'Bolsonaro não tem que se meter na história do Chile': as reações de políticos chilenos à frase sobre pai de Bachelet
Presidente brasileiro causou nova crise ao responder à ex-presidente chilena Michelle Bachelet; segundo ela, "o espaço democrático no Brasil está encolhendo; Bolsonaro retrucou com ofensa ao pai da chilena, morto pela ditadura de Augusto Pinochet.
As declarações do presidente Jair Bolsonaro contra o pai da ex-presidente do Chile, Michelle Bachelet, que é alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, receberam fortes críticas de diferentes alas políticas do Chile.
Além de voltar a elogiar o golpe de Estado que levou o general Augusto Pinochet ao poder - deponto o presidente socialista Salvador Allende -, Bolsonaro citou o pai de Bachelet, o general-brigadeiro da Força Aérea chilena Alberto Bachelet.
O militar sofreu um infarto quando estava na prisão, onde foi torturado durante a ditadura Pinochet (1973-1990), segundo investigações. Um processo contra dois dos envolvidos concluiu que o ataque cardíaco estava diretamente relacionado à violência sofrida pelo pai da ex-presidente.
Bachelet, que governou o país andino em duas ocasiões - (2006-2010) e (2014-2018) -, tinha dito que "o espaço democrático no Brasil está encolhendo, a violência policial aumenta e a apologia à ditadura reforça a sensação de impunidade, e defensores de direitos humanos estão sob ameaça."
Bolsonaro reagiu, dizendo que ela segue a linha do presidente da França, Emmanuel Macron, de "se intrometer nos assuntos internos e na soberania brasileira, investe contra o Brasil na agenda de direitos humanos (de bandidos), atacando nossos valorosos policiais civis e militares".
E acrescentou: "(Ela) Diz ainda que o Brasil perde espaço democrático, mas se esquece que seu país só não é uma Cuba graças aos que tiveram a coragem de dar um basta à esquerda em 1973, entre esses comunistas o seu pai brigadeiro à época."
Repúdio à direita e à esquerda
As afirmações do presidente brasileiro foram repudiadas pelo deputado do partido de direita União Democrática Independente (UDI), Issa Kort, integrante da Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados, que disse que a história do Chile pertence ao Chile "e outros presidentes não se metem" nela.
"As declarações do presidente brasileiro Jair Bolsonaro são lamentáveis. Nós sempre defendemos que as batalhas políticas se ganham com argumentos, com ideias e não com ataques", disse Kort.
"Em segundo lugar, as declarações são lamentáveis porque no Chile conhecemos nossa história e devemos aprender com a nossa própria história e não permitir que outros países usem esta história para fins políticos particulares. Como políticos, devemos conhecer a história e ser responsáveis por construir o presente e futuro. Aqui nunca usamos a história do Brasil para fins de política interna. Portanto, também não podemos aceitar que um líder, como Jair Bolsonaro, possa usar a história do Chile para temas de política interna. O que aconteceu no Chile fica no Chile e os presidentes não se metem (nisso)".
A UDI é um partido de direita, fundado nos anos 1980, que faz parte da coalizão governista do presidente Sebastián Piñera.
Ouvidos pela BBC News Brasil, Kort e a senadora Isabel Allende, sobrinha do ex-presidente Allende, que estão em polos ideológicos opostos, mantiveram tom parecido ao comentar as falas do presidente do Brasil. A senadora chamou as declarações do presidente de "perversas".
"As declarações de Bolsonaro, citando o pai de Michelle Bachelet, que foi torturado e assassinado por seus pares, durante a ditadura militar, geram nossa total indignação. A perversa alusão ao general Bachelet revela inteiramente quem (Bolsonaro) é. O Brasil não merece este presidente porque ele só mostra o quanto é miserável", disse a senadora.
Socialista como Bachelet, ela disse que o regime de Pinochet foi "uma ditadura sangrenta", que atacou os direitos humanos e gerou pobreza no país. Para ela, as afirmações feitas por Bolsonaro "são de uma ignorância imensa" porque o presidente brasileiro, disse, "não é capaz de reconhecer o imenso dano que Pinochet fez ao país".
Allende acrescentou que as afirmações de Bolsonaro "são um péssimo precedente para toda a América do Sul".
O presidente Piñera também condenou as declarações de Bolsonaro. Em declaração no palácio presidencial de La Moneda, em Santiago, disse que "não compartilha da alusão de Bolsonaro a Bachelet e seu pai".
Segundo a rádio Cooperativa, da capital chilena, Piñera disse, porém, que Michelle Bachelet deveria ter "justificado suas opiniões (sobre o Brasil) devidamente".
Analistas políticos chilenos ouvidos pela BBC News Brasil disseram que as declarações de Bolsonaro acabam prejudicando seu colega chileno, que costuma relembrar o fato de que votou pela não continuidade do governo Pinochet no referendo que abriu o caminho para o retorno da democracia no Chile.
O diretor do Centro Internacional para a Qualidade da Democracia, Ricardo Israel, e o professor Robert Funk, do Instituto de Assuntos Públicos da Universidade do Chile, acham que Bolsonaro ataca o Chile por questões de política interna, mas isso não cai bem nas diferentes camadas chilenas.
"Pinochet já não é um tema central no Chile há muito tempo. E menos ainda entre os jovens. Mas o presidente Piñera apostou muito na aproximação com Bolsonaro e com Trump, e isso causa preocupação aqui porque é uma guinada que não se fazia antes na politica internacional do Chile", disse Funk.
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