Como seria a invasão da Ucrânia pela Rússia? Veja três cenários possíveis
Apesar do Kremlin sugerir o contrário, a Ucrânia continua cercada por tropas russas, tanto ao longo de sua longa fronteira com a Rússia quanto dentro da Crimeia ocupada.
A Rússia mobilizou forças terrestres, aéreas e navais que oferecem ao Kremlin um leque de possibilidades caso pretenda iniciar uma ação militar.
Não é a primeira vez que as forças russas parecem prontas para desafiar a soberania da Ucrânia, e o Ocidente não parece estar mais perto de saber o que fazer a respeito sem arriscar uma guerra entre Estados com armas nucleares.
A Rússia vem preparando o terreno para uma ação militar contra a Ucrânia desde 2014, quando anexou a Crimeia e, assim, ganhou uma posição militar mais substancial ao sul.
Enquanto isso, a guerra em andamento na região de Donbas, na Ucrânia, permitiu que as unidades de segurança e inteligência russas continuassem a avaliar as operações militares e paramilitares ucranianas.
Na primavera de 2021, a Rússia intensificou as ações contra a Ucrânia, chegando perto de uma guerra real.
O país lançou ataques cibernéticos e campanhas de desinformação, além de interromper o fornecimento de energia.
O Serviço de Segurança Ucraniano identificou unidades operacionais e inativas do Serviço Federal de Segurança da Rússia, do Serviço de Inteligência Estrangeira, da Inteligência Militar e das Forças Especiais operando dentro de suas fronteiras.
Se acontecer uma ação militar, há três cenários prováveis:
Cenário 1: 'decapitação'
A primeira possibilidade é a abordagem de "decapitação". As forças militares e de segurança russas tentariam remover os atuais poderes governamentais e estatais para inserir pessoas mais favoráveis a (e pertencentes a) Moscou.
Talvez surpreendentemente, isso implicaria manter algumas pessoas que já estão trabalhando no estado ucraniano.
Há figuras que demonstraram simpatia e trabalharam com a Federação Russa.
Este cenário provavelmente envolveria unidades de segurança e inteligência no solo da Ucrânia, assim como unidades do exercício militar que está sendo realizado em Belarus.
A maior preocupação para a Rússia neste cenário seria como os militares e a polícia ucraniana responderiam.
Também pode haver uma reação pública significativa contra uma mudança de governo liderada por Moscou.
Cenário 2: guerra no leste
A segunda possibilidade é a abordagem de guerra oriental.
Nesse caso, as forças russas procurariam reforçar as regiões separatistas em Donbas com armas, suprimentos e inteligência.
Essas áreas seriam então usadas como um trampolim para tomar mais território ucraniano no intuito de cobrir totalmente as áreas onde os russos étnicos e os ucranianos de língua russa estão localizados.
Tal manobra poderia levar as tropas russas até o rio Dnieper, que divide o país entre leste e oeste.
Também poderia se estender pela costa do Mar Negro até a fronteira com a Moldávia (onde está localizada outra região separatista reforçada pela Rússia).
Tal operação seria apoiada por forças militares baseadas dentro e ao redor da região russa de Rostov-on-Don, a leste da Ucrânia, tropas ao sul posicionadas na Crimeia e provavelmente também batalhões do exército russo baseados na separatista Transnístria, na Moldávia.
Cenário 3: invasão total
A última possibilidade é a abordagem de invasão total.
Todas essas forças mencionadas até agora, assim como unidades aéreas localizadas mais ao norte, tentariam derrotar a Ucrânia militarmente.
Elas usariam a experiência recente em operações de combate na Síria para derrotar qualquer insurgência popular contra as forças russas.
Essa abordagem seria devastadora para o povo da Ucrânia.
Um número de mortos considerável seria esperado entre as forças militares e policiais ucranianas, assim como entre as populações locais adjacentes aos combates.
Haveria grandes fluxos de refugiados para o oeste da Ucrânia e para os países fronteiriços, como Polônia, Hungria, Romênia e Moldávia.
Essa possível crise de refugiados pode ser a maior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial.
Repercussões assustadoras
É importante observar que essas abordagens não são mutuamente excludentes.
Elas podem até ocorrer sequencialmente se o Kremlin estiver insatisfeito com as mudanças que encontrar na Ucrânia ou no Ocidente.
Independentemente do que a Rússia faça, outros países com disputas não resolvidas sobre territórios separatistas, como a Moldávia com a Transnístria e a Geórgia com a Ossétia do Sul e Abkházia, estarão assistindo apreensivos aos eventos.
Uma vitória da Rússia na Ucrânia pode alimentar ações contra estes países no futuro.
E se o Ocidente não responder de forma robusta, até países como Estônia e Letônia poderão enfrentar ameaças no futuro.
A ameaça militar da Rússia contra a Ucrânia colocou o Ocidente em uma posição difícil.
Ele precisa decidir como lidar com uma Rússia beligerante e até que ponto deve expandir seus membros para, digamos, a Ucrânia ou a Geórgia e mais além.
Esses impasses tampouco são ajudados pelo fato de que os Estados Unidos estão mais preocupados com a China, o Mar da China Meridional e o status de Taiwan atualmente do que com o destino da Europa Oriental.
Além disso, o próprio futuro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) pode estar em jogo se não for capaz de dar uma resposta convincente à Ucrânia por meio da diplomacia, assistência militar e talvez até resposta militar.
Tal perda de credibilidade seria uma grande vitória para a Rússia, que vê a Otan como uma ameaça à sua própria segurança nacional e estratégia global de recuperar poder.
Em outras palavras, a importância da situação na Ucrânia não pode ser subestimada.
*David J Galbreath é professor de segurança internacional na Universidade de Bath, no Reino Unido.
Este artigo foi publicado originalmente no site de notícias acadêmicas The Conversation e republicado aqui sob uma licença Creative Commons. Leia aqui a versão original (em inglês).
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