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Quem são as duas mulheres que lideram apostas para vice de Joe Biden contra Trump

Susan Rice e Kamala Harris são as personalidades mais cotadas para compor a chapa democrata com Joe Biden - Reuters e Getty Images
Susan Rice e Kamala Harris são as personalidades mais cotadas para compor a chapa democrata com Joe Biden Imagem: Reuters e Getty Images

Da BBC

11/08/2020 16h29

Nos próximos dias, o eleitorado americano deve conhecer quem será a companheira de chapa de Joe Biden, candidato democrata que concorrerá com Donald Trump nas eleições dos EUA de novembro.

Biden prometera ter uma mulher como vice e disse procurar alguém com quem tenha "química pessoal", mas sabe-se que a figura do vice-presidente também ajuda a puxar votos — no caso, particularmente do eleitorado feminino — e a trazer dinheiro de doadores.

A expectativa é de que Biden, que por enquanto mantém uma liderança estável nas pesquisas de opinião, anuncie sua candidata a vice-presidente antes do início da Convenção Democrata, que começa na segunda-feira (17).

Na lista de 13 nomes de potenciais concorrentes há figuras de peso, como a senadora (e ex-pré-candidata presidencial) Elizabeth Warren. Mas há duas que são apontadas como favoritas: Susan Rice e Kamala Harris.

Além das credenciais de ambas, elas ganham força no momento em que cresce a pressão para que Biden não tenha apenas uma mulher como vice, mas uma mulher negra.

A BBC traz a seguir o perfil de cada uma delas:

Susan Rice, nome de peso (e polêmica) na política externa

Ex-conselheira especial de Segurança da Casa Branca e ex-embaixadora dos EUA na ONU durante o governo de Barack Obama, Susan Rice, 55 anos, trabalhou ao lado de Joe Biden quando este era vice-presidente.

E, mesmo que não seja chamada para vice agora, ela deve exercer alguma influência significativa em um eventual governo democrata.

Pode, por exemplo, ser chamada para o poderoso cargo de secretária de Estado, que foi ocupado por Hillary Clinton durante o governo Obama.

Sua biografia faz com que seja uma escolha natural para o alto escalão, mas Rice nunca disputou uma eleição, e alguns analistas questionam se ela terá ativos políticos para acrescentar a uma campanha eleitoral.

Durante o governo Obama, ela foi um para-raios de polêmicas. Depois que postos diplomáticos americanos foram atacados em Benghazi (Líbia), em 2012, Rice descreveu a ação na TV como "violência espontânea", sendo que na verdade foram agressões organizadas por grupos extremistas.

O caso ganhou ampla atenção nos EUA porque resultou na morte de quatro cidadãos americanos, incluindo o embaixador J. Christopher Stevens.

Republicanos teceram duras críticas a Rice na época, e ela respondeu dizendo que ofereceu ao público as informações que tinha em mãos naquele momento.

Quase uma década depois, essa polêmica ainda é apontada como um possível ponto fraco que pode ser explorado durante a campanha presidencial.

Para o analista de terrorismo Michael S. Smith II, da Universidade Johns Hopkins, o tema costuma ser explorado por conservadores que argumentam que os democratas são desonestos quanto ao perigo real de grupos extremistas.

"Ela foi posta em evidência por conservadores que disseram que Obama estava mentindo ao público quanto às ameaças da Al-Qaeda" e outros grupos, diz ele.

Ao mesmo tempo, muitos democratas creem que Rice adicionaria brilho ao cargo de vice, por sua experiência. Ela ajudou, por exemplo, Biden e outros nomes da Casa Branca a costurar o acordo nuclear com o Irã em 2015 e participou das negociações do Acordo Climático de Paris. Ambos foram abandonados por Trump.

David Litt, ex-redator de discursos para Obama, opina que Rice seria uma excelente escolha por sua experiência no cenário global e habilidade para restaurar relações com aliados internacionais e "o lugar dos EUA no mundo".

Depois de deixar a Casa Branca, Rice escreveu um livro de memórias no qual conta sua história familiar: seu bisavô foi escravizado, e parte de seus antepassados veio da Jamaica.

Ela conta também que "não tinha a paciência e a deferência para concorrer a cargos políticos e não tinha vontade de comprometer meus princípios".

Recentemente, porém, ela deu indícios diferentes. Durante uma entrevista na TV, afirmou que traria ao cargo de vice uma bagagem de décadas de experiência no Poder Executivo, inclusive na luta contra a pandemia, por sua vivência na política internacional durante surtos de ebola.

Também disse que entende "profundamente as repercussões econômicas para os americanos que estão sofrendo" os efeitos da pandemia e como isso "afeta desproporcionalmente as comunidades negras".

Kamala Harris e o debate racial e judicial

No ano passado, a senadora da Califórnia Kamala Harris, 55, surgiu na dianteira de um embolado campo de pré-candidatos democratas, graças a uma série de bons desempenhos em debates eleitorais - e por duras críticas ao então rival interno Joe Biden em questões de raça. No entanto, a campanha de Harris não sobreviveu para além do início do ano.

Agora, ela tem a chance de participar da campanha, no papel de vice.

Nascida de pais imigrantes (uma mãe indiana e um pai jamaicano), Harris foi criada majoritariamente pela mãe, pesquisadora de câncer e ativista de direitos civis.

"Minha mãe entendia muito bem que estava criando duas filhas negras", escreveu Harris em sua autobiografia. "Ela estava determinada a garantir que nos tornaríamos mulheres negras confiantes e orgulhosas."

Sobre sua origem mista, apontada como um possível obstáculo para ela se identificar com eleitores negros, Harris afirmou em 2019 ao Washington Post que políticos não devem ser estereotipados por sua cor ou ascendência.

"Eu sou quem eu sou. Estou bem com isso. Você talvez tenha que entender isso melhor, mas eu estou bem com isso."

Depois de cursar a universidade negra Howard, Harris estudou Direito na Universidade da Califórnia em Hastings e iniciou sua carreira na Promotoria do Condado de Alameda. Tornou-se promotora-chefe em São Francisco em 2003, antes de ser eleita a primeira negra procuradora-geral da Califórnia.

No cargo, ganhou reputação como estrela ascendente do Partido Democrata, até ser eleita ao Senado americano.

No Legislativo, Harris se destacou durante seus ásperos questionamentos a dois indicados por Trump - Brett Kavanaugh, então nomeado à Suprema Corte, e William Barr, nomeado ao cargo equivalente a ministro da Justiça.

Quando ela anunciou sua candidatura presidencial, houve entusiasmo entre progressistas. Mas logo ela começou a ser criticada por não trazer respostas claras a problemas amplos e cruciais, como saúde.

Ela tampouco conseguiu capitalizar em cima de um ponto-chave: sua boa performance em debates, que comumente colocava Biden contra a parede.

Harris tentou caminhar sobre a tênue linha que separa moderados e progressistas no Partido Democrata, mas acabou não fidelizando nenhum desses públicos.

Em março, Harris declarou apoio a Biden, afirmando que faria "tudo em meu poder para ajudá-lo a se eleger o próximo presidente dos EUA".

A participação na corrida eleitoral tem colocado o histórico de Harris sob os holofotes. Apesar de ter uma visão mais à esquerda em questões como casamento homossexual e pena de morte, ela enfrentou críticas por não ser progressista o bastante em temas-chave como reforma policial, combate às drogas e condenações judiciais equivocadas.

Esses temas têm sido motivo de amplas discussões em meio aos debates antirracismo em curso nos EUA.

Em entrevistas recentes e no Twitter, Harris tem defendido mudanças em práticas policiais e pede pela prisão dos policiais que mataram Breonna Taylor, mulher negra de 26 anos morta pela polícia em sua casa.

Harris também tem falado sobre a necessidade de desconstruir o racismo estrutural no país. Mas, no que diz respeito à reforma policial, há divergências. Biden se opõe ao argumento de que a polícia deve ter seus orçamentos cortados. Harris tergiversa, pedindo uma "reimaginação" da segurança pública.

Em diversos momentos, ela afirmou que sua identidade a torna unicamente apta a representar os cidadãos marginalizados.