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Tropas francesas tentam conter luta sectária na República Centro-Africana

08/12/2013 15h45

Tropas francesas chegaram à cidade de Bossangoa na República Centro-Africana, que foi tomada pela luta entre diferentes grupos do país.

A República Centro-Africana está em conflito desde que seu presidente foi deposto em março. A luta começa a adquirir características sectárias, com milícias cristãos e muçulmanos promovendo matanças pelo país.

O presidente François Bozizé foi retirado do poder por uma aliança rebelde conhecida como Seleka. Seu líder, Michel Djotodia, assumiu o cargo de presidente.

Gangues armadas, em sua maioria ex-rebeldes da Seleka, agora controlam a maior parte do país.

A França está enviando 1.600 soldados para ajudar a acabar com o conflito, ao lado de uma força maior enviada pela União Africana.

O ministro da Defesa francês, Jean-Yves Le Drian, disse à BBC que a missão foi destinada à criar estabilidade para permitir que ajuda humanitária chegue à RCA.

O presidente da França, François Hollande, disse acreditar que a segurança pode ser restaurada dentro de seis meses.

Mas quando perguntado sobre o futuro papel de Djotodia, ele disse: "Você não pode deixar na presidência um homem que foi incapaz de resolver a questão e que deixou as coisas acontecerem."

Refugiados

Cerca de 200 militares franceses estão patrulhando Bossangoa, no norte do país..

Cerca de 30 pessoas foram mortas na cidade nos últimos três dias, e as forças de paz africanas têm se esforçado para ajudar cerca de mil civis que se refugiaram em sua base.

Estes civis, a maioria mulheres e crianças, estão amontoadas no chão empoeirado e sem abrigo, segundo relatos do correspondente da BBC Thomas Fessy.

Medicamentos básicos estão agora sendo distribuídos, mas as pessoas precisam esperar por uma trégua na luta para buscar comida e água do lado de fora, ele disse.

"Nós aceleramos nossas operações na quinta-feira para responder à violência", disse Le Drian, acrescentando que as tropas francesas estavam trabalhando com as tropas congolesas, que fazem parte da força da União Africana, em Bossangoa.

Cerca de 40 mil cristãos buscaram refúgio em torno de uma igreja em Bossangoa, que fica 300 quilômetros ao norte da capital Bangui. Aproximadamente sete mil muçulmanos estão presos em uma escola localizada do outro lado da cidade.

Ninguém passava pela avenida principal entre os dois locais no sábado de manhã, disse o correspondente.

O Secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, disse no sábado que até nove mil militares de forças de paz seriam enviadas para a República Centro-Africana, e que ele esperava que eventualmente elas se tornassem uma operação das Nações Unidas.

"Está tudo destruído"

Estima-se que 10% da população, de 4,6 milhões de pessoas, da RCA fugiram de suas casas, enquanto que mais de um milhão de pessoas precisam urgentemente de ajuda alimentar, de acordo com a ONU.

Os rebeldes, em sua maioria muçulmanos que controlam grande parte do país, foram acusados de atrocidades contra os cristãos, e combates entre milícias muçulmanas e cristãs eclodiram na capital, e em outros lugares.

Comunidades cristãs já criaram as chamadas forças de autodefesa, a maioria delas leais ao presidente deposto.

Acredita-se que o mais recente derramamento de sangue na capital começou quando milícias leais a Bozizé atacaram a cidade.

Pelo menos 394 pessoas morreram em três dias de combate na capital, diz a Cruz Vermelha.

Cerca de 600 soldados franceses estavam patrulhando as ruas da capital neste fim de semana, embora, segundo relatos, o centro da cidade ainda esteja nas mãos dos rebeldes Seleka.

Reforços franceses chegaram do vizinho ocidental Camarões no sábado e veículos blindados eram visíveis nas ruas de Bangui.

A União Africana já tem cerca de 2.500 soldados no país,e iria adicionar mais mil. Mas um comunicado no site da Presidência francesa disse que a UA decidiu estender sua força para 6 mil.

O primeiro ministro da RCA, Nicolas Tiangaye, disse que as tropas internacionais eram um bom começo, mas não eram suficientes para estabilizar o país no longo prazo.

Ele disse à BBC que a situação em seu país era tão caótica que ele não consegue falar com Djotodia desde que a violência se intensificou na quinta-feira.

"Foi tudo destruído. Precisamos restaurar a ordem para que a administração volte a trabalhar", disse Tiangaye.