Ação de Maduro? Fake News? A real história da ponte bloqueada na Venezuela
Resumo da notícia
- Foto de contêineres na fronteira colombo-venezuelana ganhou o mundo e virou ícone do bloqueio de Maduro à entrada de ajuda internacional
- Apoiadores de Maduro falam em 'fake news': ponte nunca foi utilizada
- Fotógrafo e jornalista que produziu a imagem afirmam que os dois lados têm parte da razão
- Até agora, ninguém sabe ao certo quem bloqueou a ponte
- Maduro recusa ajuda internacional e fala em estratégia para derrubá-lo
- Guaidó, autoproclamado presidente, desafia Maduro e diz que em 23 de fevereiro o país receberá ajuda
Uma ponte. De um lado, Cúcuta, na Colômbia, e do outro, Táchira, na Venezuela. No centro, dois contêineres e um caminhão bloqueiam as vias. Nada entra e nada sai.
A fotografia de 6 de fevereiro ganhou capas de jornais de todo o mundo, inclusive no Brasil, e se tornou ícone do bloqueio de Nicolás Maduro à ajuda humanitária vinda do exterior
Na Venezuela, a imagem virou objeto de disputa de duas narrativas antagônicas. Para os bolivarianos, a imagem foi plantada pela oposição para piorar a imagem do país no exterior. Quem se opõe a Maduro vê um ditador desesperado para se manter no poder.
"Me alegro que minha foto ajude a contar o que está acontecendo aqui", disse ao UOL o colombiano Edinson Estupiñan, autor da imagem.
Ele é morador da fronteira e fez a foto a serviço da agência francesa AFP, ao lado do jornalista Juan Restrepo, também colombiano. Eles estão cientes da disputa de versões que cresceu ao redor da cena. Entenda:
Símbolo do bloqueio de Maduro
A imagem logo circulou por grandes noticiários do mundo e foi até compartilhada pelo Secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo.
"Os venezuelanos precisam desesperadamente de ajuda humanitária. Os EUA e outros países querem ajudar, mas os militares da Venezuela, sob o comando de Maduro, fecham as vias com caminhões e contêineres", acusou o funcionário de Donald Trump.
Realidade distorcida
Vozes simpáticas ao ditador venezuelano deram outra versão para os fatos. Não duvidaram da imagem, mas do que ela representava.
"O que não contaram as mídias ocidentais, nem Mike Pompeo é que a ponte da foto, Las Tienditas, nunca havia sido inaugurada", escreveu o jornal russo RT News. A Rússia é um dos poucos e importantes aliados que ainda restam a Maduro.
"Assim, mesmo o governo venezuelano tenha bloqueado a ponte, ela já estava bloqueada pelos governo colombianos desde alguns anos", disse a publicação - uma versão dos fatos replicada por diversos veículos próximos de Maduro.
Pelo mundo, inclusive nos jornais brasileiros, as manchetes ecoavam as críticas feitas pelos Estados Unidos e compuseram a indignação internacional com o bloqueio de ajuda à Venezuela.
O que é verdade - ou não
Para Estupiñan, o fotógrafo, e Restrepo, o jornalista que produziu a imagem, ambos os lados têm parcela da razão. Mas tanto Maduro, quanto Juan Guaidó - que se proclamou presidente do país - omitem partes importantes para entender o que realmente está acontecendo:
- Apoiadores de Maduro têm razão: ponte nunca foi usada
"A ponte foi construída em 2016, mas nunca inaugurada oficialmente. Por isso, nunca houve circulação de veículos, mas havia circulação de pedestres. Nos últimos anos, como Maduro fechou a fronteira, não havia mais nenhuma circulação", explica Restrepo.
Segundo Restrepo, Las Tienditas sempre esteve fechada devido ao acirramento das relações entre Colômbia e Venezuela.
Estupiñan diz que Maduro acusa a Colômbia de querer se aproveitar de uma obra que foi financiada por capital venezuelano, e nunca abriu a estrutura.
- Oposição a Maduro tem razão: Maduro bloqueia ajuda humanitária
Mas apesar de a ponte nunca ter sido utilizada, é fato admitido pelo próprio ditador que o país impede a chegada de ajuda do exterior.
"A Venezuela não vai permitir esse show de ajuda humanitária, porque não mendigamos para ninguém", disse Maduro.
E, ainda que a ponte nunca tenha sido utilizada, ela poderia servir para a passagem da ajuda humanitária recusada por Maduro.
- O que não se sabe: quem colocou os contêineres lá:
E apesar de os boliviarianos estarem certos ao afirmar que a ponte nunca foi utilizada (mas poderia ser), e de a oposição ter razão quando diz que Maduro impede a chegada de ajuda, ninguém sabe quem colocou os contêineres e o caminhão na ponte.
"Vi um dia, e tinha o furgão laranja em uma das pistas. Na noite seguinte, colocaram dois contêineres", diz o fotógrafo Estupiñan.
Ele fez as imagens usando um drone, em um trabalho que durou dias. Uma das dificuldades era encontrar um lugar seguro para capturar a cena. A região é também rota de contrabandistas de gasolina adquirida na Venezuela e revendida na Colômbia.
Segundo Restrepo, no dia 5 de fevereiro, apareceu, no meio da ponte, um dos contêineres e o caminhão. No dia seguinte o segundo contêiner completou a estrutura, dando origem ao clique que circulou pelo mundo.
"Pessoas na região disseram que viram um movimento da guarda venezuelana pouco antes de aparecerem os contêineres. Para a oposição isso prova o envolvimento do governo", diz o jornalista.
A legenda que acompanhava a imagem distribuída pela AFP aos jornais internacionais dizia: "Militares venezuelanos bloquearam uma ponto na fronteira com a Colômbia, antecipando a entrada da ajuda humanitária no país".
Questionado sobre isso, Restrepo respondeu: "É preciso dizer que isso é segundo a oposição venezuelana".
Enquanto isso, Maduro segue recusando ajuda internacional, e Juan Guaidó diz que em 23 de fevereiro, em ação coordenada com Brasil e Colômbia, Caracas receberá os caminhões enviados do exterior.
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