Por que os EUA dizem que Al-Qaeda pode voltar a ser ameaça?
Conselheiro do presidente americano Joe Biden para assuntos militares, o general Mark Milley afirmou a parlamentares nesta terça-feira (28) que terroristas do grupo Al-Qaeda no Afeganistão são uma ameaça para os Estados Unidos já nos próximos 12 meses.
Depois de tomar o poder no Afeganistão, o Talibã não rompeu laços com a Al-Qaeda e tampouco deixou de ser ele próprio uma organização terrorista, acrescentou o general.
Milley e o secretário de Defesa, Lloyd Austin, estão sendo sendo interrogados no Senado sobre a retirada dos EUA do Afeganistão no mês passado.
O senador Jack Reed, líder da comissão parlamentar sobre assuntos militares, disse que ele e colegas querem entender se os Estados Unidos "perderam sinais " do colapso do governo afegão. A pressão é grande sobretudo por parte dos republicanos, que chegaram a pedir a demissão de Milley nas últimas semanas.
A sessão desta terça-feira ocorre semanas depois de uma retirada caótica do aeroporto de Cabul, capital afegã, em que potências ocidentais resgataram milhares de seus cidadãos e também tentaram transportar afegãos desesperados para deixar seu país.
Durante a operação, um ataque suicida em 26 de agosto matou 182 pessoas, incluindo 13 militares dos EUA e pelo menos 169 afegãos.
'Pegos de surpresa'
Milley admitiu que, depois da retomada do poder pelo Talibã e da retirada dos EUA, será mais difícil proteger os americanos de ataques terroristas planejados no Afeganistão.
"O Talibã foi e continua sendo uma organização terrorista e ainda não rompeu laços com a Al-Qaeda", afirmou o general, que tem o papel de fazer uma ponte entre o Pentágono e a Casa Branca, não atuando mais diretamente no comando militar.
"Uma Al-Qaeda ou um ISIS [Estado Islâmico] reconstituídos e com aspirações de atacar os EUA são uma possibilidade muito real, e essas condições para a realização de espaços não governados podem se apresentar nos próximos 12-36 meses."
Milley disse que, no final de 2020, já tinha a percepção de que uma rápida retirada das tropas americanas do Afeganistão poderia precipitar o colapso do governo local, mas ele e Lloyd Austin admitiram que a velocidade deste colapso pegou as forças armadas americanas desprevenidas.
"Nós ajudamos a construir um estado, mas não podíamos construir uma nação", disse Austin.
Nos pegou de surpresa o fato de que o exército afegão que nós e nossos parceiros treinamos simplesmente derreteu, em muitos casos sem o disparo de um tiro sequer.
Lloyd Austin, secretário de Defesa
Mantendo as tropas no solo
Outro general, Kenneth McKenzie, que como chefe do Comando Central dos EUA supervisionou a retirada do Afeganistão, disse a parlamentares que recomendou manter uma pequena força de 2.500 militares americanos no Afeganistão.
Isso contradiz uma declaração anterior de Biden de que ele não se lembrava de alguém ter dado um conselho assim. O presidente americano afirmou isso em uma entrevista à rede ABC.
Depois, a porta-voz da Casa Branca Jen Psaki afirmou que "o presidente valoriza os conselhos francos dos militares e sua chefia", mas ressalvou que "isso não significa que ele sempre concorda com isso."
A porta-voz também colocou que, se as tropas americanas permanecessem no Afeganistão depois de agosto, os Estados Unidos estariam hoje em guerra com o Talibã.
As tropas americanas chegaram ao Afeganistão no final de 2001, depois dos ataques às torres do World Trade Center em 11 de setembro. Até a retirada neste ano, os EUA gastaram em suas operações no Afeganistão cerca de US$ 985 bilhões e mobilizaram milhares de soldados, chegando a 110 mil deles em 2011.
Nas semanas entre a tomada de Cabul pelo Talibã e o prazo acordado para retirada dos EUA em 31 de agosto, 4.000 militares americanos foram retirados do país asiático, além de 50 mil refugiados afegãos.
Espera-se que Milley e McKenzie sejam questionados sobre um ataque com drones realizado pelos EUA em Cabul no dia 29 de agosto, que matou 10 pessoas inocentes de uma mesma família.
Logo após o ataque, o general McKenzie afirmou que havia rastreado um carro pertencente a um membro da família que poderia ter ligação com o Estado Islâmico.
Milley originalmente descreveu o ataque como "justo", mas depois que o Pentágono reconheceu que todos os mortos eram civis, o general recuou e admitiu que tinha se precipitado em sua fala.
'Não vamos atacar a China'
Veio à tona recentemente que o general teve conversas com militares chineses devido a preocupações com o então presidente americano Donald Trump.
Os telefonemas foram revelados em um livro do jornalista Bob Woodward, segundo o qual Milley disse a sua equipe que, se Trump ordenasse um ataque nuclear, o general teria que confirmá-lo antes.
O senador republicano Marco Rubio classificou esta postura como uma "traição".
Mas o general Milley disse a senadores que as ligações foram alinhadas com o então secretário de Defesa Mark Esper e seu sucessor interino, Christopher Miller.
"Eu sei, estou certo de que o presidente Trump não pretendia atacar os chineses... E era minha responsabilidade, apontada pelo secretário, transmitir essa postura aos chineses."
"Minha tarefa naquela época era diminuir a escalada (de um conflito). De novo, minha mensagem foi consistente: 'Fiquem calmos, firmes e arrefeçam a escalada. Não vamos atacar."
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