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Publicações francesas terão 'alerta Photoshop' em imagens retocadas

Nalina Eggert - Da BBC News

30/09/2017 10h17

Não é segredo para ninguém que imagens de modelos são, quase sempre, retocadas antes de serem publicadas.

Às vezes, as mudanças são para fazê-los parecer mais magros ou para turbinar a silhueta. Na tela do computador, é possível ainda apagar celulite, alongar as pernas, suavizar a pele e deixar os olhos mais arregalados. Muitas vezes esses retoques são impecáveis e difíceis de identificar.

Por isso, a França decidiu criar um "alerta Photoshop" para qualquer imagem comercial em que a aparência corporal de uma pessoa tenha sido alterada digitalmente, em especial para fazer com que alguém pareça mais magro ou mais forte. Essas imagens devem, a partir deste domingo, exibir um alerta parecido com o estampado num maço de cigarro.

"Photographie retouchée", dirá o aviso que, em português, significa "fotografia retocada". Quem ignorar a nova regra pode ser multado em €37,5 mil euros (cerca de R$ 140 mil) ou em 30% do custo de criação do comercial.

Com a medida, o governo francês tenta conter a manipulação de imagens tratando a técnica como problema de saúde pública. Isso porque espera-se que a mudança ajude a conter a magreza extrema em modelos e distúrbios relacionados à imagem corporal entre aqueles que almejam o corpo perfeito e se inspiram nos que tiveram as fotos retocadas.

"Expor jovens a imagens normativas e irrealistas leva a uma sensação de autodepreciação e de baixa autoestima que pode afetar comportamentos relacionados à saúde", afirmou a ministra da Saúde da França, Marisol Touraine.

Culto à magreza

A França não é o primeiro país a introduzir esse tipo de regra. Algo similar já está em vigor, por exemplo, em Israel.

Mas a obsessão com a magreza tem intensificado o debate na França. Milhares de pessoas sofrem de anorexia no país que apresenta o menor índice médio de massa corporal da Europa. A medida leva em conta altura e peso para saber se uma pessoa está com o peso ideal.

Em um novo livro, a autora Gabrielle Deydier salienta que a magreza é reverenciada na França, e a gordura desprezada.

Ela conta que perdeu o emprego em uma escola depois que um colega se opôs à obesidade dela. Outra vez, numa entrevista de emprego, ficou chocada ao ouvir do empregador que era "notório" que as pessoas mais gordas tinham QI mais baixos.

Mas como um alerta em imagens retocadas pode fazer diferença na forma como as pessoas na França encaram seus corpos?

Tom Quinn, de uma organização britânica que trata de transtornos alimentares, afirma que pode ser "simplista" sugerir que olhar imagens retocadas pode causar distúrbios. Mas ele próprio admite que muita gente que se depara com imagens adulteradas pode ter baixa estima.

"Nós apoiamos qualquer medida que possa contribuir para que sociedade tenha uma visão mais saudável dos diferentes tipos de corpo e que todos estejam cientes de quais fotos foram retocadas", disse Quinn.

Para ele, o ideal é uma sociedade onde não há pressão sobre modelos e sobre o público em geral para ser o mais magro possível.

A ativista Jean Kilbourne, autora do livro "Deadly Persuasion: Why Women and Girls Must Fight the Power of Advertising" (Persuasão mortal: Por que as mulheres e as meninas devem combater o poder viciante da publicidade, em tradução livre e sem edição em português), disse: "Os anúncios vendem mais do que produtos.

"Eles vendem valores, vendem imagens, vendem conceitos de amor e sexualidade, de sucesso e, talvez o mais importante, de normalidade. Em grande medida, nos dizem quem somos e quem devemos ser"

Truques

Esta não é a única coisa que o governo francês fez recentemente para tentar combater a magreza excessiva na indústria de moda, que referência internacional.

Desde maio, modelos tiveram que mostrar um atestado médico para provar que são saudáveis, e algumas empresas proibiram modelos super magros. Mas é importante lembrar que existem outros truques do comércio além da alteração digital.

Além de certas poses e determinados ângulos, uma boa iluminação ou, simplesmente, sugar a barriga, podem fazer um modelo ficar muito diferente da realidade em um curto espaço de tempo.

Há truques tanto para parecer mais magro quanto para assegurar uma aparência mais atlética, com, por exemplo, "barriga tanquinho".

Vale ressaltar que a nova regra francesa não vale para qualquer tipo de alteração. Não abrange, por exemplo, cabelos retocados ou os casos em que manchas na pele foram removidas.

Desde quando a nova lei foi anunciada, a agência de imagens Getty proibiu as imagens retocadas de sua categoria comercial. Mas ainda é cedo para falar em uma nova tendência de exibir imagens de corpos mais reais.