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"Haiti não está condenado a viver assim", diz sobrevivente do terremoto

Alida Juliani Sánchez, em Madri

12/01/2012 10h57

A empresária haitiana Nadine Cardozo, sobrevivente do terremoto que assolou o país dois anos atrás e que nesta quinta-feira completa dois anos, afirma que o "Haiti não está condenado a viver assim para sempre, porque isso não seria justo", e esperançosa ela acredita que, "apesar dos momentos difíceis, todos seguirão em frente".

"Nós, haitianos, temos muito (a fazer) pela frente, mas podemos sair de onde estamos. Outros países conseguiram", ressaltou Nadine em entrevista à Agência Efe em Madri, onde recebe nesta quinta-feira uma homenagem da ONG espanhola Bombeiros Unidos Sem Fronteiras (BUSF).


Em 17 de janeiro de 2010, a empresária foi resgatada por uma equipe da BUSF após permanecer cinco dias presa sob os escombros do hotel que gerenciava em Porto Príncipe.

"A emoção ainda está viva e não acho que o tempo me fará esquecer. Ajuda um pouco, mas não muito, porque há sentimentos e traumas que não podem e, talvez, não devam ser esquecidos", desabafou.

Nadine lembrou à Efe o momento em que, através da fenda aberta entre os escombros, viu o rosto de Edgar, o bombeiro peruano que a encontrou e a tranquilizou antes de tirá-la dali.

"Ele me transmitiu sua coragem, sua força, e um tipo de energia positiva se criou entre nós, porque começamos a falar como se estivéssemos em um café. Foi uma conversa muito normal para quem estava soterrado debaixo de cinco andares", recordou.

Também será impossível esquecer - afirma - "a visão que tive ao sair, do grupo de bombeiros trabalhando com todo o coração. Passaram 18h lutando para me resgatar".

Daquele instante, surgiu uma união "muito especial" que depois foi traduzida em uma estreita colaboração com a ONG espanhola, que até o momento doou quatro ambulâncias, equipamentos para purificação de água do hospital de Porto Príncipe e agora atua na construção de duas escolas, revelou Nadine.

"Quero acreditar que o Haiti avançou um pouco nesses dois anos, mas ainda há muito por fazer, porque continuamos sem o básico. Precisamos de tudo: água, eletricidade, saúde, escola...", afirmou.

Mas, o mais urgente, explica, é gerar emprego "para que cada um possa se sustentar e viver dignamente".

Dois anos após o terremoto que matou 300 mil pessoas, mais de 500 mil haitianos continuam vivendo em acampamentos e só 43% dos US$ 4,6 bilhões prometidos na conferência de doadores foi entregue.

Para a empresária, o problema foi que, depois do terremoto houve uma mudança de Governo, "e isso não ajudou, atrasou tudo", porém espera que agora "a situação melhore e a entrada de dinheiro seja desbloqueada".

"O novo Governo está começando a trabalhar e já iniciou um programa forte de escolarização, com bolsas de estudos para estudantes. Estamos tentando aumentar consideravelmente o número de jovens nas escolas", afirmou.

Pessoalmente, a empresária haitiana defende uma visão positiva para poder prosperar, porque "ficar parado na esquina e dizer: o que podemos fazer?" não adianta nada.

"Nem sempre é possível ser forte, mas é possível lutar a cada dia. Temos de olhar para frente. Quando pensamos assim, sempre encontramos uma solução", ressaltou.

Nadine falou ainda da experiência de ter de reconstruir o hotel que está em sua família há 70 anos.

"Perdemos muitos, mas o que mais dói são as lembranças. Para minha família é muito difícil aceitá-las. Nossos filhos têm muita força, são jovens e estão trabalhando de 15h a 20h por dia sem se queixarem, para recomeçarmos. Queremos ver dias melhores para nós, e para o Haiti", concluiu.