Governo Bolsonaro diz nos EUA que 'trabalha pesado' em buscas por desaparecidos na Amazônia
Ministro do Meio Ambiente e da Justiça tiveram reuniões com o enviado climático de Biden, John Kerry, e com a vice-ministra para África, América Latina e Caribe do Escritório de Relações Exteriores e Desenvolvimento do Reino Unido, Vick Ford.
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Anderson Torres e o do Meio Ambiente, Joaquim Leite, que acompanham o presidente Jair Bolsonaro em viagem aos Estados Unidos para participar da Cúpula das Américas, fizeram reuniões nesta quinta-feira (9/6) para explicar às autoridades americanas e britânicas os esforços que o governo federal tem feito nas buscas pelo jornalista britânico Dom Phillips e o indigenista Bruno Pereira, desaparecidos na Amazônia desde o último domingo (5/6).
Phillips e Pereira viajavam pelo Vale do Javari, uma das maiores terras indígenas do Brasil, para documentar a atividade ilegal de pescadores, grileiros, madeireiros e garimpeiros na área e sumiram depois de sofrerem ameaças. O caso, ainda sem solução, gerou grande repercussão internacional e questionamento sobre as ações do governo para investigar e localizar Phillips e Pereira.
- Laços entre traficantes, caçadores e pescadores acirram violência onde dupla desapareceu na Amazônia
- Região onde repórter e servidor desapareceram sofre violência crescente e foi abandonada pelo governo, diz ex-chefe da Funai
Nos últimos dias, congressistas da base de Biden na Câmara dos Representantes lançaram mensagens públicas exortando o governo brasileiro a intensificar suas buscas pelo jornalista e pelo indigenista e expressando preocupação com ambos e com a situação de conflagração na região. Além disso, o Enviado Climático do governo Biden, John Kerry, informado do caso por Sonia Guajajara, coordenadora da Articulação para os Povos Indígenas do Brasil (APIB), se comprometeu a acompanhar o caso de perto. Pelas ruas de Los Angeles, um caminhão de LED projetava os rostos dos dois desaparecidos.
Diante da pressão, coube especialmente a Torres explicar a Kerry a extensão das operações das buscas e porquê até agora ambos não foram localizados, dias após seu sumiço.
"Já gastamos mais de meio milhão de reais nas buscas. O Estado brasileiro está trabalhando pesado para encontrá-los. Mas também mostrei a ele (Kerry) as dificuldades dessa operação naquela região", afirmou Torres, ressaltando que a área é de difícil acesso e que o trabalho é feito com auxílio de aviões, helicópteros e barcos.
Nesta quinta-feira, ao comentar o assunto, o presidente Bolsonaro afirmou que neste momento cerca de 300 homens atuam nas buscas.
"Não tenho notícia do paradeiro deles, a gente pede a Deus para que sejam encontrados vivos, mas a gente sabe que a cada dia que passa essas chances diminuem. Desde o primeiro dia, quando foi dado o sinal de alerta, a Marinha entrou em campo, e no dia seguinte as Forças Armadas e a Polícia Federal", disse o mandatário brasileiro.
De acordo com o presidente da Funai, Marcelo Xavier, nem Phillips nem Pereira tinham autorização do órgão para entrar na terra indígena do Vale do Javari. Bolsonaro também comentou o assunto em Los Angeles: "Eles entraram numa área, não participaram a Funai, tem um protocolo a ser seguido, e naquela região normalmente você entra escoltado. Foram para uma aventura. A gente lamenta pelo pior".
Ainda nesta quinta-feira, Torres se reuniu com a vice-ministra para África, América Latina e Caribe do Escritório de Relações Exteriores e Desenvolvimento do Reino Unido, Vick Ford, para tratar do assunto.
"Os britânicos apenas nos pediram para esgotar todas as possibilidades de resgate antes de encerrar a operação. É o que vamos fazer", afirmou Torres.
Até agora, nenhum vestígio do paradeiro de Phillips e Pereira, ou mesmo da embarcação que eles usavam e de seus pertences, foi localizado.
Legislação ambiental rígida
Na conversa com Kerry, da qual também participou Joaquim Leite, da pasta do Meio Ambiente, Torres aproveitou para mostrar que tipo de ações têm sido feitas para tentar coibir o desmatamento ilegal na Amazônia.
Embora tenham elogiado publicamente a meta de zerar o desmatamento ilegal em 2028 na COP-26, no ano passado, os americanos afirmam ver pouca ação prática para atingir o resultado. Os índices de desmatamento na Amazônia até agora não refluíram.
Em resposta aos americanos, a diplomacia brasileira informou que, há duas semanas, o presidente Bolsonaro assinou um decreto que aumentava o valor das multas por falsificação de documentos para encobrir a extração ilegal de madeira, e escalava a punição para para infratores ambientais reincidentes. Em encontro bilateral com o presidente Biden, Bolsonaro afirmou que "nossa legislação ambiental é bastante rígida e fazemos o possível para cumpri-la pelo bem do nosso país".
Um levantamento do jornal O Estado de S. Paulo, porém, mostrou que 2021 teve o menor número de multas emitidas em 20 anos.
A melhora nos índices ambientais do país é vista como fundamental para aumentar a confiança dos americanos e avançar nas negociações para a criação de um fundo de preservação da Amazônia. Durante o encontro bilateral com Bolsonaro nesta quinta, Biden voltou a citar a ideia:
"Vocês têm feito grandes sacrifícios como país na tentativa de proteger a Amazônia, o grande sumidouro de carbono do mundo. Acho que o resto do mundo deveria participar ajudando vocês a financiar isso para que vocês possam preservar o máximo que puderem. Todos nós nos beneficiamos disso", disse Biden.
A reunião terminou, no entanto, sem que nenhum anúncio sobre financiamento ambiental dos EUA ao Brasil fosse acertado.
Sabia que a BBC está também no Telegram? Inscreva-se no canal.
Já assistiu aos nossos novos vídeos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!
https://www.youtube.com/watch?v=m8xMktYNtbs
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.