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Quem é Chepa, líder de cartel mexicano preso em Fortaleza

Polícia Federal cumpriu mandado de prisão expedido pelo STF - Marcos Silva/Futura Press/Estadão Conteúdo
Polícia Federal cumpriu mandado de prisão expedido pelo STF Imagem: Marcos Silva/Futura Press/Estadão Conteúdo

Alberto Najar - BBC Mundo, Cidade do México

28/12/2017 12h33Atualizada em 28/12/2017 12h57

Ele é apontado como um dos três líderes do cartel mexicano de drogas Jalisco Nova Geração (CJNG), considerado o mais violento do país. E agora está preso no Brasil.

José González Valencia, identificado pelo procurador-geral da República como operador financeiro da organização, foi detido pela Polícia Federal em uma área residencial da região metropolitana de Fortaleza, no Ceará.

Ele portava uma identidade falsa, com o nome de Jaffet Arias Becerra, e estava de férias com a família.

A prisão foi efetuada com base em um pedido de extradição do governo dos Estados Unidos, que o acusa de tráfico de drogas.

"Chepa", como é conhecido no México, também era, desde 2015, chefe de segurança de Nemesio Oseguera Cervantes, "El Mencho", principal chefe do cartel.

De acordo com a Procuradoria, González Valencia organizou alguns ataques contra corporações policiais em Jalisco, no oeste do México.

E também liderou operações para conquistar o território deixado pelo cartel dos Cavaleiros Templários, em Michoacán.

Família de traficantes

González Valencia pertence a uma família que tem tradição no tráfico de drogas no México.

O patriarca, Armando Valencia Cornelio, "El Maradona", fundou uma organização conhecida como cartel do Milênio, que operava principalmente em Michoacán e Guerrero.

O grupo enviava cocaína e maconha para os Estados Unidos, embora também tenha sido um dos primeiros a traficar drogas sintéticas.

O cartel foi praticamente extinto durante o governo do ex-presidente Vicente Fox (2000-2006), mas os filhos e irmãos do fundador permaneceram em atividade.

Um deles, Abigail González Valencia, se juntou ao cunhado, "El Mencho", para criar um novo grupo, que colaborou com o cartel de Sinaloa até 2010.

A partir desse ano, começaram a disputar com os então aliados o controle do narcotráfico em Jalisco, um dos principais centros de operação financeira do Estado de Sinaloa.

Abigail foi preso em fevereiro de 2015 - e José González Valencia ocupou então o lugar do irmão na organização, que estava em plena expansão.

Recrutamento universitário

Atualmente, o CJNG é o segundo maior cartel de tráfico de drogas no México, atrás apenas da organização Sinaloa.

De acordo com Alberto Islas, da consultoria Risk-Evaluation, o cartel recrutou engenheiros químicos e especialistas em finanças nas universidades.

Também tem jovens que falam inglês - inclusive alguns americanos - que se misturam com homens altamente violentos.

Uma combinação que permite ao grupo operar de forma eficiente, distinta da abordagem tradicional adotada por outros cartéis.

A organização transporta com rapidez as remessas de drogas sintéticas, o que reduz as perdas diante de eventuais operações das autoridades.

Além disso, investe pouco em complexos residenciais, hotéis ou empresas, como outros grupos. Os ganhos provenientes do tráfico de drogas costumam ser transferidos para paraísos fiscais.

De acordo com a agência americana de combate a drogas (DEA, na sigla em inglês), o CJNG é o cartel com crescimento mais rápido no México e mantém acordos comerciais com organizações na Ásia e na Europa.

José González Valência, que agora está preso no Brasil à espera da extradição para os Estados Unidos, é apontado como um dos responsáveis por articular esses acordos.