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Conflito entre EUA e Irã: existe lado certo na crise entre os dois países?

O presidente dos EUA, Donald Trump, e o do Irã, Hassan Rouhani - Montagem com AFP Photo e Presidência do Irã
O presidente dos EUA, Donald Trump, e o do Irã, Hassan Rouhani Imagem: Montagem com AFP Photo e Presidência do Irã

Wanderley Preite Sobrinho

Do UOL, em São Paulo

09/01/2020 04h02

Resumo da notícia

  • A ação dos EUA que matou um general iraniano gerou posições antagônicas
  • Especialistas e colunistas do UOL avaliam o conflito
  • Trump afirma que general morto era terrorista
  • E o Irã acusa os EUA de ter cometido um ato criminoso

Era madrugada de sexta-feira (noite de quinta no Brasil) quando um ataque perto do Aeroporto Internacional de Bagdá, no Iraque, matou o segundo homem mais importante do Irã, o general Qassim Suleimani. A ação gerou tanta tensão no mundo que se chegou a falar em risco de uma Terceira Guerra Mundial.

Em um simulacro da Guerra Fria, Brasil e países da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) saíram em defesa dos Estados Unidos, enquanto Rússia e China declararam apoio ao Irã, que prometeu vingança.

Ontem, em pronunciamento, o presidente dos EUA, Donald Trump, voltou a dizer que Suleimani era terrorista. Para o Irã, Suleimani morreu como "mártir" e a ação norte-americana foi "uma aventura criminosa".

Veja argumentos a favor de cada um dos lados desse conflito:

Argumentos que embasam a ação dos EUA:

  • "General era burro e superestimado":

"Trump ordenou o assassinato do homem que era possivelmente o mais burro do Irã e o estrategista mais superestimado do Oriente Médio", escreveu o comentarista político Thomas L. Friedman para o jornal americano The New York Times. "Em 2015, os EUA e as principais potências europeias concordaram em suspender praticamente todas as suas sanções em troca de o Irã interromper seu programa de armas nucleares por meros 15 anos."

"E o que Suleimani fez com esse golpe de sorte? Lançou um projeto imperial regional agressivo que tornou o Irã e seus representantes o poder controlador de fato em Beirute, Damasco, Bagdá e Saná. Isso assustou os aliados dos EUA no mundo árabe sunita e Israel, que pressionaram o governo Trump por uma resposta."

  • Pressão econômica era insuficiente para barrar o Irã

"Os americanos concluíram que terão que aumentar a força e que, no Oriente Médio, para ser levado a sério, você deve usar violência", afirma Faris Modad, diretor para o Oriente Médio da consultoria IHS Markit.

"Trump estava usando apenas a pressão econômica, e apenas com isso não seria bem-sucedido. Agora, ele está usando pressão econômica e violência, com pouca, mas alguma chance de sucesso."

  • O assassinato do general não foi burrice

"A justificativa americana de que matou Suleimani porque o Irã fez o mesmo com um funcionário americano e ainda tentou invadir sua embaixada é uma justificativa aceita por muitos americanos", afirma o cientista político Sérgio Praça, da FGV. "Se os simpatizantes de Trump aceitarem esse argumento, ele tem um trunfo: como os EUA estariam sob ameaça, 'matamos um sujeito que nos causou muitos problemas'."

"Acho que o Trump aposta que o Irã não é capaz de responder na mesma proporção. Se isso acontecer, será uma vitória para Trump. Até agora é uma vitória. O assassinato do general não foi irracional nem burrice, foi ousado."

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Argumentos contrários à ação dos EUA:

  • "O interesse de Trump é se reeleger":

"Trump precisa criar fatos novos por estar sofrendo um processo de impeachment. Embora não deva dar em nada porque o Senado tem maioria republicana, ele sai desgastado e precisa manter sua base aliada unida", acredita a professora de relações internacionais da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) Cristina Pecequilo.

Em Israel, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu também sofre pressão e ameaça de impeachment. "Quando o cenário é bastante instável no Oriente Médio, quem tem discurso de guerra ganha popularidade", afirma.

  • "EUA querem vender armas"

"Os Estados Unidos são um dos maiores fabricantes de armas do mundo. E onde é a melhor região para vendê-las? No Oriente Médio", afirma o xeque Houssein Khaliloo, 42, o líder religioso do Centro Imam Al Mahdi, em São Paulo.

"E para vender essas armas é preciso grupos terroristas, como o Estado Islâmico, criado e financiado pelos americanos. Como o general começou a combater esses grupos, os EUA começaram a perder a influência sobre a região. Por isso eles se organizaram para matar Suleimani. Ele era um símbolo da resistência contra esses braços armados."

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Nenhum dos lados tem razão

  • Pelos iranianos e contra os aiatolás

"Os Estados Unidos estão colhendo os frutos de erros cometidos ao longo de décadas na política externa, com apoios a tiranos e com intervenções militares desastradas", afirma o colunista de política internacional do UOL, Diogo Schelp.

"Do outro lado, uma ditadura teocrática que persegue gays, oprime mulheres e promove o terrorismo internacional. Nesses termos, se houver guerra, resta torcer a favor dos iranianos — mas contra os aiatolás. Ou seja, que a população civil seja minimamente afetada, mas que o regime que a oprime sofra o máximo revés."

  • Dá para ter um lado: o do povo sofrido do Iraque

"Tanto os Estados Unidos quanto o Irã deveriam deixar o Iraque", afirma o colunista do UOL Leonardo Sakamoto. "Ambos os governos defendem, hipocritamente, a ocupação do país com suas forças militares sob a justificativa do risco representado pelo grupo terrorista Estado Islâmico/ISIS e para ajudar na reconstrução do país."

"Se quisessem ajudar Bagdá a se reerguer, criariam um fundo para a reconstrução do país e deixariam a tarefa para os próprios iraquianos, auxiliados por forças sob o comando das Nações Unidas para impedir que o ISIS se beneficie do vácuo de poder" diz. "Dá para ter um lado sim, o do povo sofrido do Iraque."

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