Crise na Ucrânia: Por que aumentaram os temores de invasão?
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, e seu aliado, o líder de Belarus, Alexander Lukashenko, estenderam os exercícios militares que deveriam terminar neste domingo (20/2).
Um comunicado citou a "deterioração da situação" no leste da Ucrânia como uma das razões para manter cerca de 30 mil soldados russos em Belarus.
A medida aumentou os temores de que a Rússia planeje uma invasão da Ucrânia, que divide uma longa fronteira com a Bielorrússia.
Líderes ocidentais acusaram Moscou de buscar um pretexto para enviar tropas.
A Rússia negou que planeja invadir seu vizinho.
O secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, disse que a extensão dos exercícios militares mostra que o mundo está à beira da guerra.
A correspondente da BBC na Europa Oriental, Sarah Rainsford, disse que o anúncio —feito pelo Ministério da Defesa da Bielorrússia— é outro forte sinal de que a Rússia não está preparada para recuar em seu impasse com os países ocidentais sobre a Ucrânia.
As tensões no leste da Ucrânia foram discutidas pelo presidente da França, Emmanuel Macron, e por Putin em um telefonema neste domingo. O presidente russo culpou os militares ucranianos pela escalada das tensões no Donbas.
A França disse que a dupla concordou em trabalhar por um cessar-fogo na linha de contato no leste da Ucrânia.
Houve mais explosões na zona de conflito do leste da Ucrânia durante a noite e no domingo.
Detonações podiam ser ouvidas da cidade de Donetsk, controlada pelos separatistas, enquanto ambos os lados disseram estarem sob forte fogo de artilharia.
Enquanto as explosões aconteciam em Donetsk na manhã de domingo, rebeldes apoiados pela Rússia em Luhansk acusaram as forças do governo de cruzar a linha de frente para lançar um ataque que matou dois civis. Nenhuma prova foi dada para a alegação, mas investigadores russos abriram um inquérito.
Os rebeldes e as forças do governo trocaram acusações de violação do cessar-fogo dezenas de vezes neste domingo.
Dois soldados ucranianos foram mortos no sábado (19/2), quando observadores internacionais relataram que as violações do cessar-fogo aumentaram dramaticamente nesta semana.
Milhares de civis estão sendo evacuados dos territórios separatistas para a Rússia enquanto homens em idade de combate foram convocados a lutar.
A embaixada do Brasil em Kiev emitiu um aviso pedindo a cidadãos brasileiros que deixem as regiões separatistas de Donetsk e Luhansk "sem demora".
Segundo a representação diplomática, a orientação tem como base o "contexto do aumento das violações de cessar-fogo registradas na linha de contato no leste da Ucrânia".
Outros 35 países também pediram que seus cidadãos deixem o território ucraniano diante da escalada das tensões na região e da possibilidade de confronto armado.
Falando enquanto se preparava para deixar Donetsk para a Rússia de ônibus com sua filha de quatro anos, uma mulher que se identificou como Tatyana disse à agência de notícias Reuters: "É realmente assustador. Levei tudo o que pude carregar".
A Rússia reuniu até 190 mil soldados, incluindo forças separatistas nas regiões de Donetsk e Luhansk, segundo estimativas dos EUA.
Enquanto isso, líderes ocidentais estão preparando sanções contra a Rússia em caso de invasão.
O primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, disse, em entrevista à BBC, que as sanções serão "muito, muito duras".
Segundo o premiê, evidências indicam que Moscou está planejando "a maior guerra na Europa desde 1945".
O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, disse que a União Europeia está pronta para impor sanções massivas ao Kremlin —até mesmo prejudicando sua própria economia, se necessário— para enfrentar a agressão militar russa.
Mas o presidente da Ucrânia, Volodymr Zelensky, acusou os líderes ocidentais de uma "política de apaziguamento" em relação a Moscou e exigiu garantias de segurança para a Ucrânia, que oficialmente aspira a se juntar à Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte, uma aliança militar ocidental) e à UE.
Putin tem exigido garantias de que a Otan não admitirá a Ucrânia, um ex-estado soviético com laços estreitos com a Rússia, enquanto a aliança ocidental nega que a adesão represente qualquer ameaça a Moscou.
Há temores de que uma intervenção militar russa possa iniciar uma guerra ainda mais sangrenta do que o conflito no leste da Ucrânia, que custou pelo menos 14 mil vidas.
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