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Juan Guaidó: 'A Venezuela é uma ditadura; o chavista que ousa levantar a voz é preso, morto ou exilado' 

O deputado oposicionista Juan Guaidó e o presidente venezuelano Nicolás Maduro - Arte/UOL
O deputado oposicionista Juan Guaidó e o presidente venezuelano Nicolás Maduro Imagem: Arte/UOL

Guillermo D. Olmo (@BBCgolmo) - Correspondente da BBC News Mundo na Venezuela

29/01/2019 15h00

Pressão internacional contra o presidente Nicolás Maduro se intensifica, e líder oposicionista convoca novos protestos populares contra governo chavista para esta semana.

Juan Guaidó continua firme.

Cinco dias depois de se autoproclamar "presidente interino" da Venezuela, o líder oposicionista segue com sua agenda para tirar Nicolás Maduro da Presidência e assumir o poder no país.

O governo dos Estados Unidos e outros 20 países, incluindo o Brasil, o reconhecem como presidente interino da Venezuela, enquanto Maduro e seus aliados e seguidores classificam a autodeclaração de Guaidó como uma tentativa de golpe de Estado.

Em reação à ofensiva do oposicionista, o procurador-geral da Venezuela, o chavista Tarek Saab, disse nesta terça (29) ter pedido à Suprema Corte do país que congele as contas de Guaidó e o proíba de deixar a Venezuela, segundo a agência de notícias Reuters.

Neste contexto, como forma de aumentar a pressão contra Maduro, a Casa Branca determinou na segunda-feira (28) o congelamento dos ativos da estatal Petróleos de Venezuela S.A. (PDVSA), e proibiu, salvo algumas exceções, que cidadãos e empresas americanos mantenham negócios com a petroleira.

"Esperamos que as medidas de segunda-feira bloqueiem US$ 7 bilhões (aproximadamente R$ 26,14 bilhões) em ativos, bem como gerem mais de US$ 11 bilhões (R$ 41,07 bilhões) em perdas de exportações ao longo do próximo ano", disse o assessor de Segurança Nacional dos Estados Unidos John Bolton. Este, aliás, pediu aos militares venezuelanos que embarquem na transição conduzida pelo líder da oposição. China e Rússia classificaram a medida de interferência indevida.

Poucos minutos depois desse anúncio, Guaidó conversou com a BBC News Mundo, o serviço em espanhol da BBC, em Caracas.


BBC - O senhor afirma ser o presidente legítimo da Venezuela. Mas nunca se apresentou como candidato. No entanto, Nicolás Maduro venceu as eleições presidenciais. Por que o senhor tem mais direito ao cargo do que ele?

Guaidó - O estado de Direito foi desmantelado na Venezuela. A eleição de 2018 não foi válida, e o mandato de Maduro expirou em janeiro de 2019.

O artigo 233 da Constituição diz que o presidente da Assembleia Nacional deve se encarregar da Presidência da República em caso de ausência absoluta do presidente a fim de convocar eleições livres.

Por isso, consideramos que há uma usurpação de poder e uma ditadura.

Eles perderam a legitimidade de origem e agora perderam a legitimidade do exercício, porque estão assassinando os jovens que participam das manifestações e estão obrigando os venezuelanos a viverem na pobreza.

BBC - Há alguma possibilidade de Nicolás Maduro sair do poder sem um derramamento de sangue na Venezuela?

Guaidó - Sim. Será graças à pressão social, à mobilização, às Forças Armadas se colocando do lado da Constituição e ao apoio da comunidade internacional.

Nós temos o roteiro pronto. Será o fim da usurpação e o chamado para uma eleição livre. É possível conseguir uma transição pacífica.

BBC - O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, garante que todas as opções estão sobre a mesa. O senhor está disposto a pagar o preço de uma intervenção militar americana para tirar Nicolás Maduro do poder?

Guaidó - A Venezuela é um país soberano. Aqueles que interferem nessa soberania são, por exemplo, o ELN (Exército de Libertação Nacional, guerrilha da Colômbia), um grupo irregular que se aventura na Venezuela para extrair ouro e trocá-lo por armas.

Tudo isso foi criado pelo governo de Nicolás Maduro.

BBC - O que o senhor acha das sanções anunciadas por Washington contra a PDVSA, a estatal de petróleo? Isso afeta a firmeza de sua posição em relação a Nicolás Maduro?

Guaidó - Solicitamos ao Parlamento a proteção de ativos afetados pela corrupção. Eles roubaram US$ 400 bilhões (equivalente ao PIB venezuelano inteiro em 2014, cerca de R$ 1,5 bilhão).

Isso faz parte da proteção dos ativos da nação para poder dedicar-lhes a atenção da emergência humanitária.

BBC - Mas isso não equivale a um embargo petroleiro ao país?

Guaidó - O embargo petroleiro foi o que a Venezuela investiu US$ 300 bilhões (R$ 1,12 trilhão) nos últimos dez anos em sua indústria de petróleo e viu sua produção passar de 3,5 milhões de barris para apenas 2.

Esse foi um embargo por meio dos fatos. Endividaram a nação, e o tesoureiro da República se declarou culpado por todos esses atos. Foram US$ 1,2 bilhão (cerca de R$ 4,5 bilhões) em subornos. Quanto perdemos por isso?

BBC - Há algum indício de que militares de alta patente vão passar para o seu lado? Até agora eles se dizem leais a Nicolás Maduro.

Guaidó - Vinte e sete sargentos que decidiram expressar seu descontentamento foram detidos, 160 militares estão presos e há aqueles que estão recebendo a Lei da Anistia.

BBC - Quais contatos o senhor tem no alto comando militar? Não temos visto nenhuma garantia de que eles vão passar para o seu lado.

Guaidó - Na Venezuela há uma ditadura. O chavista que ousa levantar a voz é preso, morto ou exilado.

Falo de Miguel Rodríguez Torres, que foi ministro de Chávez; de Nelson Martínez, que foi ministro do Petróleo e morreu em uma prisão; de Luisa Ortega Díaz, que está no exílio.

BBC - O senhor convocou novos protestos para esta semana (contra Nicolás Maduro). Não é uma estratégia muito perigosa, considerando tudo o que está em jogo e toda a tensão?

Guaidó - Sem pressão do cidadão, não se derrota uma ditadura. O usurpador Maduro já matou 40 jovens que voltavam para suas casas em áreas muito populares.

Hoje, morar na Venezuela já é um perigo. Nós não podemos permitir que se transforme em apenas sobreviver. A mobilização do povo é um risco necessário, e o nosso protesto é sempre pacífico.


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