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Crise em Jerusalém: 3 fatores que explicam nova escalada da violência entre palestinos e israelenses

Confrontos violentos ocorreram do lado de fora da mesquita de Al Aqsa, na Cidade Velha de Jerusalém - Reuters
Confrontos violentos ocorreram do lado de fora da mesquita de Al Aqsa, na Cidade Velha de Jerusalém Imagem: Reuters

11/05/2021 11h05Atualizada em 11/05/2021 11h07

Jerusalém tem sido palco de semanas de agitação e violência, em uma nova escalada de tensões entre palestinos e forças de segurança israelenses que deixou pelo menos 22 mortos e mais de 300 feridos.

Em meio a tensões crescentes, foguetes foram disparados de Gaza para Jerusalém na segunda-feira (10/05), provocando a evacuação do parlamento israelense em meio ao som de sirenes de emergência.

Fontes palestinas relataram na segunda-feira que, em resposta a esses lançamentos de foguetes, Israel bombardeou 130 alvos em Gaza. Autoridades palestinas dizem que o ataque matou pelo menos 22 pessoas, incluindo nove crianças. Israel afirma que 15 integrantes do grupo palestino Hamas, que controla a Faixa de Gaza, estão entre os mortos.

Na manhã desta terça-feira, ainda era possível ouvir o som de foguetes sendo lançados na região. Uma fonte do Hamas disse à BBC que mais de 300 foguetes foram lançados de Gaza contra Israel em 12 horas.

Diplomatas de Estados Unidos, Rússia, Reino Unido e União Europeia pediram para ambos os lados baixarem o nível de tensão na região. O secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, disse que o Hamas deve encerrar os ataques com foguetes "imediatamente", acrescentando: "Todos os lados precisam diminuir a escalada".

A porta-voz da Casa Branca Jen Psaki disse que o presidente dos EUA, Joe Biden, está seriamente preocupado com a violência.

Mas o premiê Benjamin Netanyahu defendeu a ação "com grande força" de Israel, afirmando que o grupo Hamas "atravessou uma linha vermelha".

Os mais recentes confrontos em Jerusalém ocorreram na segunda-feira em frente à mesquita de Al Aqsa, na cidade velha. Palestinos atiraram pedras na polícia de choque israelense, que disparou balas de borracha e gás lacrimogêneo.

O Crescente Vermelho Palestino (movimento humanitário semelhante à Cruz Vermelha) disse na segunda-feira que mais de 300 palestinos foram feridos até agora e que pelo menos 228 foram levados ao hospital para tratamento. Sete deles estão em estado crítico.

A força policial israelense disse que 21 policiais ficaram feridos, três dos quais necessitaram de tratamento hospitalar.

Esses são os piores confrontos desse tipo em Jerusalém desde 2017, alimentados em grande parte por uma tentativa de colonos judeus de reivindicar a posse de casas de famílias palestinas em Jerusalém Oriental anexada a Israel. Esse imbróglio sobre as casas vem se arrastando há anos na justiça.

Confira abaixo três pontos importantes para entender a crescente tensão em Jerusalém.

1. Dia de Jerusalém

Os confrontos entre palestinos e forças de segurança israelenses ocorreram no fim de semana e pioraram na segunda-feira em torno da mesquita de Al Aqsa. A mesquita está situada em uma esplanada conhecida pelos muçulmanos como Haram al Sharif, ou Nobre Santuário, e pelos judeus, como Monte do Templo.

A força policial de Israel disse que milhares de palestinos montaram barricadas no local na noite de segunda-feira com pedras e coquetéis molotov em antecipação a um confronto durante uma marcha judaica planejada para para marcar o Dia de Jerusalém.

O primeiro-ministro Netanyahu defendeu o policiamento.

"Esta é uma batalha entre tolerância e intolerância, entre a violência sem lei e a ordem", disse ele. "Os elementos que querem expropriar nossos direitos nos obrigam periodicamente a permanecer firmes, como os policiais israelenses estão fazendo."

Por sua vez, o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, condenou as ações israelenses.

"O ataque brutal das forças de ocupação israelenses aos fiéis na mesquita sagrada de Al Aqsa e sua esplanada é um novo desafio para a comunidade internacional", disse seu porta-voz, Nabil Abu Rudeineh.

Os conflitos começaram na véspera do Dia de Jerusalém, quando acontece a chamada Marcha da Bandeira, em que israelenses comemoram a captura da parte oriental de Jerusalém por Israel em 1967. Foi nessa ocasião, durante a Guerra dos Seis Dias, que Israel assumiu o controle efetivo de toda a cidade.

A Cidade Velha está localizada em Jerusalém Oriental, que abriga alguns dos locais religiosos mais sagrados do mundo: a Cúpula da Rocha e a própria mesquita de Al Aqsa dos muçulmanos, o Monte do Templo e o Muro das Lamentações, da religião judaica, e o Santo Sepulcro da religião cristã.

É considerada a cidade mais sagrada para o Judaísmo e o Cristianismo, e é a terceira cidade mais sagrada do Islã.

O destino de Jerusalém Oriental está no centro do conflito israelense-palestino, e ambas as partes reivindicam seu direito sobre a cidade. Israel considera a cidade inteira como sua capital, embora não seja reconhecida como tal pela maioria da comunidade internacional. Os palestinos reivindicam Jerusalém Oriental como a futura capital de um futuro Estado independente.

Normalmente, durante a Marcha das Bandeiras, centenas de jovens israelenses agitam bandeiras e caminham por áreas muçulmanas, cantando canções patrióticas.

Muitos palestinos veem isso como uma provocação.

Anteriormente, a polícia israelense decidiu proibir os judeus de visitar o complexo durante as comemorações do Dia de Jerusalém.

2. Possível despejo de famílias palestinas

Grande parte da mais recente onda de violência aconteceu em meio a um esforço legal de anos por grupos de colonos judeus, que querem despejar várias famílias palestinas de suas casas no distrito de Sheikh Jarrah, em Jerusalém Oriental.

Uma decisão de um tribunal inferior este ano apoiando a reivindicação dos colonos despertou a ira dos palestinos.

A Suprema Corte de Israel deveria realizar uma audiência sobre o caso na segunda-feira, mas a sessão foi adiada devido aos distúrbios.

3. Tensões durante o Ramadã

Esta nova onda de violência ocorre nos últimos dias do mês sagrado muçulmano do Ramadã.

As tensões aumentaram desde o início das festividades, em meados de abril, com uma série de eventos que geraram motins.

Quando o Ramadã começou, confrontos noturnos eclodiram entre a polícia e palestinos que protestavam contra barreiras de segurança do lado de fora do Portão de Damasco, na cidade velha de Jerusalém, que os impediam de se reunir ali durante a noite.

Mas os confrontos não se limitaram apenas a Jerusalém. Também foram registrados confrontos na cidade de Haifa, no norte de Israel, e perto da cidade de Ramallah, na Cisjordânia.

Negociadores do Quarteto para o Oriente Médio - grupo formado por Estados Unidos, União Europeia, Rússia e ONU para negociar a crise na região - expressaram profunda preocupação com a violência, instando todas as partes a adotarem moderação.