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Crise na Venezuela: o que explica o renascimento da oposição contra Maduro

A população não se mobilizava de uma forma tão intensa desde os protestos contra o governo em 2017 - Adriana Loureiro/Reuters
A população não se mobilizava de uma forma tão intensa desde os protestos contra o governo em 2017 Imagem: Adriana Loureiro/Reuters

Daniel Pardo

BBC Mundo

24/01/2019 14h26

A oposição venezuelana passou - em poucos dias - da desesperança, divisão e indecisão a ocupar as ruas do país e a ter um "presidente interino" na figura de Juan Guaidó.

Poucos esperavam. Como ocorreu nas ondas de protestos em 2014 e 2017, de repente milhões saíram às ruas e reativaram o velho objetivo de parte da oposição: derrubar o presidente Nicolás Maduro.

A oposição espera que este 23 de janeiro de 2019, dia em que celebravam 61 anos da queda do regime militar de Marcos Pérez Jiménez, seja lembrado como o início de uma transição.

Mas ela também pensou assim em 12 de fevereiro de 2014 e em 1 de abril de 2017: dias que iniciaram ondas de protestos que se prolongaram por meses e deixaram dezenas de mortos, milhares de feridos e detidos, e um governo mais entronado no poder.

Mas desta vez é diferente, diz parte da oposição, aquela próxima a Guaidó, que desde 5 de janeiro é o presidente da Assembleia Nacional e nesta terça se juramentou como "presidente interino" do país como se o posto estivesse vago.

A principal diferença é que desta vez a comunidade internacional está mais envolvida na disputa: não só rejeita a legitimidade de Maduro como presidente, como reconhece Guaidó como chefe do Executivo.

Estados Unidos, Brasil, Colômbia e vários outros países apoiaram na quarta-feira o juramento do opositor, membro do Vontade Popular, partido sempre próximo a Washington e fundado pelo líder opositor Leopoldo López, hoje preso.

Mas esse não é o único ingrediente que reanimou a oposição.

A posse de Maduro

A equação também integra o que ocorreu em 10 de janeiro.

Nesse dia, Maduro iniciou um segundo mandato após ter sido eleito, em maio, em uma votação questionada, com alta abstenção, sem a participação e o reconhecimento da oposição nem da comunidade internacional.

Tudo isso ocorreu em meio à pior crise econômica da história do país.

Nesse mesmo dia, a Assembleia Nacional, controlada pela oposição desde 2015 mas não reconhecida pelo Tribunal Supremo de Justiça (supostamente cooptado pelo chavismo), nomeou uma nova instituição e um novo presidente.

É aí que entra em cena o jovem Guaidó, um deputado antes praticamente desconhecido que acabou na presidência da Assembleia porque era a vez do Vontade Popular ocupar o posto.

"Tudo isso coincidiu com uma busca de líderes novos, foi como um emanador de esperanças", diz à BBC Luis Vicente León, analista e pesquisador venezuelano.

A contante e complexa luta contra o chavismo fez com que praticamente todos os líderes da oposição fossem perdendo força ao longo do tempo. Enquanto isso, os interesses diversos do grupo resultaram em uma coalizão que, na realidade, só estava unida pela oposição ao governo.

Durante o último ano, a situação do país só piorou - o que se reflete na grande quantidade de venezuelanos que foram para o exterior.

Mas a frustração não foi aproveitada por uma liderança que promovesse uma ideia de mudança. Até agora, aparentemente.

Os militares

Outra diferença entre a oposição atual e a de anos anteriores é que agora os militares são conclamados a se unir à causa.

Na terça-feira, a Assembleia Nacional aprovou uma Lei de Anistia que na teoria daria aos militares um incentivo para colaborar com o que chamaram de "restabelecimento da ordem".

"Está só começando", diz León. "Obviamente, Guaidó mediu o impacto de sua decisão (de se juramentar) e está claro também que os Estados Unidos estão totalmente alinhados, como o Grupo de Lima (sem o México) e provavelmente a Europa", diz o analista.

"É um momento de medir forças, mas a pergunta é se haverá apoio militar interno suficiente e que força os EUA estão dispostos a usar. Sem militares de dentro do regime, a coisa é bastante difícil", conclui o analista.

Na terça, as autoridades venezuelanos detiveram um grupo de militares que supostamente estavam planejando se rebelar. E no passado houve pequenos indícios de rebeliões dentro das Forças Armadas.

Isso, somado ao convite de Guaidó para que os militares se unam à oposição, pode ter feito com que as esperanças retornassem.

Porém, como sempre ocorreu com as Forças Armadas venezuelanas, é muito difícil saber como estão as fricções em seu interior.

E disso depende, em parte, se o renascimento da oposição voltará a gerar desesperança, divisão e indecisão. Ou se dessa vez será diferente.