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O que se sabe até agora sobre o 'atentado' contra Maduro na Venezuela

4.ago.2018 - Maduro e sua esposa Cilia Flores participavam de um evento militar - Reuters
4.ago.2018 - Maduro e sua esposa Cilia Flores participavam de um evento militar Imagem: Reuters

05/08/2018 10h47

O presidente da Venezuela, Nicolas Maduro, afirmava em discurso que havia chegado a hora da "recuperação econômica" do país. De repente, ele interrompe a fala e olha para cima, com expressão preocupada.

Logo atrás, a esposa dele, Cilia Flores, se assusta e faz um gesto instintivo de quem se depara com algum perigo. Assim como Maduro, ela olha para o céu. Essas imagens foram flagradas por câmeras que transmitiam ao vivo o discurso do presidente por ocasião do aniversário de 81 anos da Guarda Nacional Bolivariana - um dos quatro corpos das Forças Armadas do país.

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As imagens mostram o momento em que soldados enfileirados começam a correr. Horas depois, Maduro fez um pronunciamento dizendo que sofreu uma tentativa de assassinato envolvendo drones e explosivos.

Mas restam muitas dúvidas sobre o episódio. Quem teria sido o autor do ataque? Quantas pessoas se feriram? Realmente foram usados drones?

O que se sabe até agora sobe o suposto ataque

O episódio aconteceu às 17h41, na capital venezuelana. Segundo o ministro das Comunicações, Jorge Rodriquez, "dois artefatos voadores, tipo drone" foram usados no "ataque".

Horas depois, em pronunciamento, Maduro disse: "Um objeto voador explodiu perto de mim. Uma grande explosão. Segundos depois, houve uma segunda explosão."

Fotos que circulam nas redes sociais mostram seguranças protegendo Maduro com escudos à prova de bala, após o suposto atentado.

Isso explicaria os gritos "tapa, tapa, tapa arriba Castillo", como que ordenando que cobrissem o presidente, para protegê-lo, e "Arriba, mi comandante" (para cima, meu comandante) que se podem escutar na transmissão televisiva.

Quem é o autor do "ataque"

Maduro informou que os "autores materiais do atentado foram capturados". "A investigação está muito avançada. Sem dúvida, lidamos com a situação em tempo recorde e se trata de um atentado para me matar", afirmou.

O general Tarek William Saab anunciou que os presos seriam apresentados publicamente na segunda.

Maduro acusou a Colômbia e pessoas de dentro dos Estados Unidos de instigarem o que chamou de "atentado da direita".

Ele acrescentou "não ter dúvida" de que o presidente colombiano, Juan Manuel Santos, está "por trás desse ataque".

Mas Maduro não apresentou evidências para comprovar a acusação. O governo colombiano negou envolvimento, dizendo que as alegações do venezuelano "não têm base".

Já o ministro das Comunicações da Venezuela acusou "a oposição de direita" do país de orquestrar o ataque.

"Após perder no voto, eles falharam de novo", disse Rodriguez, em referência à eleição presidencial de maio que reelegeu Maduro para mais um mandato de seis anos.

Hasler Inglesias, um líder do partido de oposição Voluntad Popular, disse à BBC: "Nós não sabíamos o que estava acontecendo. E é difícil acreditar que a oposição faria um atentado sendo que nunca fez algo assim em 20 anos."

Enquanto isso o pouco conhecido grupo "Movimento Nacional Soldados de Camiseta" disse na sua conta no Twitter que foi o autor do atentado.

O grupo afirmou que havia planejado jogar dois drones com explosivos em Maduro, mas os equipamentos teriam sido alvejados pelos militares que faziam a segurança do presidente.

"Demonstramos que são vulneráveis. Não conseguimos (alcançar o objetivo) hoje, mas é questão de tempo", diz o Soldados de Camiseta num tuíte. A conta de Twitter @SoldadoDfranela, foi criada em março de 2014 e conta com 95 mil seguidores.

Mas não foram apresentadas quaisquer evidências e o grupo não respondeu aos pedidos de entrevista da imprensa.

Além de todas essas incertezas, bombeiros que estavam no local contestaram a versão do governo, segundo a Associated Press.

Sem citar nomes, a agência de notícia diz que três bombeiros afirmaram que o incidente, na verdade, foi uma explosão de gás dentro de um apartamento. Mas eles não deram detalhes.

Maduro - AFP/Getty Images - AFP/Getty Images
Bombeiros disseram que o incidente foi, na verdade, uma explosão de gás em um prédio
Imagem: AFP/Getty Images

Por que há dúvidas sobre a versão oficial

Essa não é a primeira vez que Maduro denuncia ter sofrido um atentado. Mas até hoje ele nunca apresentou provas para respaldar as acusações. Apesar de haver imagens do momento em que o episódio ocorreu, muitos expressaram dúvidas sobre se realmente foi um atentado.

O ceticismo se explica em parte porque, na transmissão oficial do evento, não é possível ver qualquer drone e testemunhas que estavam presentes ao evento disseram à imprensa que não viram esses "artefatos voadores".

A oposição venezuelana também se mostrou cética da versão oficial. "Ainda é preciso ver se realmente foi um atentado, um acidente fortuito ou alguma das outras versões que circulam pela internet", disse a Frente Ampla Venezuela Livre, em comunicado.

"O responsável seria esperar as investigações, mas é difícil acreditar no que dizem os burocratas do regime", afirma a entidade que reúne as principais forças de oposição ao governo de Maduro.

E as dúvidas se reforçam com as reportagens publicadas até agora pela imprensa. O jornal espanhol "El País", por exemplo, cita que um "militar presente ao ato, que se encontrava a poucos metros de Maduro" disse não ter visto drones, embora tenha escutado "uma explosão como de morteiro".

Qual o impacto desse "ataque"

É parte da retórica constante de Maduro acusar a Colômbia ou os Estados Unidos de conspirarem contra o seu governo. Como não há liberdade de imprensa na Venezuela, é difícil identificar a verdade.

A repórter da BBC Katy Watson diz que o temor maior é que o governo use o episódio para justificar a perseguição de adversários políticos.

Já houve atentado assim antes?

Em junho de 2017, um helicóptero lançou granadas no prédio da Suprema Corte da Venezuela.

O piloto Oscar Pérez reivindicou a autoria daquele ataque e convocou os venezuelanos a fazer frente ao governo de Maduro.

Na época, o presidente venezuelano classificou o episódio de "ataque terrorista".