Espionagem integra lista de 10 temas polêmicos entre Brasil e EUA
Ao discursar na Assembleia Geral da ONU, Dilma Rousseff voltou a expor seu descontentamento com as revelações de que os Estados Unidos espionaram seu governo.
As denúncias, baseadas em informações divulgadas pelo ex-consultor da Agência Nacional de Segurança americana (NSA) Edward Snowden, fizeram Dilma adiar uma viagem a Washington programada para outubro.
"Jamais pode o direito à segurança dos cidadãos de um país ser garantido mediante a violação de direitos humanos fundamentais dos cidadãos de outros países", afirmou Dilma, que nesta quarta-feira permanece em Nova York e participa de um seminário sobre investimentos no Brasil.
O desentendimento quanto às denúncias de espionagem se soma a uma série de questões polêmicas na relação entre Brasil e Estados Unidos. A BBC Brasil listou outros nove pontos sensíveis no relacionamento.
Conselho de Segurança da ONU
O Brasil almeja uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU e gostaria que os Estados Unidos apoiassem seu desejo, a exemplo do que fizeram em relação à Índia quando o presidente Barack Obama visitou o país, em 2010.
Hoje, o conselho tem cinco membros permanentes (Estados Unidos, Grã-Bretanha, França, Rússia e China). O Brasil defende uma reforma para permitir a entrada de novos membros, por avaliar que a composição do órgão não reflete mais a realidade geopolítica.
Os Estados Unidos, porém, têm se recusado a apoiar publicamente o desejo brasileiro.
Programa nuclear do Irã
Ainda que as relações entre Brasil e Irã tenham esfriado desde que Dilma tomou posse, brasileiros e americanos ainda digerem um desentendimento ocorrido no governo Lula acerca do programa nuclear iraniano.
Em 2010, os americanos articulavam uma votação no Conselho de Segurança da ONU para impor uma nova rodada de sanções contra o Irã e pressioná-lo a interromper seu programa nuclear.
O Brasil e a Turquia, então, negociaram um acordo com Teerã para evitar a aplicação das sanções. Os Estados Unidos rejeitaram o acordo e pressionaram pela votação no conselho, que acabou aprovando as sanções.
Intervenções militares
Tradicionalmente crítico de intervenções armadas unilaterais, o Brasil tem criticado a disposição dos Estados Unidos de atacar a Síria, país imerso em conflito armado desde 2011.
Os planos americanos foram suspensos nas últimas semanas com o início de negociações para que o governo sírio entregue todas as suas armas químicas para serem destruídas.
Em outras ocasiões, o Brasil também criticou ações militares de que os Estados Unidos participaram, como o ataque à Líbia, em 2011, que resultou na queda do coronel Muamar Khadafi. Segundo o governo brasileiro, a intervenção na Líbia desestabilizou a região e teve consequências no Mali, onde o governo central enfrentou ofensiva de grupos rebeldes.
'Novo protecionismo' brasileiro
O governo americano tem se queixado da decisão do governo brasileiro de aumentar tarifas para produtos industriais importados e de dar incentivos fiscais a fabricantes locais.
Em conversa recente com jornalistas, o mais alto funcionário americano encarregado do comércio exterior, Michael Froman, disse que o Brasil tem criado uma "nova forma de protecionismo" com seus incentivos.
O governo brasileiro diz, porém, que as medidas não configuram protecionismo e que o Brasil tem grande deficit comercial com os Estados Unidos, por comprar dos americanos muito mais produtos do que lhes vende.
Guerra cambial
Em vários discursos nos últimos anos, Dilma criticou a estratégia com que os Estados Unidos e países europeus têm combatido a crise econômica. Segundo a presidente, as "políticas expansionistas" adotadas por americanos e europeus, com impressão de moeda e grande volume de empréstimos para estimular o consumo, prejudicam países emergentes como o Brasil.
De acordo com Dilma, a estratégia faz com que parte do dinheiro aplicado nas economias desenvolvidas se desloque para as emergentes, onde os juros mais elevados atraem investimentos de curto prazo. Isso provoca, como efeito colateral, a valorização das moedas desses países emergentes, o que prejudica as indústrias locais e desequilibra o comércio.
O ministro Guido Mantega descreveu a prática como "guerra cambial".
Já Obama diz que a impressão de dólares é uma atribuição do Banco Central americano (Fed) sobre a qual não exerce controle. Ainda assim, ele afirma que o objetivo do banco e de seu governo é fazer a economia americana crescer, o que, segundo ele, é benéfico não só para os Estados Unidos, mas para todo o mundo.
Subsídios agrícolas
Os subsídios concedidos pelo governo americano a seus produtores rurais provocam divergências entre os dois países há um bom tempo.
Em 2009, num dos últimos capítulos da disputa, o Brasil foi autorizado pela OMC (Organização Mundial do Comércio) a retaliar os Estados Unidos em US$ 829 milhões (R$ 1,8 bilhão) por conta dos subsídios aos produtores americanos de algodão. A retaliação foi adiada, porém, depois que os dois países firmaram um acordo para buscar uma solução.
A eliminação dos subsídios, porém, não depende de Obama, e sim do Congresso. Como o tema enfrenta forte resistência de vários setores, é pouco provável alguma mudança no curto prazo.
América Latina
O governo brasileiro é bastante sensível às ações dos Estados Unidos na América Latina. Um dos últimos desentendimentos veio à tona em abril, quando, após a vitória apertada do chavista Nicolás Maduro na eleição presidencial venezuelana, os Estados Unidos pediram a recontagem dos votos.
Um mês depois, ao receber Maduro em Brasília, Dilma defendeu a legitimidade de sua vitória e, em clara referência aos Estados Unidos, criticou a "ingerência externa" no país.
Brasil e Estados Unidos também têm divergência histórica quanto a Cuba. Brasília condena o embargo americano a Havana e cobra a inserção do país na OEA (Organização dos Estados Americanos). Os Estados Unidos, porém, insistem em manter o embargo e se opõem ao ingresso de Cuba no órgão, por avaliar que é preciso pressionar o governo cubano a promover reformas democráticas.
Venda de caças
Desde 2008, a empresa americana Boeing disputa com a francesa Dassault e a sueca Saab uma concorrência para a venda de 36 caças para a Força Aérea Brasileira, em negócio estimado em US$ 4 bilhões (R$ 8,8 bilhões).
O governo brasileiro exige contrapartidas - como transferência de tecnologia - do país vendedor para fechar o negócio. Em maio, o vice-presidente americano, Joe Biden, esteve no Brasil e tratou do tema com autoridades brasileiras.
Alguns analistas apostavam que, caso viajasse aos Estados Unidos em outubro, Dilma fecharia o negócio com a Boeing. Com o adiamento da visita e a nova crise, porém, o acerto segue incerto.
Investimentos em petróleo
Grandes petrolíferas americanas, tradicionalmente apoiadas pelo governo dos Estados Unidos em suas demandas, têm se queixado das regras brasileiras no setor do petróleo.
No mais recente sinal desse descontentamento, as duas maiores petrolíferas do país - a Exxon Mobil e a Chevron - abriram mão de participar do leilão para Libra, o primeiro campo do pré-sal a ser ofertado. O leilão ocorrerá no dia 21.
Segundo analistas do setor, as empresas desistiram por avaliar que faltam dados geológicos sobre os poços, pelos riscos do investimento e pelo modelo de exploração brasileiro do setor.
O modelo exige participação da de 30% da Petrobras na operação e uso de alto percentual de equipamentos nacionais na exploração dos poços.
As denúncias, baseadas em informações divulgadas pelo ex-consultor da Agência Nacional de Segurança americana (NSA) Edward Snowden, fizeram Dilma adiar uma viagem a Washington programada para outubro.
"Jamais pode o direito à segurança dos cidadãos de um país ser garantido mediante a violação de direitos humanos fundamentais dos cidadãos de outros países", afirmou Dilma, que nesta quarta-feira permanece em Nova York e participa de um seminário sobre investimentos no Brasil.
O desentendimento quanto às denúncias de espionagem se soma a uma série de questões polêmicas na relação entre Brasil e Estados Unidos. A BBC Brasil listou outros nove pontos sensíveis no relacionamento.
Conselho de Segurança da ONU
O Brasil almeja uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU e gostaria que os Estados Unidos apoiassem seu desejo, a exemplo do que fizeram em relação à Índia quando o presidente Barack Obama visitou o país, em 2010.
Hoje, o conselho tem cinco membros permanentes (Estados Unidos, Grã-Bretanha, França, Rússia e China). O Brasil defende uma reforma para permitir a entrada de novos membros, por avaliar que a composição do órgão não reflete mais a realidade geopolítica.
Os Estados Unidos, porém, têm se recusado a apoiar publicamente o desejo brasileiro.
Programa nuclear do Irã
Ainda que as relações entre Brasil e Irã tenham esfriado desde que Dilma tomou posse, brasileiros e americanos ainda digerem um desentendimento ocorrido no governo Lula acerca do programa nuclear iraniano.
Em 2010, os americanos articulavam uma votação no Conselho de Segurança da ONU para impor uma nova rodada de sanções contra o Irã e pressioná-lo a interromper seu programa nuclear.
O Brasil e a Turquia, então, negociaram um acordo com Teerã para evitar a aplicação das sanções. Os Estados Unidos rejeitaram o acordo e pressionaram pela votação no conselho, que acabou aprovando as sanções.
Intervenções militares
Tradicionalmente crítico de intervenções armadas unilaterais, o Brasil tem criticado a disposição dos Estados Unidos de atacar a Síria, país imerso em conflito armado desde 2011.
Os planos americanos foram suspensos nas últimas semanas com o início de negociações para que o governo sírio entregue todas as suas armas químicas para serem destruídas.
Em outras ocasiões, o Brasil também criticou ações militares de que os Estados Unidos participaram, como o ataque à Líbia, em 2011, que resultou na queda do coronel Muamar Khadafi. Segundo o governo brasileiro, a intervenção na Líbia desestabilizou a região e teve consequências no Mali, onde o governo central enfrentou ofensiva de grupos rebeldes.
'Novo protecionismo' brasileiro
O governo americano tem se queixado da decisão do governo brasileiro de aumentar tarifas para produtos industriais importados e de dar incentivos fiscais a fabricantes locais.
Em conversa recente com jornalistas, o mais alto funcionário americano encarregado do comércio exterior, Michael Froman, disse que o Brasil tem criado uma "nova forma de protecionismo" com seus incentivos.
O governo brasileiro diz, porém, que as medidas não configuram protecionismo e que o Brasil tem grande deficit comercial com os Estados Unidos, por comprar dos americanos muito mais produtos do que lhes vende.
Guerra cambial
Em vários discursos nos últimos anos, Dilma criticou a estratégia com que os Estados Unidos e países europeus têm combatido a crise econômica. Segundo a presidente, as "políticas expansionistas" adotadas por americanos e europeus, com impressão de moeda e grande volume de empréstimos para estimular o consumo, prejudicam países emergentes como o Brasil.
De acordo com Dilma, a estratégia faz com que parte do dinheiro aplicado nas economias desenvolvidas se desloque para as emergentes, onde os juros mais elevados atraem investimentos de curto prazo. Isso provoca, como efeito colateral, a valorização das moedas desses países emergentes, o que prejudica as indústrias locais e desequilibra o comércio.
O ministro Guido Mantega descreveu a prática como "guerra cambial".
Já Obama diz que a impressão de dólares é uma atribuição do Banco Central americano (Fed) sobre a qual não exerce controle. Ainda assim, ele afirma que o objetivo do banco e de seu governo é fazer a economia americana crescer, o que, segundo ele, é benéfico não só para os Estados Unidos, mas para todo o mundo.
Subsídios agrícolas
Os subsídios concedidos pelo governo americano a seus produtores rurais provocam divergências entre os dois países há um bom tempo.
Em 2009, num dos últimos capítulos da disputa, o Brasil foi autorizado pela OMC (Organização Mundial do Comércio) a retaliar os Estados Unidos em US$ 829 milhões (R$ 1,8 bilhão) por conta dos subsídios aos produtores americanos de algodão. A retaliação foi adiada, porém, depois que os dois países firmaram um acordo para buscar uma solução.
A eliminação dos subsídios, porém, não depende de Obama, e sim do Congresso. Como o tema enfrenta forte resistência de vários setores, é pouco provável alguma mudança no curto prazo.
América Latina
O governo brasileiro é bastante sensível às ações dos Estados Unidos na América Latina. Um dos últimos desentendimentos veio à tona em abril, quando, após a vitória apertada do chavista Nicolás Maduro na eleição presidencial venezuelana, os Estados Unidos pediram a recontagem dos votos.
Um mês depois, ao receber Maduro em Brasília, Dilma defendeu a legitimidade de sua vitória e, em clara referência aos Estados Unidos, criticou a "ingerência externa" no país.
Brasil e Estados Unidos também têm divergência histórica quanto a Cuba. Brasília condena o embargo americano a Havana e cobra a inserção do país na OEA (Organização dos Estados Americanos). Os Estados Unidos, porém, insistem em manter o embargo e se opõem ao ingresso de Cuba no órgão, por avaliar que é preciso pressionar o governo cubano a promover reformas democráticas.
Venda de caças
Desde 2008, a empresa americana Boeing disputa com a francesa Dassault e a sueca Saab uma concorrência para a venda de 36 caças para a Força Aérea Brasileira, em negócio estimado em US$ 4 bilhões (R$ 8,8 bilhões).
O governo brasileiro exige contrapartidas - como transferência de tecnologia - do país vendedor para fechar o negócio. Em maio, o vice-presidente americano, Joe Biden, esteve no Brasil e tratou do tema com autoridades brasileiras.
Alguns analistas apostavam que, caso viajasse aos Estados Unidos em outubro, Dilma fecharia o negócio com a Boeing. Com o adiamento da visita e a nova crise, porém, o acerto segue incerto.
Investimentos em petróleo
Grandes petrolíferas americanas, tradicionalmente apoiadas pelo governo dos Estados Unidos em suas demandas, têm se queixado das regras brasileiras no setor do petróleo.
No mais recente sinal desse descontentamento, as duas maiores petrolíferas do país - a Exxon Mobil e a Chevron - abriram mão de participar do leilão para Libra, o primeiro campo do pré-sal a ser ofertado. O leilão ocorrerá no dia 21.
Segundo analistas do setor, as empresas desistiram por avaliar que faltam dados geológicos sobre os poços, pelos riscos do investimento e pelo modelo de exploração brasileiro do setor.
O modelo exige participação da de 30% da Petrobras na operação e uso de alto percentual de equipamentos nacionais na exploração dos poços.
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