Eleições nos EUA: quem é Stacey Abrams, ativista que abriu caminho para a 'virada democrata' na Geórgia
O candidato democrata à Presidência dos Estados Unidos, Joe Biden, ficou mais próximo da vitória eleitoral nesta sexta-feira (06/11) com a virada da apuração dos votos no Estado da Geórgia.
Com 98% das urnas apuradas, a diferença de Biden para o republicano Donald Trump era de pouco mais de 1,5 mil votos, conforme o jornal The New York Times. As autoridades do Estado já anunciaram que irão fazer recontagem, independentemente do resultado final.
Mesmo com o cenário em aberto, contudo, o desempenho do candidato democrata neste que é considerado tradicional reduto republicano já é considerado um feito pelo partido. A última vez em que um democrata levou os 16 delegados do Estado foi em 1992, quando Bill Clinton foi eleito presidente.
Parte do desempenho em 2020 tem sido atribuído à mobilização de ativistas que nos últimos anos têm se dedicado a aumentar a participação de eleitores negros e de outros grupos minoritários nas urnas. O voto nos EUA não é obrigatório.
Um dos expoentes desse movimento é a advogada Stacey Abrams, de 46 anos. Candidata ao governo do Estado em 2018, ela perdeu por uma pequena margem de votos para o então candidato republicano, Brian Kemp, após um processo tumultuado de contagem de votos, que se estendeu por dias.
Da derrota ao registro de 800 mil novos eleitores
Na época, Abrams acusou a campanha do adversário, que fora secretário do Estado, de trabalhar para suprimir o voto de minorias.
Um ano antes, a Geórgia havia aprovado uma lei, batizada de exact match law, que determinava que os nomes dos eleitores nas listas de votação deveriam ser exatamente iguais àqueles contidos nos documentos de identificação estaduais. Se houvesse um hífen ou um acento diferente, o cidadão seria impedido de votar até que fossem realizadas verificações adicionais.
Grupos que atuam pelos direitos civis chegaram a entrar na Justiça na época contra a legislação, mas, por causa dela, os registros de 53 mil eleitores, sendo 70% deles negros, foram suspensos.
Pelo menos desde 2013, quando criou o New Georgia Project, Abrams atua para aumentar a participação desses grupos entre os eleitores registrados.
Vista como enclave de eleitores brancos conservadores, a Geórgia tem passado por uma transformação demográfica na última década.
Segundo o site da organização, a população cresceu 18%, graças ao aumento da participação de negros, jovens com idade entre 18 e 29 anos e mulheres solteiras.
Esses grupos compõem 62% da população com idade para votar, mas apenas 53% dos eleitores são registrados, diz a plataforma.
Após a derrota em 2018, Abrams ampliou sua atuação e fundou a organização Fair Fight (Luta Justa, em tradução livre), que passou a denunciar o que eram vistas como falhas no sistema eleitoral americano e a incentivar minorias e eleitores jovens a exercerem o direito ao voto.
Em uma entrevista à rádio NPR em 2 de novembro, às vésperas da eleição, Abrams afirmou que, nos últimos dois anos, a organização conseguiu registrar mais de 800 mil novos eleitores na Geórgia. Do total, 49% são negros e 45% têm menos de 30 anos.
Ela nasceu no Estado de Wisconsin, cresceu no Mississipi e, aos 16 anos, mudou-se para a Geórgia com os cinco irmãos e os pais, que iam cursar teologia da Universidade Emory para se tornarem pastores.
Formou-se na faculdade Spelman, em Atlanta, historicamente cursada por mulheres negras, graduando-se com menção honrosa magna cum laude.
Depois, graduou-se em políticas públicas na Universidade do Texas em Austin e tornou-se bacharel em Direito pela prestigiada Universidade Yale.
A advogada foi deputada estadual por 11 anos, entre 2007 e 2017, sendo líder democrata durante sete.
Em paralelo à carreira política, Abrams também se dedicou à literatura.
Sob o pseudônimo de Selena Montgomery, escreveu diversos livros de ficção e, com seu nome original, publicou recentemente duas obras de não ficção: o manifesto político Our Time is Now (Nosso tempo é agora, em tradução livre), lançado em 2020, e Lead from the Outside (Como liderar do lado de fora), de 2018.
Em uma entrevista à revista do New York Times em 2019, quando questionada se tinha vontade de se desligar um pouco da vida política para se dedicar a escrever, ela respondeu: "Adoraria, mas o que me move agora ? e o que o momento pede ? é que eu tente descobrir como eu posso, da maneira mais eficiente possível, preservar e melhorar nossa democracia e desafiar as políticas que continuam agravando a pobreza".
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