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Com fechamento de fronteira, mais de 9 mil refugiados ficam retidos na Grécia

22/02/2016 10h50

Atenas, 22 fev (EFE).- O fechamento das fronteiras macedônias e sérvias para os cidadãos afegãos fez com que mais de 9 mil refugiados tenham ficado retidos na passagem entre a Macedônia e a Grécia e no Porto do Pireu, aonde eles chegam vindos das ilhas do Mar Egeu.

A polícia grega disse à Agência Efe que o governo só recebeu uma confirmação telefônica das autoridades macedônias de que a decisão de fechar a fronteira aos afegãos responde à postura adotada pela Sérvia. Segundo a corporação, nenhuma informação oficial por parte desse país foi recebida ainda.

Ontem, a Macedônia proibiu a passagem de refugiados afegãos vindos da Grécia alegando que a Sérvia, o país seguinte na rota, tinha adotado esta medida anteriormente. Como consequência, 2 mil pessoas estão bloqueadas no campo transitório de Idomeni, na parte grega da fronteira, e outras 3 mil esperam em 62 ônibus estacionados em um posto de gasolina situado a 20 quilômetros de lá.

A aglomeração é semelhante no principal porto da Grécia, o de Pireu, onde mais de 4 mil refugiados e migrantes esperam para poder entrar em um ônibus que os leve até a fronteira com a Macedônia para continuar a viagem rumo ao centro e norte da Europa.

Fontes do Ministério da Migração asseguraram em declarações à Efe que as pessoas que estão no porto serão transferidas a dois centros de amparo e a um acampamento militar recém-adaptado, todos perto de Atenas. Já os que estão em Idomeni serão acomodados no abrigo situado na fronteira e em outro acampamento em Salônica, no norte do país.

Desde novembro do ano passado, as autoridades da Macedônia permitiam a entrada de sírios, iraquianos e afegãos e rejeitavam a passagem de iranianos, paquistaneses e cidadãos do norte da África, considerados, de antemão, migrantes econômicos.

Até bem pouco tempo, a única condição exigida para entrar era apresentar uma declaração da polícia grega atestando que essa pessoa se comprometia a seguir rumo à Áustria ou Alemanha. Agora, além desta autorização, é preciso apresentar o passaporte ou um documento de identidade, trâmite complicado para muitos refugiados que perdem esses papéis durante a viagem, conforme explica a Organização Médicos Sem Fronteiras.

O ministro de Migração, Yiannis Mouzalas, afirmou hoje que o fechamento das fronteiras viola o acordo alcançado na reunião da quinta-feira passada em que a União Europeia (UE) apostou por um plano completo europeu para gerenciar esta crise humanitária.

"A UE tomou uma decisão e uma série de Estados-membros, que obviamente não têm a cultura da UE, violam o acordo alcançado tão só dez horas depois (da cúpula), desta vez, infelizmente, com a ajuda da Áustria", disse ele.

O ministro grego lembrou que na próxima quarta-feira será realizada uma conferência entre os países dos Bálcãs Ocidentais organizada pela Áustria para tratar quais são as deficiências da Grécia na gestão das fronteiras comunitária exteriores.

Em entrevista ao canal do parlamento grego, ele parabenizou os esforços realizados até agora pela Áustria, um país que, apesar de contar com somente 8 milhões de habitantes, acolheu 100 mil refugiados, ao contrário de outras nações que não proporcionaram aos refugiados qualquer tipo de amparo, "nem sequer cobertores".

Com relação ao acordo alcançado para que a Otan coopere com a Grécia e a Turquia no resgate de embarcações com refugiados, Mouzalas disse que os turcos está colocando obstáculos para a devolução de pessoas.

"Tomara que esse plano avance porque na primeira reunião (do Comitê Militar da Otan) os militares da Turquia fizeram uma série de objeções", apontou.

O presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, advertiu em entrevista à emissora alemã "ARD", que o fechamento da rota balcânica não resolve o problema e transformará à Grécia em "um grande campo de refugiados". Schulz insistiu na necessidade de implantar um mecanismo de divisão de refugiados entre os países-membros que permita fazer frente ao fluxo.

Somente nestes dois primeiros meses de 2016, mais de 96 mil pessoas chegaram à Grécia, segundo os dados mais recentes da Organização Internacional de Migrações.