Crise na Venezuela: O que se sabe sobre a decisão de Maduro de fechar fronteira com o Brasil
Presidente diz que ato é resposta ao apoio do governo brasileiro à oposição venezuelana; ação foi tomada a dois dias de data marcada para a entrega de ajuda humanitária que, segundo porta-voz da Presidência, está mantida.
O texto foi atualizado às 23h49 de 21 de fevereiro de 2019.
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, ordenou o fechamento da fronteira com o Brasil a partir da noite desta quinta-feira (21), o que foi efetivado.
"Decidi, no sul da Venezuela, a partir das 20h deste 21 de fevereiro, que ficará fechada total e absolutamente, até novo aviso, a fronteira terrestre com o Brasil", afirmou Maduro em reunião com o alto comando militar.
A medida foi tomada dois dias antes da data anunciada pela oposição venezuelana, liderada pelo presidente autoproclamado Juan Guaidó, para a entrega de ajuda humanitária armazenada em diversos pontos da fronteira da Venezuela com a Colômbia e o Brasil.
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Em entrevista coletiva na noite desta quinta, o porta-voz do presidente Jair Bolsonaro, Otávio Rêgo Barros, informou que o Brasil mantém a programação original, de enviar ajuda humanitária no dia 23. No entanto, Barros ressaltou que o "limite da ação" do país é a fronteira.
"Da parte do governo brasileiro, diante da nossa soberania, o limite de ação é a faixa de fronteira. Os fatos, os eventos, as ações desencadeadas além da nossa borda de fronteira são, naturalmente, de responsabilidade do governo venezuelano", disse.
Segundo o porta-voz, os remédios e alimentos serão levados até Boa Vista e Pacaraima, em Roraima, por motoristas brasileiros. Do outro lado da fronteira, o transporte deverá ser feito por motoristas venezuelanos.
No final da tarde desta segunda, a Polícia Militar de Paracaima informou que o trânsito entre os dois países ainda era possível.
O fechamento da fronteira foi registrado às 20h locais (21h de Brasília), em linha com a declaração de Maduro sobre o tema.
Envio de tanques à fronteira e condições precárias para os moradores
Na noite de quarta-feira (20), Américo de Grazia, deputado da Assembleia Nacional venezuelana pelo Estado de Bolívar, publicou no Twitter fotos de quatro tanques de guerra em ruas de Santa Elena de Uiarén, cidade venezuelana na fronteira com Roraima. Grazia integra o partido La Causa R, que faz oposição a Maduro.
"O #Usurpador tomou militarmente #StaElenaDeUairen para impedir a entrada da #AjudaHumanitária aos #Venezuelanos. Não obstante os povos indígenas Pemones de #LaGranSabana com a Alcaldía e o Ciudadanos tornarão real a solidariedade. Juan Guaidó Presidente."
Em entrevista à BBC News Brasil, ele reafirmou que os veículos estavam sendo enviados para a fronteira, e que outros quatro tanques foram deslocados para a região nesta quinta.
Grazia afirma que o fechamento da divisa vai agravar as condições do lado venezuelano, que depende da importação de alimentos brasileiros. Ele diz que Santa Elena de Uiarén já enfrenta uma situação precária, sem eletricidade nem serviços telefônicos operantes, e que muitos moradores têm sobrevivido graças a doações de brasileiros.
"Há muita inquietude e incerteza na região. Havia grande expectativa do povo venezuelano pela chegada da ajuda humanitária retida na fronteira", diz o deputado.
Segundo ele, o fechamento também vai prejudicar o abastecimento das bases militares venezuelanas na região. "Na maioria dos quartéis, os soldados comem frango, verdura e arroz que vêm do Brasil. Se não houver tráfego, não haverá comida também para os quartéis."
Provocação americana com ajuda humanitária
Maduro indicou que também está considerando fechar a fronteira com a Colômbia e que a decisão sobre a fronteira brasileira se deu por causa do apoio do Brasil aos planos da oposição.
O presidente afirmou que a ajuda humanitária, que foi enviada pelos EUA, é uma "provocação" e que os planos da oposição são um "pobre espetáculo" para fragilizar seu governo.
"Esse é um show montado pelo governo dos Estados Unidos com a complacência do governo colombiano para humilhar os venezuelanos. A Venezuela tem os problemas que qualquer outro país pode ter", afirmou Maduro em entrevista à BBC News Mundo (serviço de notícias em espanhol da BBC) neste mês.
Segundo ele, "os Estados Unidos tentaram criar uma crise humanitária para justificar uma intervenção militar".
Os caminhões enviados pelos americanos estão atualmente estacionados perto da ponte Tienditas, que continua bloqueada por tropas venezuelanas.
A crise na Venezuela
Em janeiro, Maduro foi empossado para mais seis anos de mandato após eleições realizadas em 2018 - amplamente contestadas pela oposição, por vários países e órgão internacionais.
Naquele mês, a crise política se acirrou quando Guaidó se proclamou presidente encarregado da Venezuela e teve sua legitimidade reconhecida por mais de 50 países, entre os quais o Brasil.
O isolamento internacional de Maduro se acentuou no início deste mês, quando quase duas dezenas de países da União Europeia também reconheceram Guaidó, entre eles Alemanha, França e Espanha. O mesmo ocorreu com a maioria dos países latino-americanos integrantes do Grupo de Lima, exceto o México.
A crise econômica da Venezuela tem provocado dificuldade de acesso da população a produtos básicos, inclusive a alimentos. A inflação, os altos preços e a perda do poder aquisitivo dos venezuelanos têm gerado muitos obstáculos para a compra desses produtos.
Oficiais do Exército foram encarregados de distribuir petróleo, arroz, café e outros alimentos básicos, bem como papel higiênico, absorventes e fraldas.
Apesar do apoio de líderes militares, a história é diferente nas patentes mais baixas.
A maioria destes militares teve de enfrentar a penúria econômica da Venezuela, assim como todos os cidadãos comuns no país. Ao contrário dos altos oficiais, os escalões inferiores sofreram com falta de combustível, escassez de alimentos e hiperinflação - e há um crescente descontentamento.
Um dos principais efeitos da crise é a saída de venezuelanos do país. Segundo a Agência de Migração da ONU, cerca de 2,3 milhões de pessoas deixaram a Venezuela nos últimos anos, o que equivale a 7% da população.
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