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4 perguntas para entender escalada de tensão EUA-Rússia em caso dos ciberataques

30/12/2016 12h28

A Rússia anunciou nesta sexta-feira que não vai expulsar diplomatas americanos de Moscou em represália a sanções anunciadas um dia antes pelos Estados Unidos.

Em comunicado divulgado pelo Kremlin, o presidente Vladimir Putin afirmou que "não descerá a este nível de diplomacia irresponsável".

Na quinta-feira, Washington expulsou 35 diplomatas russos, acusando a Rússia de ingerência nas eleições presidenciais por meio de ataques executados por hackers. A administração de Barack Obama anunciou medidas de sanções contra Moscou.

O Kremlin classificou como "infundadas" as acusações. A expectativa era de que, seguindo a tradição dos tempos da Guerra Fria, a Rússia expulsasse o mesmo número de diplomatas americanos.

Mas Putin surpreendeu o mundo e mandou um sinal para o presidente eleito Donald Trump de que vai esperar os movimentos do novo governo, que tomará posse no dia 20 de janeiro.

No comunicado, Putin ironiza e deseja um feliz Ano Novo a Obama, Trump e ao povo americano. Ele também convidou "os filhos de todos os diplomatas americanos na Rússia a visitarem a árvore de Natal do Kremlin".

O cancelamento das sanções contra a Rússia é juridicamente simples, especialmente com a chegada de Donald Trump à Casa Branca, no dia 20 de janeiro.

Politicamente, no entanto, as relações entre os dois países estão no seu pior nível em muitos anos.

Veja por que as relações entre Moscou e Washington chegaram a esse ponto.

1 - Por que os EUA decidiram punir a Rússia?

Investigações de várias agências de inteligência americanas, entre elas a CIA e o FBI, concluíram que hackers, supostamente ligados ao Kremlin, roubaram informações dos servidores do Comitê Nacional do Partido Democrata e do email do chefe da campanha presidencial de Hillary Clinton, John Podesta.

Estas informações foram divulgadas durante a campanha eleitoral por meio do Wikileaks com o objetivo, segundo Washington, de prejudicar Hillary e favorecer o candidato republicano, Donald Trump.

A poucos dias da convenção democrata, em julho, o vazamento de 19 mil emails e arquivos de áudios expôs os esforços dos líderes democratas para minar a campanha de Bernie Sanders, o rival de Hillary nas prévias do partido.

O presidente Barack Obama afirmou que, por suas características, os ciberataques só podiam ter sido comandados pelas mais altas esferas do governo russo.

Obama disse que todos os americanos deveriam ficar alarmados com as ações de Moscou e que os aliados dos EUA deveriam "trabalhar juntos contra os esforços da Rússia em debilitar as normas de conduta internacional e interferir em governos democráticos".

2 - Quais as provas que os EUA têm de que os ataques vieram da Rússia?

Após a notícia do vazamento dos emails e áudios, o Partido Democrata contratou a empresa CrowdStrike para investigar o caso. A companhia, que se dedica à segurança da informação, identificou dois hackers ligados às agências de espionagem militar da Rússia conhecidas pelas siglas FSB e GRU.

Eles atendem pelos codinomes Cozy Bear (Urso Fofo, em inglês) e Fancy Bear (Urso Elegante) e já eram conhecidos dos investigadores americanos.

Os dois foram identificados por causa do software malicioso (malware) utilizado em ataques anteriores, que deixa uma espécie de "impressão digital" do hacker.

Cozy Bear invadiu os servidores e roubou as informações. Fancy Bear, por sua vez, estava ligado ao vazamento de dados do Partido Democrata e de personalidades políticas americanas.

Por sua vez, o Departamento do Tesouro acusou os hackers russos Evgeny Bogachev e Aleksey Belan de atacarem empresas americanas. Eles estão na lista dos 10 hackers mais procurados pelo FBI.

Desde setembro do ano passado, o FBI vinha tentando alertar o Partido Democrata sobre uma possível invasão dos seus servidores, segundo Gordon Correra, correspondente da BBC.

A Agência Nacional de Segurança (NSA, na sigla em inglês) e seu equivalente britânico (GCHQ) compartilham informações sobre o tráfego de dados e também conseguem invadir os computadores de hackers.

3 - Em que consistem as sanções dos EUA contra a Rússia?

Ao acusar a Rússia de interferir em assuntos internos americanos, o governo de Barack Obama anunciou as seguintes medidas:

  • Trinta e cinco diplomatas russos em Washington e San Francisco foram declarados "personae non grata" e receberam um prazo de 72 horas para deixar os EUA com suas famílias. A imprensa russa afirma que os expulsos então encontrando dificuldades em achar passagens aéreas para sair dos EUA porque os voos estão lotados em função dos festejos do Ano Novo.
  • Dois complexos de prédios que estariam sendo usados pelos serviços de espionagem russos nos Estados de Nova York e Maryland serão fechados.
  • Foram ainda anunciadas sanções contra nove entidades e indivíduos, incluindo as duas agências de espionagem militar russas GRU e FSB. Estas pessoas e instituições podem ter seus bens nos EUA congelados e ficam impedidas de viajar ao país.
  • Outras sanções devem ser adotadas contra a Rússia, mas um comunicado da Casa Branca informou "que nem todas serão divulgadas".

4 - A Rússia pode rever sua posição e adotar retaliações?

Com a decisão de Putin de aguardar o novo governo americano que toma posse em 20 de janeiro, vai depender de Donald Trump. Putin deixou claro que a resposta da Rússia dependerá das atitudes do presidente eleito.

"Embora nos reservemos o direito de responder, não vamos descer a este nível de diplomacia irresponsável e vamos dar passos para ajudar a reviver as relações russo-americanas com base nas políticas adotadas pela administração de D. Trump", diz o comunicado do presidente russo.

Assim que os EUA anunciaram suas sanções à Rússia, o Kremlin prometeu uma resposta que causaria um "importante incômodo" ao governo americano.

O Ministério das Relações Exteriores da Rússia chegou a recomendar a Putin que também expulsasse 35 diplomatas americanos - 31 em Moscou e quatro em São Petersburgo.

Mas Putin preferiu não recorrer ao princípio diplomático da reciprocidade, frequentemente utilizado durante a Guerra Fria.

O primeiro-ministro russo, Dmitry Medvedev, afirmou que o governo Obama terminava "agonizando com ações contra a Rússia".