Jerusalém vive dia de confrontos em meio a rara coincidência entre Páscoa, Pessach e Ramadã
Tensão entre israelenses e palestinos, que vinha crescendo nos últimos dias, explodiu em conflito no complexo da mesquita al-Aqsa.
Mais de 150 palestinos ficaram feridos em confronto com a polícia israelense no complexo da mesquita al-Aqsa, na cidade de Jerusalém, na sexta-feira (15/4). A informação foi divulgada por médicos palestinos.
A polícia israelense afirma que os agentes de segurança reagiram após serem atacados com fogos de artifício, pedras e outros objetos. Três policiais israelenses teriam sido feridos.
O local em que se encontra al-Aqsa é sagrado para muçulmanos, judeus e cristãos e uma das áreas mais disputadas do mundo.
Para o Islã, é a Haram al-Sharif, a Esplanada das Mesquitas, onde no século 7 foram construídas a grande mesquita e o Domo da Rocha. É o terceiro lugar mais sagrado para a religião, depois de Meca e Medina.
Para o judaísmo, é o Monte do Templo, o local em que Abraão teria sido poupado de sacrificar seu filho Isaac, em que o rei Salomão construiu o primeiro templo e onde o messias ergueria seu templo.
Esta sexta-feira marca a primeira vez em três décadas em que a Páscoa cristã, o Pessach, conhecido como a Páscoa judaica (que celebra a libertação dos judeus do cativeiro no Egito), e o Ramadã, o mês mais sagrado para os islâmicos, determinado pelo calendário lunar muçulmano (que neste ano vai de 1º de abril a 1º de maio), ocorrem no mesmo período.
No ano passado, o Pessach começou em 27 de março, a Páscoa, dia 4 de abril, e o Ramadã, no dia 12 de abril.
As festividades da Páscoa judaica iniciam na noite desta sexta. Durante o Pessach, há um aumento do fluxo de fiéis judeus para o Monte do Templo, o que é encarado por alguns palestinos como uma provocação.
As tensões entre os dois lados vinham aumentando nos últimos dias, com ataques palestinos em Israel e mortes de palestinos em operações das forças israelenses nas áreas ocupadas da Cisjordânia.
Após o episódio de quinta-feira, Israel intensificou as operações sobre a Cisjordânia, especialmente na região de Jenin, ao norte. Mais de 20 palestinos, muitos identificados como atiradores pelas forças israelenses, foram mortos.
Um jovem palestino de 17 anos ferido durante a força-tarefa em Jenin morreu nesta sexta, conforme o ministro da Saúde da Palestina.
Confrontos desta sexta
Segundo a polícia israelense, dezenas de palestinos, alguns com bandeiras do grupo extremista Hamas, chegaram ao complexo de al-Aqsa por volta de quatro da madrugada e começaram a atirar pedras e fogos de artifício.
A polícia afirma ter aguardado até que os fiéis muçulmanos tivessem encerrado suas orações antes de entrar no local para dispersas os manifestantes. Estes, ainda de acordo com o relato das forças israelenses, teriam começado a jogar pedras em direção ao Muro das Lamentações, que fica em uma região mais abaixo do complexo e onde fiéis judeus estavam reunidos.
Um vídeo divulgado pelas autoridades israelenses no Twitter mostra fogos de artifício atingindo o complexo da mesquita al-Aqsa e jovens com máscaras atirando pedras nos agentes.
O ministro de Relações Exteriores de Israel, por sua vez, postou um vídeo na mesma rede social de palestinos de máscara dentro da mesquita arremessando objetos, com o barulho de um estampido de fundo seguido por uma chuva de faíscas.
Ele refutou relatos compartilhados nas redes sociais de que a polícia teria entrado na mesquita durante o confronto. Horas depois, imagens de dentro do local mostravam palestinos e forças policiais israelenses em cenas aparentemente sem violência.
O ministério de Relações Exteriores palestino condenou as ações de Israel no complexo, acusando o país de ser "total e diretamente responsável por esse crime e suas consequências".
Os confrontos ocorreram depois que grupos palestinos em Gaza exortaram "centenas de milhares" de palestinos a se reunirem no complexo de al-Aqsa nesta sexta "para proteger nossa nação e nossa mesquita".
A escalada da tensão na região acontece menos de um ano depois de um conflito devastador de 11 dias entre o Hamas e Israel, que se estendeu entre 11 e 20 de maio de 2021.
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