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A história de amor nascida do encontro entre um guarda de fronteira e uma refugiada

Noora Arkavazi e Bobi Dodevski se apaixonaram na fronteira da Macedônia - Bobi Dodevski e Noora Arkavazi
Noora Arkavazi e Bobi Dodevski se apaixonaram na fronteira da Macedônia Imagem: Bobi Dodevski e Noora Arkavazi

06/01/2017 13h56

Bobi Dodevski não deveria estar trabalhando no chuvoso dia de março em que conheceu sua futura mulher. Mas o guarda de fronteira da Macedônia, de 35 anos, concordou em cobrir um colega.

Entre os milhares de refugiados que esperavam atravessar a fronteira naquele dia estava Noora Arkavazi, que viajava com sua família desde o Iraque.

A jovem de 20 anos deixou sua casa em Diyala, uma província sitiada pela violência, no início de 2016. Ao lado dos pais, irmão e irmã, seguiu um caminho bem conhecido rumo ao oeste - atravessando a fronteira do Iraque para a Turquia, pegando um barco para a ilha grega de Lesbos e eventualmente entrando na Macedônia.

Enquanto a família esperava para saber se seria autorizada a cruzar a fronteira do país com a Sérvia, ela e o guarda se conheceram.

Dodevski viu algo especial em seus olhos. "Foi o destino", contou ele à BBC.

'Você está apaixonado!'

Quando o casal se encontrou, o destino dos refugiados na Macedônia estava por um fio - os países balcânicos fechavam suas portas.

"Tinha um sonho simples, viver com minha família na Alemanha", disse Arkavazi à agência de notícias AFP.

Ela fala seis línguas e, ao chegar à fronteira sentindo-se mal, foi direcionada a Dodevski por que ele falava inglês.

"A primeira vez que atravessei a fronteira, tive uma febre muito alta e caí muitas vezes. Bobi imediatamente enviou a Cruz Vermelha para me salvar."

Dodevski disse que tentou manter uma postura profissional, mas um colega rapidamente percebeu os sinais de que ele sentia algo a mais por Arkavazi.

A jovem conta que o colega de trabalho do guarda censurou sua falta de foco: "Acho que você está apaixonado, que alguém roubou seu cérebro aqui na fronteira!"

"Depois disso conversei com ele, e senti como se algo tivesse acendido em mim", contou ela. "Queria falar mais com ele."

Dodevski também disse ter sentido algo diferente.

"Vejo muitas, muitas meninas - talvez [mais bonitas], um pouco, do que Noora. Mas vi algo especial nos olhos dela e disse: 'É isso. Eu preciso que Noora fique aqui para que seja minha mulher!"

Dez pedidos de casamento

Quando se recuperou do mal-estar, Arkavazi começou a ajudar a Cruz Vermelha local.

Enquanto refugiados do campo de trânsito de Tabanovce esperavam por notícias sobre seu futuro, o guarda macedônio e a jovem iraquiana se conheciam aos poucos.

Ele levou Arkavazi e a mãe dela a mercados próximos para que comprassem roupas e comida. Ela ficou impressionada com a maneira como Dodevski brincava com os filhos dos migrantes, diferente do que ocorria com seus colegas, mais sérios.

Em um dia em abril, o casal estava jantando em um restaurante e ele ficou visivelmente nervoso - tremia e bebia muita água.

"Eu disse 'você está brincando'", conta Arkavazi. "Mas ele repetiu isso umas dez vezes: 'você quer casar comigo?'"

Ela disse sim.

O guarda, cristão ortodoxo, e a jovem, muçulmana curda, se casaram na cidade macedônia de Kumanovo, sob os olhares de 120 convidados de todas as religiões, incluindo integrantes da Cruz Vermelha.

Perguntada sobre seu noivado rápido, a iraquiana disse que foi amor à primeira vista. "Foi o que aconteceu entre mim e Bobi."

Embora sua família tenha conseguido chegar à Alemanha, ela ficou na Macedônia com seu marido e os três filhos dele. Os cinco vivem juntos em Kumanovo.

E logo serão seis. "Estou grávida, quatro meses!", contou Arkavazi, rindo.