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O debate sobre ataque 'sem baixas' do Irã contra EUA: foi proposital?

Até agora, não há registro de vítimas em ataque iraniano a bases onde ficam alocados militares americanos. Não ter baixas foi resultado de um planejamento ou do acaso? - Getty Images
Até agora, não há registro de vítimas em ataque iraniano a bases onde ficam alocados militares americanos. Não ter baixas foi resultado de um planejamento ou do acaso? Imagem: Getty Images

09/01/2020 06h42

Nas primeiras horas de terça-feira (7), o Irã lançou mísseis contra bases americanas no Iraque em retaliação ao ataque de drone, na sexta-feira (3), que matou o principal líder militar do país persa, o general Qassim Suleimani.

Mas, apesar dos alertas furiosos de Teerã de que Washington pagaria um alto preço pela morte de Suleimani, ninguém foi ferido nos ataques às bases dos EUA, de acordo com a Casa Branca.

O incidente sem vítimas neste delicado momento de alta tensão entre os dois países, em meio a temores de uma possível guerra, foi visto por alguns como uma ação intencional de Teerã, para responder ao ataque americano e, ao mesmo tempo, permitir uma pausa na escalada do conflito. Mas nem todos concordam com essa visão. O Irã evitou intencionalmente causar baixas? Conheça, abaixo, alguns argumentos nesse debate.

O que ambos países falaram oficialmente sobre os ataques?

Um comunicado do Corpo Revolucionário da Guarda Islâmica do Irã (IRGC, na sigla em inglês) afirma que "dezenas de mísseis (do tipo) superfície-superfície" foram lançadas na quarta-feira visando "a base aérea ocupada pelo Exército terrorista e agressor dos EUA em Al Asad", referindo-se ao núcleo de operações militares americanas no oeste do Iraque.

A agência de notícias iraniana Tasnim, do Irã, próxima ao IRGC, informou que mísseis Fateh-313 e Qiam foram usados no ataque e que as forças americanas não conseguiram interceptá-los porque estavam equipados com ogivas de fragmentação. Ainda segundo a agência, este tipo de munição de dispersão causou "dezenas de explosões" em Al Asad.

O Departamento de Defesa dos EUA reafirmou oficialmente que o Irã lançou mais de uma dúzia de mísseis balísticos, atingindo pelo menos as duas bases de Al-Asad e Irbil.

Mas, segundo o presidente Donald Trump, as forças americanas não sofreram baixas e as bases sofreram "apenas danos mínimos" por conta das "precauções tomadas, da dispersão de forças e de um de sistema de alerta preventivo que funcionou muito bem".

Na TV, Trump declarou: "O Irã parece estar recuando."

O que os mísseis realmente atingiram?

As forças armadas do Iraque, que também não registraram baixas, declararam que o país foi atingido por 22 mísseis entre 1h45 e 2h15 na quarta-feira (19h45 e 20h15 de terça em Brasília). Especificamente contra a base de Al Asad, foram 17 mísseis foram lançados.

Fotografias de satélite tiradas pela empresa Planet Labs e enviadas ao Instituto Middlebury de Estudos Internacionais mostram o que parecem ser pelo menos cinco estruturas destruídas em Al Asad.

Mas ficou evidente que alguns mísseis não atingiram a base. Dois mísseis lançados contra Al Asad caíram na área de Hitan, a oeste da cidade de Hit, e não explodiram, segundo os militares iraquianos.

Fotos de detritos de um desses mísseis, incluindo três grandes partes de sua fuselagem, logo foram publicadas nas redes sociais.

De acordo com militares iraquianos, o Irã disparou cinco mísseis contra a base de Irbil. Não foi informado quantos atingiram a base, mas a TV estatal informou que dois mísseis caíram no vilarejo de Sidan, a 16 km da cidade de Irbil; e que um terceiro caiu na região de Bardah Rashsh, a cerca de 47 km de Irbil.

Jornalistas também fotografaram agentes de segurança coletando detritos no que parecia ser uma cratera formada pelo míssil que atingiu Bardah Rashsh.

O Irã tentou evitar baixas dos EUA?

Fontes dos governos dos EUA e de países europeus disseram à agência de notícias Reuters acreditar que os iranianos deliberadamente procuraram minimizar baixas e evitar atingir as instalações dos EUA — isto a fim de evitar que a crise entre os países saísse do controle.

O jornalista da CNN Jake Tapper publicou uma declaração de uma autoridade do Pentágono dizendo que o Irã "deliberadamente escolheu alvos que não resultariam em perda de vidas".

O jornal americano Washington Post disse que autoridades americanas já sabiam, na terça-feira, que o Irã pretendia atacar alvos americanos no Iraque, mas que não estava claro quais seriam estes alvos.

David Martin, correspondente no Pentágono da rede CBS, disse que ouvira de um oficial que os EUA tinha sido avisados do ataque "várias horas" antes, o que daria bastante tempo para que soldados e funcionários buscassem refúgio em bunkers.

Essa oficial disse que o alerta tinha vindo de sinais de satélites e mensagens interceptadas.

Mas Martin disse à BBC que esse oficial não concordava com a especulação de que o Irã teria tentado errar o alvo propositadamente.

O repórter para Assuntos de Defesa da BBC, Jonathan Marcus, também sugeriu que é difícil cravar que o Irã tentou evitar mortes.

"Se foi algo planejado ou consequência de falhas na fabricação e precisão dos mísseis, ainda não está claro. Mas lançar mísseis de longo alcance contra bases americanas é uma maneira arriscada de se posicionar."

"Olhando para as primeiras imagens dos satélites mostrando os impactos dos mísseis iranianos na base aérea de Al Asad, eles parecem ter destruído várias estruturas. Assim, não ter tido baixas pode ter sido mais acaso do que um projeto."