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"Vejo corpos por todos os lados": Os testemunhos da tragédia em Meca

25/09/2015 14h37

Um grande tumulto ocorrido na última quinta-feira (24) durante a peregrinação anual de Hajj, na Arábia Saudita, matou pelo menos 717 pessoas e feriu mais de 860. Foi o pior episódio do tipo em 25 anos.

Confira abaixo relatos de algumas testemunhas presentes no momento da tragédia, entre elas jornalistas da BBC.

'Vejo corpos por todos os lados' - Bashir Sa'ad Abdullahi, BBC

"Onde eu estou, aqui no centro da cidade de Mina, posso ver corpos mortos por todos os lados, envoltos em lençóis brancos. A polícia montou barricadas na área para que eu não pudesse contá-los, mas os corpos se estendem até perder de vista".

"Alguns familiares permanecem nas proximidades. Outros peregrinos chegam para ver o que aconteceu e prestar solidariedade às famílias dos mortos. Policiais impedem as pessoas de passar pela área enquanto tentam remover os corpos. Ambulâncias vão e vêm".

"Por causa da limitação do acesso, não sabemos o que as ambulâncias estão fazendo. Helicópteros sobrevoam a área onde os corpos estão sendo guardados".

'As pessoas se empurravam' - Fathima Mohamed, de Meca

"Eu estava no meio da multidão e muitas pessoas, diria nove em cada dez, estavam ali pacificamente. Mas havia muito jovens e o calor estava insuportável. As pessoas queriam fazer (a peregrinação) rapidamente, queriam terminá-la e, por causa do calor, havia muito empurra-empurra.

"Não acredito no que aconteceu. É trágico. No final do dia, teremos de levantar nossas mãos para o céu e pedir que Alá seja misericordioso conosco".

"Não havia polícia" - Lamidi Bamidele, fotógrafo do jornal "Vanguard", da Nigéria

"Estava no centro do tumulto", afirmou Bamidele ao jornal onde trabalha. "Não havia nenhum sinal (de presença) da polícia saudita e de guardas de trânsito que costumam controlar o fluxo de pessoas. Na verdade, eles só chegaram depois do tumulto. Consegui escapar sem nenhum ferimento".

'Retiramos os corpos com a polícia' - Ahmed Abu Bakr, da Líbia

"Havia uma multidão. A polícia fechou todas as entradas e as saídas do campo de peregrinos, deixando apenas uma."

"Vi corpos na minha frente, muitos deles feridos e outros sufocados. Nós retiramos as vítimas com a polícia. Eles (a polícia) não sabiam nem mesmo as ruas e os locais próximos daqui".

'As pessoas caíam no chão gritando por socorro' - Tchima Illa Issoufou, do serviço hausa da BBC

"As pessoas estavam indo na direção do local onde se jogam pedras enquanto outros estavam vindo na direção contrária. Então, tudo virou um caos e de repente as pessoas começaram a cair no chão. Havia gente da Nigéria, Níger, Chade e Senegal, entre outras nacionalidades. As pessoas se amontoavam umas sobre as outras na tentativa de encontrar um local seguro e foi por isso que algumas delas morreram."

"As pessoas cantavam o nome de Alá enquanto outras choravam, incluindo crianças. As pessoas caíam no chão pedindo por socorro mas ninguém as ajudava".

"Todo mundo parecia estar à própria sorte. O tumulto afetou, inclusive, pessoas que estavam no meu grupo. Perdi minha tia por causa do ocorrido e até agora, duas mulheres do nosso grupo -- uma mãe e uma filha -- ainda estão desaparecidas".

'Choque' - Yusuf Ibrahim Yakasai, do serviço hausa da BBC

"Uma testemunha que escapou do tumulto disse que o que realmente aconteceu foi que a segurança saudita na cena da tragédia bloqueou uma das ruas em direção à Jamarat ('apedrejamento do diabo', ritual muçulmano que consiste em jogar pedras em um pilar)"

"Tudo isso aconteceu enquanto milhares de peregrinos de diferentes países como Irã, Camarões, Gana e Níger estavam indo à Jamarat. Na medida em que aqueles que já haviam concluído o ritual voltavam pelo mesmo caminho, acabaram se chocando com quem ainda ia iniciá-lo".

"Houve um tipo de choque entre os dois grupos se movendo em direções opostas. Aqueles que estavam no meio foram os mais afetados".

'Todo mundo tentava entrar ao mesmo tempo', médico britânico, que pediu para não ser identificado

"Na noite passada, estava voltando de Muzdalifa a Jamarat com minha família no trem. Fomos um dos primeiros a chegar à estação e o trem estava atrasado. Como resultado, um grande número de pessoas se aglomerou no local. Finalmente, quando o trem chegou às 2h, a situação ficou caótica na medida em que peregrinos cansados tentavam embarcar."

"Durante o trajeto, o trem parou no meio do nada por cerca de meia hora. As pessoas ficaram agitadas e algumas delas tentaram abrir a saída de emergência porque estávamos todos sufocados devido ao calor e ao cansaço. Finalmente, chegamos a Jamarat e depois de cumprirmos o ritual das pedras fomos embora. Somente horas depois ficamos sabendo do trágico incidente que aconteceu".

"Descobri que a razão pela qual o trem atrasou foi que o rei saudita estava fazendo o Hajj e eles não queriam que ninguém entrasse em Meca. Eles pararam os trens e bloquearam as ruas. E quando ele terminou, todo mundo tentou entrar de uma vez só".

'Mais do que precauções adequadas' - Taheer Zaman de Dewsbury, do Reino Unido

"A organização das autoridades sauditas foi fantástica. Implementaram várias precauções de segurança. Fui a Meca para realizar o Hajj várias vezes nos últimos 20 anos. Dessa vez, vim para cá com a minha mulher, meu filho, minha nora e minha sogra."

"Pelo que vi nos últimos dez anos, a organização das autoridades sauditas vem sendo excelente. Não podemos culpá-las..."

"Vi um homem desmaiando por causa do calor e do cansaço e dez paramédicos correndo para acudi-lo. Em cada escada rolante havia pessoas para ajudar os peregrinos a entrar e sair do local. As precauções de segurança eram mais do adequadas. Diria que até além dos limites".