Trump diz que Brasil vive 'momento difícil' com gráfico de coronavírus 'muito alto, quase vertical'
É a segunda vez essa semana que o presidente americano menciona o país como exemplo negativo no combate à epidemia.
Em coletiva de imprensa na Casa Branca na noite desta quinta-feira (30), o presidente americano Donald Trump voltou a comentar a situação da epidemia de covid-19 no Brasil — que contabiliza hoje 5.901 óbitos e 85.380 casos, e nas últimas 24 horas teve recorde de novos diagnósticos, 7,2 mil.
"Eu odeio dizer, mas o Brasil está muito alto, o gráfico está muito, muito alto. Lá em cima, quase vertical", afirmou o americano, que seguiu: "O presidente do Brasil é realmente um bom amigo meu, um ótimo homem, mas eles estão vivendo um momento muito difícil".
Trump mencionou a situação brasileira enquanto comentava o caso da Suécia, que segundo ele também tem tido números negativos na pandemia de coronavírus.
De acordo com Trump, o problema foi a decisão do país europeu de não impor lockdown, o isolamento social amplo. Em um post ainda nesta quinta em sua conta na rede social Twitter, Trump afirmou que os suecos "estão pagando um preço alto" por terem evitado a quarentena, com mais vítimas fatais do que seus vizinhos, Noruega, Dinamarca e Finlândia.
"Os Estados Unidos tomaram a decisão correta", postou Trump.
A seis meses de concorrer à reeleição, Trump tem tentado justificar os drásticos resultados da recessão (a economia americana encolheu, 4,8% no primeiro trimestre de 2020) pela opção de priorizar a saúde e a vida dos americanos, ao mesmo tempo em que tem pressionado governadores pela reabertura dos comércios nos Estados. Ele teme que a crise, que já resultou em 30 milhões de desempregados, possa custar votos em novembro, quando ocorrerá o pleito.
Segunda menção ao Brasil essa semana
É a segunda vez em pouco mais de 48 horas que Trump menciona o Brasil como exemplo negativo do combate à pandemia.
Na terça-feira, dia 28, em uma conferência ao lado do governador da Flórida Ron de Santis, Trump afirmou: "O Brasil tem praticamente um surto, como vocês sabem (...) Se você olhar os gráficos você vai ver o que aconteceu infelizmente com o Brasil. Estamos olhando para isso bem de perto".
Na ocasião, Trump questionou De Santis se ele não cogitava banir voos do Brasil para a Flórida e mencionou que o país tem se saído pior do que os demais vizinhos sul-americanos no controle do vírus.
O governo federal americano tem estudado uma medida como essa há cerca de um mês e Trump afirma que sua decisão sobre o assunto será tomada nos próximos dias.
O governador da Flórida descartou por enquanto o banimento de voos do Brasil para o seu Estado, mas afirmou que estuda a possibilidade de obrigar as companhias aéreas a submeterem brasileiros a testes rápidos de coronavírus antes do embarque. O Brasil é o principal parceiro comercial da Flórida.
Críticas do aliado prioritário
Ao expressar preocupação publicamente por duas vezes na mesma semana sobre a condição do Brasil diante da epidemia, Trump manda uma mensagem forte a Bolsonaro e sugere não aprovar a condução da crise pelo colega.
Bolsonaro minimizou a crise diversas vezes e, nesta quarta, confrontado por repórteres com o número de mortos chegou a responder: "E daí? Quer que eu faça o quê?".
O presidente brasileiro é crítico de medidas de quarentena — que pessoalmente burla quase que diariamente — e vem pressionando governadores e prefeitos a relaxarem o distanciamento social. A postura levou à crise com seu então ministro da saúde Luiz Henrique Mandetta, demitido em meados de abril.
Trump é o aliado preferencial do Brasil hoje no xadrez global e Bolsonaro esteve quatro vezes no país desde que tomou posse, um recorde entre os presidentes brasileiros após a redemocratização.
O americano vem seguindo com atenção a situação no país. Na última quarta, dia 29, seu secretário de Estado, Michael Pompeo, e o chanceler brasileiro Ernesto Araújo tiveram uma conversa telefônica para tratar da importância de uma resposta centralizada contra a covid-19 nas Américas. Eles falaram também sobre os esforços de produção de suprimentos médicos e de uma vacina contra a doença.
A preocupação do presidente americano é que a epidemia no Brasil possa levar ao retorno de um surto nos Estados Unidos, pelo trânsito de pessoas entre os dois países. Uma segunda onda da doença, além de drenar ainda mais os recursos humanos e financeiros dos EUA, que já contam com mais de um milhão de casos e mais de 60 mil mortes, poderia significar o fim da candidatura de Trump à Casa Branca.
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