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Governo Bolsonaro: Em quebra histórica de tradição diplomática, presidente visitará Muro das Lamentações com Netanyahu

Bolsonaro cumprimenta Benjamin Netanyahu em visita do premiê ao Rio, em dezembro - Getty Images
Bolsonaro cumprimenta Benjamin Netanyahu em visita do premiê ao Rio, em dezembro Imagem: Getty Images

Caio Quero (@caioquero)* - Enviado da BBC News Brasil a Israel

Enviado da BBC News Brasil a Israel

30/03/2019 16h01

Movimento pode ser encarado pela comunidade internacional como um reconhecimento tácito de que os territórios ocupados por Israel após 1967 pertencem ao país.

O presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, visitará o Muro das Lamentações acompanhado pelo primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, em um movimento que representa uma quebra da política brasileira em relação aos territórios de Jerusalém Oriental considerados pela comunidade internacional como ocupados por Israel.

Segundo o programa da visita de Bolsonaro a Israel divulgado pelo Itamaraty, o presidente visitará o Muro na tarde de segunda-feira (1º).

O presidente brasileiro romperá com a tradição diplomática do país em relação a Israel de três maneiras.

Ele não fez contato com as autoridades palestinas nem passará por locais sagrados para islamismo. Além da Igreja do Santo Sapulcro, ponto importante para cristãos, Bolsonaro vai visitar o Muro das Lamentações acompanhado do governo israelense.

O movimento de aproximação de Bolsonaro pode ser encarado pela comunidade internacional como um reconhecimento tácito de que os territórios ocupados por Israel após 1967 pertencem ao país.

Jerusalém é considerada território em disputa e sua parte oriental é considerada pela comunidade internacional como área ocupada.

Um diplomata que conversou com a BBC News Brasil em condição de anonimato afirmou que visitas de autoridades brasileiras e internacionais ao Muro, local de peregrinação do judaísmo, normalmente são feitas em caráter privado, sem a presença de membros do governo israelense.

Para diplomatas e analistas ouvidos pela reportagem, pode haver protestos da Jordânia, responsável pelos sítios sagrados para os cristãos e muçulmanos, e de outros países, principalmente da comunidade árabe.

"Esse movimento é absolutamente inédito", explica Guilherme Casarões, professor da Fundação Getúlio Vargas e especialista nas relações do Brasil com o Oriente Médio. "Eu diria que isso se explica pelo fato de que Netanyahu está dispensando um tratamento muito especial ao Bolsonaro com vistas a extrair dele sinalizações e concessões de pontos que para Netanyahu, às vésperas das eleições em Israel, são importantes, como a mudança da embaixada brasileira de Tel Aviv para Jerusalém."

Em maio de 2017, quando visitou o local, o presidente americano Donald Trump não estava acompanhado de Netanyahu.

No último dia 21, no entanto, o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, fez a primeira autoridade americana de primeiro escalão a visitar o Muro acompanhado de um primeiro-ministro de Israel. O ato irritou os palestinos, que reivindicam a área desde a ocupação israelense.

Em sua visita, Pompeo exaltou a jornalistas sua própria visita. "Eu acho simbólico que uma autoridade americana de alto escalão visite o local com o primeiro-ministro de Israel", disse, sem citar a disputa entre israelenses e palestinos pelo local.

Localizado no lado leste de Jerusalém, o Muro das Lamentações é a única parte que restou de um templo judaico do período romano, e é considerado o lugar mais sagrado da crença judaica. Essa região é controlada por Israel desde a Guerra de Seis Dias, em 1967.

Em uma área de cerca de um 1 km ² estão, além do Muro, a Igreja do Santo Sepulcro, que abriga o local de crucificação e sepultamento de Jesus Cristo, e a Mesquita de Al-Aqsa, o terceiro lugar mais sagrado do islamismo.

*Colaborou Matheus Magenta, da BBC News Brasil em São Paulo

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