Ucrânia: entenda os protestos que ocorrem há dois meses
Os líderes de oposição da Ucrânia vão se reunir com o presidente do país, Viktor Yanukovych, um dia depois das primeiras mortes registradas nos protestos na capital, Kiev, que já duram dois meses.
Um dos líderes, o ex-boxeador Vitali Klitschko, afirmou que vai liderar os manifestantes "no ataque" se as eleições antecipadas não forem convocadas.
O presidente Yanukovych, por sua vez, pediu a realização de uma sessão de emergência no Parlamento para discutir a crise política no país.
Os protestos ficaram mais violentos nos últimos dias e dois ativistas foram mortos em confrontos com a polícia em Kiev, na quarta-feira.
Promotores confirmaram que eles morreram devido a ferimentos à bala.
Os dois foram as primeiras vítimas desde que os protestos contra o governo começaram no final do mês de novembro.
As manifestações começaram depois que o presidente Viktor Yanukovych anunciou sua decisão de não assinar um acordo de cooperação com a União Europeia, que poderia, no futuro, ter a Ucrânia como um de seus membros.
A questão, no entanto, é mais complexa e tem raízes na história recente do país, nascido após a desintegração da ex-União Soviética.
O país está no meio de uma disputa de forças entre grupos que querem mais proximidade com a União Europeia e outros que têm mais afinidade com a Rússia.
Qual a gravidade da situação?
Já foram registradas duas mortes. As duas pessoas foram baleadas no acampamento dos manifestantes na Praça da Independência em Kiev, no dia 22 de janeiro, depois de três noites de confrontos.
No dia 19 de janeiro as cenas foram as piores dos últimos dois meses de demonstrações, com os manifestantes incendiando vários ônibus da polícia e outros veículos. A polícia reagiu disparando gás lacrimogêneo, balas de borracha e canhões de água.
Centenas de manifestantes e cerca de 170 policiais teriam ficado feridos na quarta-feira.
Alguns culpam um grupo nacionalista pouco conhecido por ter iniciado o confronto, o Setor Direita. Os confrontos começaram depois de uma grande manifestação pacífica contra as novas leis de segurança.
O que causou a violência?
As novas leis certamente aumentaram as tensões no país. Estas leis determinam a prisão de qualquer pessoa que bloqueie a entrada de prédios públicos e também proíbem o uso de máscaras ou capacetes durante manifestações.
Mas, o que desencadeou os protestos foi a decisão do presidente Viktor Yanukovych de não assinar um amplo acordo de parceria com a União Europeia, apesar de anos de negociação, para integrar a Ucrânia ao bloco de 28 países.
Milhares de ucranianos que eram a favor do acordo foram para as ruas da capital, exigindo que o presidente mudasse a decisão, mas ele se recusou e os protestos continuaram.
Quando a tropa de choque entrou em ação no dia 30 de novembro, as imagens dos soldados acabando com um protesto de estudantes e deixando dezenas de feridos apenas aumentou a insatisfação com o presidente e também as multidões na Praça da Independência.
As autoridades tentaram acalmar os ânimos com medidas como a suspensão do prefeito de Kiev e a libertação dos manifestantes detidos.
No dia 17 de dezembro Rússia e Ucrânia anunciaram um acordo no qual a Rússia vai comprar US$ 15 bilhões em títulos do governo ucraniano e diminuir o preço do gás russo vendido para o país.
O acordo parecia ter diminuído a tensão, mas quando uma jornalista partidária da oposição, Tetyana Chornovol, foi espancada por um grupo de desconhecidos no dia 25 de dezembro, os protestos voltaram.
As novas leis de segurança foram então aprovadas no dia 16 de janeiro e começaram a ser aplicadas no dia 22.
Quem são os manifestantes?
Os manifestantes são sobretudo de Kiev e do oeste da Ucrânia, região mais pró-Europa. Do outro lado do espectro político, os pró-Rússia vivem sobretudo no leste do país, onde o russo é a língua dominante, um resquício dos tempos da União Soviética.
Além da questão da integração com a Europa, acusações de corrupção contra integrantes do atual governo, pró-Rússia, também tem motivado os protestos.
Os três partidos de oposição no Parlamento se juntaram aos protestos. O ex-campeão de boxe Vitali Klitschko tornou-se uma das caras do movimento. Hoje ele é o líder do movimento Udar (soco, em ucraniano) e possível candidato à presidência em 2015.
A oposição também é formada por uma novidade, os ultranacionalistas, formados após a Revolução Laranja de 2004. O partido de extrema-direita Svoboda (liberdade) é liderado por Oleh Tyahnybok .
O terceiro partido também é parte da extrema-direita. O Bratstvo (irmandande) estaria por trás dos enfrentamentos com a polícia durante os protestos.
Qual é a posição da Rússia?
Para muitos analistas, Yanukovych está sob direta pressão da Rússia. O anúncio abrupto de que o acordo com a União Europeia não seria assinado veio logo após os russos ameaçarem impor sanções à Ucrânia. Logo antes da decisão, Yanukovych foi chamado de última hora para um encontro com o presidente russo Vladimir Putin, em Moscou.
Durante as negociações, a Rússia impôs checagens mais rigorosas na fronteira e chegou a bloquear a importação de produtos ucranianos.
Para analistas, a reação russa foi um recado para Yanukovych, caso ele viesse a assinar o acordo. A Ucrânia tem fortes laços econômicos com a Rússia e depende do gás russo. Boa parte das exportações do país também tem a Rússia como destino.
Yanukovych, eleito democraticamente em 2010, tem sua base no leste da Ucrânia. Dos dois lados da fronteira, os laços com a Rússia são considerados cruciais. Daí o acordo haver se tornado uma disputa por influência na Ucrânia.
Como os outros países reagiram?
A União Europeia afirmou que as mortes dos manifestantes causaram choque e pediu que todos os envolvidos acabassem com a violência. José Manuel Durão Barroso, presidente da Comissão Europeia, afirmou que o relacionamento do bloco com a Ucrânia precisará ser revisto.
A posição oficial dos europeus em relação ao acordo suspenso em novembro é que a porta continua aberta para a Ucrania, mas as negociações por enquanto estão suspensas.
A Embaixada dos Estados Unidos em Kiev cancelou os vistos de "vários ucranianos envolvidos com a violência dos últimos dias".
União Europeia e Estados Unidos são contra as novas leis de segurança do país.
O que acontece agora?
O presidente Yanukovych, que foi eleito democraticamente em 2010, ainda tem muito apoio no leste e sul do país, e já ocorreram manifestações de apoio ao governo nestas regiões.
Ele estabeleceu uma comissão especial para se reunir com representantes da oposição mas ainda não se sabe se isto será o bastante para evitar um aumento da violência.
Enquanto isso, a oposição ainda luta para encontrar um líder que consiga unir todos os partidos.
Um dos líderes, o ex-boxeador Vitali Klitschko, afirmou que vai liderar os manifestantes "no ataque" se as eleições antecipadas não forem convocadas.
O presidente Yanukovych, por sua vez, pediu a realização de uma sessão de emergência no Parlamento para discutir a crise política no país.
Os protestos ficaram mais violentos nos últimos dias e dois ativistas foram mortos em confrontos com a polícia em Kiev, na quarta-feira.
Promotores confirmaram que eles morreram devido a ferimentos à bala.
Os dois foram as primeiras vítimas desde que os protestos contra o governo começaram no final do mês de novembro.
As manifestações começaram depois que o presidente Viktor Yanukovych anunciou sua decisão de não assinar um acordo de cooperação com a União Europeia, que poderia, no futuro, ter a Ucrânia como um de seus membros.
A questão, no entanto, é mais complexa e tem raízes na história recente do país, nascido após a desintegração da ex-União Soviética.
O país está no meio de uma disputa de forças entre grupos que querem mais proximidade com a União Europeia e outros que têm mais afinidade com a Rússia.
Qual a gravidade da situação?
Já foram registradas duas mortes. As duas pessoas foram baleadas no acampamento dos manifestantes na Praça da Independência em Kiev, no dia 22 de janeiro, depois de três noites de confrontos.
No dia 19 de janeiro as cenas foram as piores dos últimos dois meses de demonstrações, com os manifestantes incendiando vários ônibus da polícia e outros veículos. A polícia reagiu disparando gás lacrimogêneo, balas de borracha e canhões de água.
Centenas de manifestantes e cerca de 170 policiais teriam ficado feridos na quarta-feira.
Alguns culpam um grupo nacionalista pouco conhecido por ter iniciado o confronto, o Setor Direita. Os confrontos começaram depois de uma grande manifestação pacífica contra as novas leis de segurança.
O que causou a violência?
As novas leis certamente aumentaram as tensões no país. Estas leis determinam a prisão de qualquer pessoa que bloqueie a entrada de prédios públicos e também proíbem o uso de máscaras ou capacetes durante manifestações.
Mas, o que desencadeou os protestos foi a decisão do presidente Viktor Yanukovych de não assinar um amplo acordo de parceria com a União Europeia, apesar de anos de negociação, para integrar a Ucrânia ao bloco de 28 países.
Milhares de ucranianos que eram a favor do acordo foram para as ruas da capital, exigindo que o presidente mudasse a decisão, mas ele se recusou e os protestos continuaram.
Quando a tropa de choque entrou em ação no dia 30 de novembro, as imagens dos soldados acabando com um protesto de estudantes e deixando dezenas de feridos apenas aumentou a insatisfação com o presidente e também as multidões na Praça da Independência.
As autoridades tentaram acalmar os ânimos com medidas como a suspensão do prefeito de Kiev e a libertação dos manifestantes detidos.
No dia 17 de dezembro Rússia e Ucrânia anunciaram um acordo no qual a Rússia vai comprar US$ 15 bilhões em títulos do governo ucraniano e diminuir o preço do gás russo vendido para o país.
O acordo parecia ter diminuído a tensão, mas quando uma jornalista partidária da oposição, Tetyana Chornovol, foi espancada por um grupo de desconhecidos no dia 25 de dezembro, os protestos voltaram.
As novas leis de segurança foram então aprovadas no dia 16 de janeiro e começaram a ser aplicadas no dia 22.
Quem são os manifestantes?
Os manifestantes são sobretudo de Kiev e do oeste da Ucrânia, região mais pró-Europa. Do outro lado do espectro político, os pró-Rússia vivem sobretudo no leste do país, onde o russo é a língua dominante, um resquício dos tempos da União Soviética.
Além da questão da integração com a Europa, acusações de corrupção contra integrantes do atual governo, pró-Rússia, também tem motivado os protestos.
Os três partidos de oposição no Parlamento se juntaram aos protestos. O ex-campeão de boxe Vitali Klitschko tornou-se uma das caras do movimento. Hoje ele é o líder do movimento Udar (soco, em ucraniano) e possível candidato à presidência em 2015.
A oposição também é formada por uma novidade, os ultranacionalistas, formados após a Revolução Laranja de 2004. O partido de extrema-direita Svoboda (liberdade) é liderado por Oleh Tyahnybok .
O terceiro partido também é parte da extrema-direita. O Bratstvo (irmandande) estaria por trás dos enfrentamentos com a polícia durante os protestos.
Qual é a posição da Rússia?
Para muitos analistas, Yanukovych está sob direta pressão da Rússia. O anúncio abrupto de que o acordo com a União Europeia não seria assinado veio logo após os russos ameaçarem impor sanções à Ucrânia. Logo antes da decisão, Yanukovych foi chamado de última hora para um encontro com o presidente russo Vladimir Putin, em Moscou.
Durante as negociações, a Rússia impôs checagens mais rigorosas na fronteira e chegou a bloquear a importação de produtos ucranianos.
Para analistas, a reação russa foi um recado para Yanukovych, caso ele viesse a assinar o acordo. A Ucrânia tem fortes laços econômicos com a Rússia e depende do gás russo. Boa parte das exportações do país também tem a Rússia como destino.
Yanukovych, eleito democraticamente em 2010, tem sua base no leste da Ucrânia. Dos dois lados da fronteira, os laços com a Rússia são considerados cruciais. Daí o acordo haver se tornado uma disputa por influência na Ucrânia.
Como os outros países reagiram?
A União Europeia afirmou que as mortes dos manifestantes causaram choque e pediu que todos os envolvidos acabassem com a violência. José Manuel Durão Barroso, presidente da Comissão Europeia, afirmou que o relacionamento do bloco com a Ucrânia precisará ser revisto.
A posição oficial dos europeus em relação ao acordo suspenso em novembro é que a porta continua aberta para a Ucrania, mas as negociações por enquanto estão suspensas.
A Embaixada dos Estados Unidos em Kiev cancelou os vistos de "vários ucranianos envolvidos com a violência dos últimos dias".
União Europeia e Estados Unidos são contra as novas leis de segurança do país.
O que acontece agora?
O presidente Yanukovych, que foi eleito democraticamente em 2010, ainda tem muito apoio no leste e sul do país, e já ocorreram manifestações de apoio ao governo nestas regiões.
Ele estabeleceu uma comissão especial para se reunir com representantes da oposição mas ainda não se sabe se isto será o bastante para evitar um aumento da violência.
Enquanto isso, a oposição ainda luta para encontrar um líder que consiga unir todos os partidos.
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