Dezenas de afegãos e 13 militares dos EUA morrem em atentado em Cabul
Ao menos 73 pessoas morreram em função das duas explosões do lado de fora do aeroporto de Cabul, capital do Afeganistão. O Pentágono — sede do Departamento de Defesa dos Estados Unidos — confirmou hoje que 13 militares americanos estão entre as vítimas. A agência de notícias Associated Press (AP) também informa 60 vítimas civis.
A autoria do ataque foi reivindicada pelo Estado Islâmico, segundo informado pela Amaq News, agência do grupo extremista, em seu canal no Telegram.
De acordo com informações divulgadas em coletiva de imprensa pelo general Kenneth F. McKenzie, chefe do Comando Central dos EUA, outros 15 militares ficaram feridos. Relatos de um funcionário do Ministério da Saúde Pública afegão à CNN apontam para ao menos 140 feridos, ao todo.
Seguimos focados na proteção de nossas forças [de segurança] à medida que a evacuação continua. Para ficar claro: embora estejamos tristes pela perda de vidas, tanto americanas como afegãs, continuamos executando a missão. Nossa missão é evacuar os cidadãos americanos, cidadãos de países de terceiro mundo, portadores de visto de imigrante especial, diplomatas dos EUA e afegãos em risco.
Kenneth McKenzie, chefe do Comando Central
A informação sobre os militares mortos já havia sido confirmada pelo Pentágono por volta das 14h15 (horário de Brasília). Na ocasião, porém, o assessor de imprensa do órgão, John Kirby, não precisou o número exato de vítimas.
"Podemos confirmar que militares americanos foram mortos hoje no ataque ao aeroporto de Cabul. Outros foram feridos e estão sendo tratados. Também sabemos que alguns afegãos foram vítimas desse ataque hediondo. Nossos pensamentos e orações vão para os entes queridos e os colegas de todos aqueles que morreram ou ficaram feridos", disse Kirby, em nota.
Números divergem
Um oficial do Talibã informou à AFP que "de 13 a 20 pessoas" morreram nos dois ataques, entre elas, crianças. Oficialmente, 60 pessoas ficaram feridas e foram levadas ao Centro Cirúrgico de Cabul. A informação também foi confirmada pela ONG (Organização Não Governamental) Emergency, que oferece tratamento médico gratuito às vítimas de guerras e pobreza.
Nosso hospital em Cabul já estava com ocupação em 80% antes das explosões. Agora disponibilizamos leitos extras para receber os feridos vindos do aeroporto e que correm risco de morrer.
Rossella Miccio, presidente da Emergency
O Talibã, grupo fundamentalista que agora comanda o Afeganistão, repudiou as explosões em Cabul. Em comunicado, os extremistas disseram que o ataque aconteceu em uma área que ainda está sob controle militar dos EUA.
"O Emirado Islâmico [do Afeganistão, nome adotado pelo governo talibã] condena veementemente o bombardeio de civis, ocorrido em uma área onde as forças dos EUA são responsáveis pela segurança. O Emirado Islâmico está dando muita atenção à segurança e proteção de seu povo", escreveu o porta-voz Zabihullah Mujahid em uma rede social.
Suspeita de ataque suicida
Segundo publicado pelo jornal The Jerusalem Post, uma investigação preliminar aponta um ataque suicida com bomba como causa das explosões. Diplomatas ocidentais que ainda estão em Cabul também disseram a agências de notícias que acreditam nesta possibilidade como a mais provável.
Uma das explosões teria acontecido próximo ao portão Abbey, um dos três pontos de acesso ao Aeroporto Internacional Hamid Karzai, em uma área onde os civis afegãos têm seus documentos analisados. É neste local que ficam, majoritariamente, as tropas do Reino Unido.
Em nota, o Ministério da Defesa britânico disse não ter recebido informações sobre militares ou membros do governo mortos.
"Atualização: não foram reportadas mortes de militares ou membros do governo do Reino Unido após os incidentes em Cabul. As forças [de segurança] britânicas estão trabalhando junto a nossos aliados para dar segurança e oferecer assistência médica", informaram.
O primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, disse que o país continuará as operações de evacuação em Cabul, apesar das explosões no aeroporto.
Posso confirmar que houve um ataque terrorista bárbaro, que parece ser uma série de ataques, no aeroporto de Cabul (...), em que membros das Forças Armadas dos EUA infelizmente perderam suas vidas, assim como muitos afegãos. Acho que esses ataques são vis, mas receio que sejam algo para que temos que nos preparar. Isso não vai interromper nosso progresso [com as evacuações].
Boris Johnson, em entrevista coletiva
11 dias de Talibã
Capital do Afeganistão, Cabul foi tomada no último dia 15 pelo Talibã. O ato foi a maior movimentação do grupo em quase 20 anos, e foi feito sem muita resistência, de acordo com relatos vindos do país.
Até a véspera (14), os extremistas haviam conquistado províncias que ficavam localizadas ao redor da cidade, como uma forma de montar um cerco estratégico para avançar até Cabul. O presidente Ashraf Ghani e seu vice, Amrullah Saleh, deixaram o país horas após a entrada do Talibã na capital.
É a primeira vez desde outubro de 2001 que o grupo volta à capital. O risco de tomada de Cabul já era alertado por especialistas, que viam com apreensão a saída total das tropas americanas do Afeganistão depois de 20 anos de ocupação.
(Com AFP e Reuters)
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