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Familiares criticam relatório final sobre queda de AF447

05/07/2012 10h49

Familiares e especialistas ouvidos pela BBC Brasil que se reuniram na manhã desta quinta-feira com os investigadores das causas do acidente com o voo AF 447 da Air France criticaram as conclusões finais do órgão sobre o ocorrido.

Segundo eles, o órgão francês não dá destaque para as falhas nos sensores de velocidade do avião no relatório, divulgado nesta quinta-feira. O conteúdo do relatório foi apresentado aos parentes das vítimas antes de ser divulgado, no início da tarde (horário francês).

O relatório diz que a queda do Airbus, que resultou na morte de todas as 228 pessoas a bordo, foi causada por uma combinação de erros humanos e falhas técnicas.

O documento afirma que o piloto automático se desligou duas horas após o início das turbulências. Em seguida houve falhas no altímetros e nos sensores de velocidade.

Seguindo os investigadores, o comandante e os co-pilotos não reagiram de maneira adequada à situação que o avião enfrentava.

Para muitos familiares e também pilotos e especialistas, o principal fator que desencadeou a tragédia foi o congelamento das sondas pitot (sensores de velocidade) em alta altitude, que provocaram a perda dos indicadores de velocidade do voo e o desligamento do piloto automático.

"O entupimento das sondas pitot por cristais de gelo não é uma pane e sim um defeito de fabricação resultante de normas de certificação obsoletas", disse o ex-piloto e especialista Gérard Arnoux.

Nelson Marinho, presidente da associação de familiares AFVV447, diz que o relatório final do BEA (Escritório de Investigações e Análises, na sigla em francês) minimiza as falhas nas sondas pitot e diz que boa parte das conclusões apontam que "os pilotos foram culpados de tudo porque não tinham treinamento adequado".

"Não foi falha humana e sim do equipamento da Airbus. Culpar o piloto é muito fácil. Esperava que a França fosse falar abertamente a verdade: que a Airbus falhou e que eles vão corrigir esse avião", diz Marinho.

Pilotos

Corinne Soulas, esposa do presidente da associação francesa de vítimas, que participou da reunião com o BEA nesta manhã, também afirma que o papel das sondas pitot na tragédia não é destacado pelo BEA em seu relatório final.

Mas, assim como Arnoux, que foi piloto de aviões Airbus durante 17 anos e comandante da Air France, ela acha que o BEA atenuou os erros dos pilotos em relação ao relatório preliminar anterior, divulgado em julho passado.

"O BEA reconhece agora que algumas falhas dos pilotos foram causadas por erros nos equipamentos, como no diretor de voo (que mostra ao piloto a rota a ser mantida), que não transmitia os dados corretos aos pilotos e por isso eles agiram daquela forma", disse Arnoux à BBC Brasil.

As conclusões técnicas do BEA divulgadas nesta quinta resultam da análise aprofundada das duas caixas pretas do avião (com parâmetros técnicos do voo e de sons da cabine) e também de equipamentos do Airbus resgatados no ano passado, como os computadores de bordo e parte da cabine de pilotagem.

O voo AF 447 da Air France caiu no Atlântico no dia 31 de maio (pelo horário brasileiro) menos de quatro horas após decolar do Rio com destino a Paris, matando 228 pessoas.

Em julho do ano passado, no terceiro relatório preliminar sobre as causas do acidente, o BEA já havia apontado falhas nas ações dos pilotos após o congelamento das sondas pitot em alta altitude, que provocaram a perda dos indicadores de velocidade do voo e o desligamento do piloto automático.

O avião perdeu a sustentação e despencou de uma altura de 11 mil metros a uma velocidade vertical de 200 Km/h. A queda do Airbus A330-200 durou apenas três minutos e meio.

A decisão do co-piloto de elevar o nariz do avião para ganhar altitude, após o início da pane e da perda de sustentação do avião, não corresponde aos procedimentos normalmente seguidos nesse caso.

Especialistas apontam que o correto seria baixar o nariz do avião para que ele recuperasse a velocidade e, dessa forma, retomasse a sua sustentação.

Mas especialistas também afirmam que a ação dos pilotos pode ter sido afetada pela perda dos indicadores de velocidade e por problemas no alarme de perda de sustentação do avião, que disparou e foi suspenso várias vezes, o que pode ter confundido os pilotos.

Muitos familiares diziam que as conclusões finais do BEA, criticado por sua falta de independência (o Estado francês é acionista da Air France e da Airbus), dariam destaque aos erros dos pilotos, o que eles contestam.

"O entupimento das sondas pitot por cristais de gelo não é uma pane e sim um defeito de fabricação resultante de normas de certificação obsoletas", diz Arnoux.