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Como o 'Dia D do Brexit' falhou: o que a votação de hoje diz sobre o futuro da saída do Reino Unido da UE

May e Jean-Claude Juncker, da UE, negociaram termos, mas Parlamento tem vetado acordo - Thierry Monasse/Getty Images
May e Jean-Claude Juncker, da UE, negociaram termos, mas Parlamento tem vetado acordo Imagem: Thierry Monasse/Getty Images

29/03/2019 14h55

Proposta da primeira-ministra Theresa May foi rejeitada mais uma vez no Parlamento, ampliando as incertezas sobre o desfecho do Brexit.

O Parlamento britânico rejeitou mais uma vez os planos da primeira-ministra, Theresa May, para o Brexit, que definiria as regras para a saída do Reino Unido da União Europeia. A proposta recebeu 286 votos a favor e 344 contra - resultado que amplia o impasse sobre o processo.

May disse que a votação teria graves consequências e que a data-limite para o Brexit é 12 de abril - ou seja, não haveria tempo suficiente para aprovar outro plano que impeça uma saída "brusca" do bloco, sem qualquer acordo para suavizar os impactos do "divórcio" da União Europeia.

Jeremy Corbyn, líder do Partido Trabalhista, que faz oposição a May, pediu a renúncia da primeira-ministra e a convocação de eleições.

Após o resultado, o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, publicou no Twitter que convocou uma reunião do órgão em 10 de abril.

A derrota de May significa que o Reino Unido perdeu o prazo dado pela União Europeia para que pudesse prorrogar o processo do Brexit e negociar um acordo para deixar o bloco em 22 de maio.

May agora tem até 12 de abril para tentar esticar as negociações e evitar uma saída sem acordo.

Ela afimou que o Reino Unido precisa encontrar "uma forma alternativa de seguir adiante". Segundo May, o resultado da votação é "motivo de grande lamentação".

"Temo que estejamos chegando ao limite deste processo nesta Casa", disse a premiê.

A maioria do Parlamento se opõe a um Brexit sem acordo, e parlamentares planejam votar propostas alternativas na segunda-feira.

O parlamentar Steve Baker, que integra o Partido Conservador, o mesmo de May, também disse que a premiê deveria deixar o cargo.

"Essa tem de ser a última derrota do acordo de Theresa May. Acabou. E nós precisamos seguir adiante."

"Não foi aprovado. Não vai ser aprovado. Sinto dizer que é hora de Theresa May seguir suas próprias palavras e abrir caminho para que um novo líder possa encontrar um plano de saída que seja aprovado pelo Parlamento."

Baker foi um dos 34 parlamentares do Partido Conservador a votar contra o acordo, ao lado do Partido Unionista Democrático e do Partido Trabalhista.

Cinco parlamentares do Partido Trabalhista, porém, votaram a favor.

Para tentar aprovar o projeto, May havia retirado do acordo uma declaração política sobre as relações futuras entre o Reino Unido e a União Europeia - nas duas vezes anteriores em que o documento integrou o plano, a proposta foi rejeitada por margens maiores.

Com a estratégia, o governo britânico esperava atrasar o Brexit, mas ativá-lo numa data ainda anterior às eleições para o Parlamento Europeu, marcadas para ocorrer entre 23 e 26 de maio.

May também havia prometido deixar o cargo caso sua proposta fosse aprovada.

Agora, os parlamentares terão outra oportunidade de chegar a um acordo em votações na segunda e na quarta-feira. Se uma das opções receber a maioria dos votos, o governo poderá usá-la como base para negociar mudanças na declaração política.

Por que a questão da Irlanda é importante?

O futuro da fronteira entre a Irlanda do Norte, que é parte do Reino Unido, e da República da Irlanda, membro da União Europeia, é um dos pontos mais delicados das tentativas de acordo para viabilizar o Brexit.

O governo britânico teme que a restituição de pontos de checagens de passaportes e mercadorias na divisa entre os dois países - a chamada "fronteira dura" - traga à tona antigas tensões entre irlandeses e norte-irlandeses.

O acordo de paz de 1998 pôs fim a três décadas de conflito entre nacionalistas, que queriam a integração com a Irlanda, e unionistas, que queriam continuar fazendo parte do Reino Unido. O acordo contempla a ausência de barreiras físicas.

Embora Londres e Bruxelas tenham concordado em não fixar uma fronteira "dura" após o Brexit, o grande obstáculo foi definir os termos dessa divisão.

Conforme a proposta apresentada anteriormente por May, se não houvesse qualquer tipo de acordo entre o Reino Unido e a União Europeia, uma "rede de segurança" - chamada de backstop - passaria a vigorar automaticamente.

Assim, a Irlanda do Norte continuaria alinhada com algumas das normas do mercado único da União Europeia - algo que gera descontentamento em parte dos membros do Partido Conservador e do Partido Unionista Democrático.