Quem é o Al-Shabab, acusado de matar quase 300 pessoas no maior ataque da história da Somália
A organização extremista Al-Shabab foi apontada pelo governo da Somália como responsável pela explosão que deixou pelo menos 276 mortos e mais de 300 feridos na capital do país, Mogadício.
O ataque, que aconteceu no sábado em uma movimentada área da cidade, é o mais letal da história do país desde que o grupo surgiu, há cerca de dez anos.
A explosão foi tão forte que destruiu hotéis, edifícios do governo e restaurantes.
"Foi a maior explosão que eu já vi na vida. Destruiu toda a área", disse uma testemunha à agência de notícias AFP.
Um dos mortos foi uma estudante de medicina que colaria grau no dia seguinte.
Seu pai havia viajado a Mogadício para comparecer à solenidade, mas acabou participando de seu enterro.
"O incidente de hoje foi um ataque horrível do Al-Shabab contra civis inocentes", disse o presidente Mohamed Abdullahi Mohamed à imprensa local.
Somalis foram às ruas protestar contra o grupo e pedir doação de sangue. Os hospitais estão superlotados de feridos e há falta de medicamentos e de bolsas de sangue.
Um avião militar da Turquia chegou com ajuda médica. Horas depois, voltou ao país carregando 40 feridos.
Nenhum grupo ainda reivindicou a autoria do atentado.
O Al-Shabab, que tem ligações com a Al-Qaeda, vem realizando ataques violentos, em especial no Quênia, há anos.
A organização extremista chegou a controlar parte da Somália, mas foi expulsa das principais cidades que dominava no sul e no centro do país.
Ainda assim, o grupo permanece como uma ameaça em potencial ao governo local, que conta com o apoio da ONU (Organização das Nações Unidas) e da União Africana (UA), e a países vizinhos.
Quem é o Al-Shabab?
Al-Shabab significa 'A Juventude' em árabe. O grupo surgiu como uma ala radical da hoje extinta União das Cortes Islâmica da Somália em 2006, enquanto combatia forças etíopes que invadiram o país para apoiar o fraco governo interino.
Nas áreas sobre seu controle, impôs uma versão rígida da sharia (lei islâmica), desde o apedrejamento até a morte das mulheres acusadas de adultério, passando pelo amputamento dos acusados de roubo.
Estima-se que, atualmente, o grupo tenha de 7 mil a 9 mil combatentes, incluindo estrangeiros.
Qual é a orientação religiosa do Al-Shabab?
O Al-Shabab defende a versão wahabista do islã, inspirada pela Arábia Saudita, enquanto a maioria dos somalis segue a linha do sufismo.
Por destruir um grande número de santuários sufistas, o grupo insuflou o descontentamento popular.
Quanto da Somália o Al-Shabab controla?
O Al-Shabab foi expulso da capital do país, Mogadício, em agosto de 2011.
Apesar de ter perdido o controle das principais cidades e povoados, o grupo ainda tem influência sobre áreas rurais da Somália.
Analistas acreditam que a organização extremista vem se focando cada vez mais em táticas de guerrilha para conter o poder de fogo das forças da UA.
Mas o grupo está sob pressão de várias frentes, tanto na Somália quanto no Quênia e na Etiópia.
Em agosto deste ano, Mukhtar Robow Mansuur, porta-voz da organização e um de seus ex-líderes, se entregou ao governo da Somália e pediu aos integrantes do Al Shabab para abandonarem a organização.
Quem é o líder do Al-Shabab?
Por anos a fio, Ahmed Abdi Godane liderou o grupo. Também conhecido como Mukhtar Abu Zubair, ele era originário da região separatista da Somalilândia, ao norte do país.
Godane, uma figura reclusa que era amante de poesia e assumiu o comando do grupo, foi morto em 2014 em um ataque aéreo americano assim como seu antecessor, Moalim Aden Hashi Ayro, morto 2008.
Ahmad Umar, que também é conhecido como Abu Ubaidah e teria cerca de 40 anos, é apontado como um dos cabeças da organização. Em 2014, ele foi indicado por unanimidade entre os comandantes para liderar o Al-Shabab.
Quais foram os principais ataques do grupo?
Antes do atentado na capital da Somália, as ações do Al-Shabab que haviam recebido mais cobertura internacional foram ataques no país vizinho Quênia.
Em abril de 2015, o Al-Shabab atacou o campus de uma universidade na cidade de Garissa, no noroeste do Quênia, e deixou mais 147 estudantes mortos.
Dois anos antes, o grupo havia assumido a responsabilidade pelo ataque que deixou dezenas de mortos num shopping de Nairóbi, também no Quênia.
Anteriormente, foi responsabilizado por um ataque suicida duplo na capital de Uganda, Kampala, que matou 76 pessoas que assistiam pela televisão à final da Copa do Mundo de futebol, em 2010.
O ataque aconteceu porque Uganda - junto com o Burundi - forneceu grande parte das tropas da UA na Somália antes de o Quênia entrar no conflito.
Quem são os apoiadores do Al-Shabab?
A Eritreia é o único aliado regional, mas nega prover armas para o Al-Shabab. A Eritreia apoia o grupo para conter a influência da arquiinimiga Etiópia, de que se tornou independente em 1993.
Com o apoio dos Estados Unidos, a Etiópia enviou tropas para a Somália em 2006 para combater os islamistas. As forças etíopes se retiraram em 2009 após sofrer fortes baixas.
Num vídeo de 2012, o ex-líder da organização disse que obedecia ao comando da organização terrorista Al-Qaeda. Analistas acreditam que por anos os dois grupos atuaram juntos.
Há ainda a suspeita de que o Al-Shabab tenha ligação com outros grupos extremistas da África como o Boko Haram, da Nigéria. Contudo, não se sabe qual o nível de relacionamento do Al-Shabab com o autoproclamado Estado Islâmico.
Quais são as redes de recrutamento?
Assim como outros grupos extremistas, o Al-Shabab também usa redes sociais como o Facebook e o Twitter para recrutar combatentes e disseminar informações sobre as atividades da organização.
A editora do serviço africano da BBC, Mary Harper, afirma que o Al-Shabab é muito ativo na internet e usa vídeos com rap e imagens de campos de treinamento na tentativa de atrair seguidores.
*Esse texto foi publicado originalmente em 21 setembro de 2013 e atualizado depois do novo ataque na capital da Somália, Mogadício.
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