Conteúdo publicado há 28 dias

O que se sabe sobre a participação da Coreia do Norte na guerra na Ucrânia

O que se sabe sobre a participação da Coreia do Norte na guerra na Ucrânia - Ucrânia e Coreia do Sul dizem que Pyongyang está enviando tropas para apoiar os russos. Mas há relatos conflitantes sobre o tamanho da participação norte-coreana. EUA falam pela primeira vez em evidências.O presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk Yeol, disse nesta segunda-feira (21/10) que vai coordenar "medidas de resposta" com a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) contra a crescente participação da Coreia do Norte na guerra que acontece em território ucraniano. Segundo Seul, Pyonyang não está apenas fornecendo armas à Rússia, mas também enviando tropas para supostamente lutar nos territórios ocupados pelos russos.

"A invasão da Ucrânia pela Rússia e o alinhamento imprudente entre a Rússia e a Coreia do Norte confirmaram que a segurança das regiões do Indo-Pacífico e do Atlântico estão conectadas", disse Yoon durante uma ligação telefônica com o secretário-geral da Otan, Mark Rutte.

Seul afirma que os norte-coreanos pretendem enviar até 12 mil soldados para a Rússia, informação que ainda não foi confirmada pela Otan e pelos Estados Unidos. Neste sábado, porém, a Ucrânia chegou a divulgar um vídeo que supostamente mostra dezenas de recrutas da Coreia do Norte recebendo equipamentos militares russos.

O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, alertou várias vezes contra uma aliança entre a Coreia do Norte e a Rússia. Mas qual a extensão do envolvimento norte-coreano na guerra da Ucrânia?

Munição e tropas norte-coreanas

A porta-voz do Ministério da Defesa dos EUA, Sabrina Singh, sugeriu em julho que não havia nenhuma indicação de que tropas norte-coreanas estivessem sendo enviadas para a Ucrânia. Mas, em 2023, o serviço de inteligência militar ucraniano (HUR) informou que um contingente norte-coreano havia chegado aos territórios ocupados do país.

Já em outubro deste ano, Andriy Kovalenko, do Conselho Nacional de Segurança e Defesa da Ucrânia, afirmou que havia militares norte-coreanos supervisionando a munição fornecida aos russos na região ucraniana de Donetsk, ocupada pela Rússia.

De acordo com a mídia ucraniana, a guerra já teria feito até mesmo vítimas norte-coreanas. Seis oficiais do país teriam sido mortos em 3 de outubro em um ataque de mísseis ucranianos perto de Donetsk.

Um representante do HUR também disse à mídia ucraniana que o exército russo havia adquirido um "batalhão especial Buryat" que também era formado por norte-coreanos. Os Buryats são um grupo étnico nativo do sudeste da Sibéria.

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A Ucrânia ainda afirma que 18 soldados norte-coreanos haviam desertado de posições em Bryansk e Kursk, ambas regiões russas na fronteira com a Ucrânia.

EUA falam pela primeira vez em evidências

Nesta quarta-feira (23/10), os EUA afirmaram pela primeira vez que observaram evidências de que tropas norte-coreanas estão na Rússia, e parlamentares sul-coreanos divulgaram que cerca de 3.000 soldados foram enviados para apoiar o Kremlin na guerra na Ucrânia.

Em Roma, o secretário de Defesa americano, Lloyd Austin, argumentou que seria algo "muito, muito sério", caso militares da Coreia do Norte estejam mesmo se preparando para lutar ao lado da Rússia em território ucraniano.

"Existem evidências de que há tropas da RPDC na Rússia", afirmou Austin a repórteres, citando as iniciais do nome formal da Coreia do Norte: República Popular Democrática da Coreia.

Em Seul, autoridades sul-coreanas disseram que o país vizinho enviou 3.000 soldados para a Rússia e que milhares de outros devem seguir o mesmo caminho, o que corrobora uma promessa feita por Pyongyang, que havia dito que forneceria um total de 10.000 soldados, cujo envio seria concluído até dezembro, segundo Seul. A acusação já havia sido compartilhada na terça-feira pelo presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski.

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Os Estados Unidos acreditam que pelo menos 3.000 soldados norte-coreanos estão sendo treinados em bases militares no leste da Rússia, de acordo com informações do porta-voz de segurança nacional da Casa Branca, John Kirby.

Alemanha convoca representante norte-coreano

O episódio levou a Alemanha a convocar o representante diplomático da Coreia do Norte devido à desconfiança de que Pyongyang esteja reforçando seu apoio à invasão da Ucrânia pela Rússia, informou o Ministério das Relações Exteriores em Berlim.

"Se os relatos sobre a presença de soldados norte-coreanos na Ucrânia forem verdadeiros e se a Coreia do Norte estiver apoiando a guerra de agressão russa na Ucrânia com tropas, isso seria grave e violaria a lei internacional", escreveu o ministério alemão na rede social X.

O apoio norte-coreano à Rússia "também ameaça diretamente a segurança da Alemanha e a ordem de paz europeia", acrescentou.

Segundo Nico Lange, membro sênior da Conferência de Segurança de Munique (MSC), há pouca informação concreta e muita especulação. No entanto, ele afirma que "não há dúvida de que os norte-coreanos estão em treinamento na Rússia. E também não há dúvida de que há algum tempo, ou seja, desde pouco tempo depois da visita de Putin a Pyongyang, unidades de construção das forças armadas norte-coreanas estão ativas nos territórios ocupados da Ucrânia".

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Ao mesmo tempo, o especialista adverte: "Não se pode concluir automaticamente, a partir dessas informações que estão circulando, que milhares de soldados norte-coreanos estão lutando ao lado dos russos na Ucrânia. Não é isso que se pode ver até agora".

Moscou não confirma o envolvimento da Coreia do Norte

A Rússia não confirmou que a Coreia do Norte está participando com tropas na guerra contra a Ucrânia. Até agora, o Kremlin disse apenas que existe uma "cooperação profunda e estratégica em todas as áreas, incluindo segurança", referindo-se a um pacto de defesa assinado em junho de 2024 entre o líder norte-coreano, Kim Jong-un, e o presidente russo, Vladimir Putin, que prevê assistência militar mútua.

A DW não conseguiu encontrar evidência nas redes sociais russas de que soldados norte-coreanos tenham sido enviados para o país.

Benefícios mútuos justificam parceria

O professor de História e Relações Internacionais da Universidade Kookmin, Andrei Lankov, em Seul, disse ser "bastante plausível" que as tropas norte-coreanas tenham sido enviadas.

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Ele entende que faria sentido para Putin fortalecer o exército russo com norte-coreanos, pois isso lhe permitiria evitar uma nova campanha de alistamento militar na Rússia.

"Se olharmos do ponto de vista russo, Putin está travando uma guerra que é popular na Rússia, mas desde que a maioria da população seja mantida fora da luta e não seja 'perturbada' em sua vida cotidiana pela guerra", explicou.

Lankov, que é originalmente da Rússia, disse que há cada vez menos homens preparados para arriscar suas vidas no país, em especial no momento em que o exército russo depende de unidades de infantaria, que fazem a linha de frente.

O analista entende que, em troca, a Coreia do Norte procura remuneração financeira. Mas a principal disposição de Pyongyang em fornecer tropas seria a oferta russa de pagar a conta em forma de tecnologia.

"Só dinheiro não é suficiente", disse Lankov. "Parte terá que vir na forma de tecnologia avançada que o Norte deseja, mas não conseguiu obter. Normalmente, a Rússia nunca concordaria em fornecer esse tipo de tecnologia a um país tão instável, mas eles não têm escolha."

O último motivo para o envolvimento norte-coreano na Ucrânia seria o interesse dos militares em adquirir habilidades e conhecimento.

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"Esse é um conflito moderno entre duas potências militares avançadas em um longo período de tempo", disse ele. "O mundo não vê um conflito como esse há 80 anos, e a Coreia do Norte quer obter experiência nesse tipo de guerra."

Para Lankov, a cooperação entre os dois países não deve ser duradoura.

"Assim que as hostilidades na Ucrânia terminarem, tudo voltará ao que era antes. Esses dois países são muito diferentes e amplamente incompatíveis, portanto, haverá muito pouco que a Coreia do Norte produza que a Rússia queira."

Coreia do Norte já enviou tropas para apoiar outros exércitos

A Coreia do Norte já enviou tropas para o exterior antes. Angola, por exemplo, aceitou cerca de 3 mil "conselheiros" militares nas décadas de 1970 e 1980. Os norte-coreanos foram encarregados de treinar os angolanos, mas também lutaram ativamente contra forças sul-africanas.

O país também já enviou tropas para Uganda, Chade e Moçambique, e treinou guerrilheiros do Exército Popular de Libertação da Namíbia, em uma longa insurgência contra a África do Sul.

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A Coreia do Norte ainda enviou pilotos para apoiar os vietnamitas do norte durante a Guerra do Vietnã.

Em geral, o país tende a enviar treinadores, disse Fyodor Tertitsky, analista norte-coreano baseado na Coreia do Sul. No entanto, ele explicou que as declarações sul-coreanas dão credibilidade ao cenário de que as tropas norte-coreanas poderiam ser enviadas para participar da guerra da Rússia contra a Ucrânia.

A reação da Coreia do Sul

A Coreia do Sul reagiu publicamente afirmando que está considerando fornecer armas diretamente à Ucrânia, à medida que aumentam as evidências do crescente envolvimento dos seus arqui-inimigos do Norte no conflito do Leste europeu.

Na terça-feira (22/10), um alto funcionário do gabinete do presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk Yeol, disse que Seul pode vir a fornecer de armas defensivas e letais para a Ucrânia, dependendo dos acontecimentos.

"Consideraríamos o fornecimento de armas para fins defensivos como parte dos cenários passo a passo e, se parecer que eles estão indo longe demais, também podemos considerar o uso ofensivo", disse o funcionário presidencial aos repórteres, sinalizando a posição mais proativa de Seul em relação ao armamento da Ucrânia até o momento.

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A Coreia do Sul, que tem sob seu poder um dos maiores estoques de projéteis de artilharia do mundo, forneceu ajuda humanitária à Ucrânia, ao mesmo tempo em que aderiu às sanções econômicas impostas pelo Ocidente contra Moscou.

Mas o sul-coreanos não forneceram armas diretamente a Kiev, citando uma política tradicional de não fornecer armas a países ativamente envolvidos em conflitos.

Uma eventual mudança de política de Seul seria bem recebida por Kiev, que está enfrentando uma escassez de munições.

Autor: Julian Ryall , Oleksandr Kunyzkyj, Aleksei Strelnikov

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