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Búfalos, porcos e galinhas também aguardam resgate no Nepal

World Animal Protection/Divulgação
Imagem: World Animal Protection/Divulgação

Fernando Duarte

Da BBC Brasil, em Londres

28/04/2015 17h14

A ONG tem como preocupação específica o bem-estar de animais em zonas de desastre

Uma equipe de resgate iniciará na quinta-feira (30) seu trabalho assistencial no Nepal, país atingido no sábado por um terremoto de magnitude 7,8 que até agora matou mais de 5.000 pessoas.

Pode parecer atraso na chegada, mas o timing é providencial: a ONG internacional World Animal Protection foca seu trabalho no bem-estar de animais em zonas de desastre.

Por isso evita cruzar o caminho dos esforços humanitários, sobretudo nas primeiras horas após terremotos ou tufões, cruciais na busca de sobreviventes.

Sacrifícios

Isso apesar de a ONG argumentar que seu trabalho tem importância direta para as vidas de pessoas afetadas por catástrofes.

"Animais são mais presentes na vida das pessoas do que muita gente imagina. Para muitas pessoas, por exemplo, são como membros da família. E num país como o Nepal, em que 70% das pessoas trabalham no setor agrícola, animais envolvidos na produção de alimentos têm uma importância fundamental para a economia", afirma o britânico James Sawyer, diretor internacional para o gerenciamento de desastres da World Animal Protection, em entrevista à BBC Brasil.

Para ilustrar a importância da empreitada, Sawyer conta uma história que presenciou durante os esforços de resgate após o terremoto que em 2005 matou mais de 85 mil pessoas na Caxemira, região disputada por Índia e Paquistão.

"Encontramos pessoas praticamente dormindo sobre a neve enquanto o que havia de abrigo estava reservado a animais e rebanhos. Quando perguntamos a razão, as pessoas simplesmente responderam que a chance de sobrevivência delas cairia drasticamente sem os animais. E este é o ponto que sempre tentamos reforçar quando pedimos apoio financeiro ou logístico. As pessoas usam os animais como moeda e também precisam deles para se alimentar ou se locomover", acrescenta.

Segundo a ONG, 30% dos rebanhos do país morreram no terremoto, mas seus veterinários salvaram 25 mil animais, de bois a cães.

A partir de quarta-feira (29), uma equipe da ONG estará no Nepal, um dos países mais pobres do mundo, para avaliar o impacto do terremoto sobre os animais.

Clínicas itinerantes serão instaladas nas principais regiões, oferecendo serviços básicos como primeiros-socorros e vacinações, já que a transmissão de doenças costuma ser uma das consequências de desastres naturais.

Diplomas

A equipe levará também suprimentos de água e rações para os animais.

Haverá ainda um trabalho de consultoria para o gerenciamento de rebanhos, algo importante no país: estima-se que mais de 85% dos cerca de 30 milhões de habitantes tenham algum tipo de criação de animal em casa --de galinhas a búfalos.

Trata-se de uma das maiores densidades populacionais animais do mundo --5,8 por domicílio.

"Para muitas famílias, a criação de animais é uma fonte importantíssima de renda", conta Sawyer.

"Em 2013, por exemplo, o furacão Haiyan arrasou partes das Filipinas e destruiu inúmeros barcos de pesca. Conheci um pescador que, mesmo depois de perder sua principal fonte de renda, conseguiu mandar a filha para a universidade porque criava porcos. Ele disse que os suínos tinham garantido o diploma da menina."