais e por consultorias privadas indicam que esse índice estaria acima dos 20% por ano.

Salários

Segundo Kritz, os salários da economia formal estão subindo acima da inflação, levando os principais sindicatos do país a apoiarem a reeleição da presidente.

"Não é só uma sensação de que as coisas melhoraram. Os trabalhadores (com carteira assinada) têm razão de sentirem esta realidade. Foram gerados mais empregos, com estabilidade, e houve aumento do crédito para o consumo", afirma.

Prat-Gay ressalta que são créditos para consumo principalmente de eletrodomésticos, mas não para a casa própria, o que indica a desconfiança no atual momento econômico.

Estudos privados, divulgados pela imprensa local, indicam que entre créditos pessoais para compras e para viagens a alta teria sido de 40% em um ano.

Fuga de capitais

Na radiografia da economia argentina, opositores apontam a fuga de capitais como um sintoma da "desconfiança" no atual modelo econômico.

"A fuga de capitais mostra que o eleitor está desconfiado", disse o economista Javier Gonzalez Fraga, candidato a vice na chapa do presidenciável da oposição, Ricardo Alfonsín.

"No primeiro semestre os argentinos compraram dólares devido ao clima eleitoral. Agora compram porque temem que o dólar possa subir depois das eleições", disse o economista Francisco Gismondi, do Banco Ciudad.

Para economistas, como Marcelo Elizondo, da consultoria DNI, a economia argentina continua dependente das exportações da soja e da saúde da economia brasileira - principal mercado para suas exportações.

"E somente depois das eleições vamos saber como o governo vai resolver desarranjos como a inflação e os subsídios ao setor público. Será então a hora da verdade", disse.