América Latina na mira do primeiro hispânico à frente da diplomacia dos EUA
Com Marco Rubio como primeiro secretário de Estado hispânico, a América Latina estará sob a lupa do próximo governo americano, avaliam analistas, que preveem máxima pressão sobre Cuba, Venezuela e Nicarágua, assim como uma aproximação com as "novas direitas" da Argentina e de El Salvador.
Embora especialistas avaliem que enfrentar a concorrência com a China e as guerras na Ucrânia e no Oriente México estejam no centro da agenda de Donald Trump e de seu próximo chefe da diplomacia, por sua origem e trajetória, eles também acreditam que Rubio prestará mais atenção na América Latina que seus antecessores.
Senador durante três mandatos, Rubio, de 53 anos, nasceu na Flórida, onde construiu sua carreira política pelas diásporas anticastrista e venezuelana.
Fala espanhol fluentemente e conhece a fundo a dinâmica do poder em Cuba, a ilha onde seus pais, que emigraram três anos antes da chegada de Fidel Catro ao poder em 1959, nasceram.
Foi muito influente na política para a região no primeiro mandato de Trump, e qualificou de "fraca" a política do presidente Joe Biden para a América Latina.
Ao anunciar sua nomeação, Trump o descreveu como "um guerreiro incansável que nunca retrocederá" diante dos adversários dos Estados Unidos e uma "voz muito poderosa para a liberdade".
O governo cubano não reagiu oficialmente.
Arturo López-Levy, pesquisador cubano do Instituto de Estudos Regionais Comparados da Universidade de Denver (Estados Unidos), considera que a nomeação de Rubio é "a tempestade perfeita" para uma Cuba submersa em sua pior crise econômica em três décadas com escassez de alimentos, medicamentos e combustível, além de apagões crônicos.
Abertura "democrática"
Rubio foi figura-chave na aplicação de 243 medidas para reforçar o embargo americano durante o primeiro mandato de Trump (2017-2021), que incluíram sua reincorporação à lista de patrocinadores do terrorismo e que asfixiam Cuba.
López-Levy supõe que o governo cubano responderá com "sobriedade" porque tem "muita experiência em lidar com esse tipo de política".
Ele também acredita que Havana usará "a ameaça, a retórica e o discurso extremista dessas pessoas para fechar a porta e tornar a vida mais difícil para os dissidentes internos".
Centenas de manifestantes continuam presos em Cuba por causa das marchas históricas de 11 de julho de 2021 e suas consequências, e a polícia está constantemente convocando cidadãos para interrogatório por se expressarem nas redes sociais ou saírem para protestar.
A política linha-dura de Rubio também tem como alvo uma Venezuela governada por Nicolás Maduro e a Nicarágua com Daniel Ortega no comando. "Eles serão pressionados por Washington para realizar uma mudança de regime", prevê Rosendo Fraga, diretor do Centro de Estudos Nueva Mayoría, em Buenos Aires, que inclui a Bolívia nesse grupo.
A oposição venezuelana, liderada por María Corina Machado e Edmundo González, foi rápida em parabenizar Trump um dia após sua vitória e prometeu ser um aliado "confiável" no caso de conseguir tirar Maduro do poder.
"Nunca como hoje há uma oportunidade de avançar em direção à democratização da América Latina", disse Machado em uma entrevista à AFP.
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Quero receber"Aumento da influência chinesa e russa"
No primeiro mandato de Trump, Rubio ajudou a convencê-lo a aplicar duras sanções contra Caracas e reconheceu o então chefe do Parlamento, o líder da oposição Juan Guaidó, como presidente interino em uma tentativa fracassada de forçar a saída de Maduro.
Rubio critica a presença da China na região, mas maiores sanções contra a Venezuela e Cuba "provavelmente favorecerão uma maior influência chinesa e russa no hemisfério", estima Christopher Sabatini, pesquisador da América Latina na Chatham House, um think tank com sede em Londres.
Seria um dilema para Rubio, que é favorável a uma política externa mais agressiva em relação à China e ao fim da guerra da Rússia com a Ucrânia.
O México é um caso à parte. Fraga estima que o governo Trump criará "um diálogo particular" com seu vizinho do sul. Em sua campanha, Trump prometeu deportações em massa de migrantes e tarifas de pelo menos 25% sobre as exportações mexicanas.
Em outros lugares da região, os governos de esquerda do Brasil, Colômbia e Chile "se encontrarão mais distantes de Washington" do que com Biden, prevê Fraga.
Novos aliados serão o ultraliberal Javier Milei, da Argentina, e Nayib Bukele, de El Salvador, "os novos presidentes de direita mais proeminentes", que Trump "favorecerá", acrescentou.
Rubio se reuniu com Milei em Buenos Aires em fevereiro. E o presidente argentino foi o primeiro da região a se reunir com Trump após seu triunfo, que ele considerou "o maior retorno político da história".