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Em meio à crise, Lula lamenta ausência de Hugo Chávez e Néstor Kirchner

28/03/2016 19h00

São Paulo, 28 mar (EFE).- O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta segunda-feira que a crise política no Brasil "afeta muito" à América Latina e, nesse cenário, lamentou a ausência de líderes na região como os ex-presidentes Hugo Chávez, da Venezuela, e Néstor Kirchner, da Argentina.

"A crise do Brasil afeta muito à região. Nós ajudamos a construir uma imagem melhor da América Latina, da América do Sul e do Brasil, com um Brasil protagonista", afirmou Lula durante uma entrevista coletiva com correspondentes estrangeiros em São Paulo.

"O Brasil não é importante só para o Brasil, é importante para a América Latina, para a África e para os Estados Unidos", acrescentou.

No meio da turbulência política, Lula lamentou que já não estejam nessa frente os falecidos ex-presidentes Chávez (1995-2013) e Kirchner (2003-2007).

"Éramos três que estávamos para a política internacional como estão agora Suárez, Messi e Neymar para o Barcelona. Nós gostávamos disso e, quando não nos víamos, conversávamos por telefone e provocávamos reuniões para poder animar, porque a política precisa de muito ânimo", destacou Lula.

A partir dessa liderança partilhada com Chávez e Kirchner, lembrou Lula, foi criada a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), "que não foi fácil", e conseguiram "acabar" com a Alca (Área de Livre-Comércio das Américas), que era a proposta dos Estados Unidos para uma integração regional no continente.

"Tivemos a motivação de criar a Unasul (União de Nações Sul-Americanas) e fortalecer o Mercosul", completou Lula, que é alvo de duas investigações por suposta corrupção e cuja recente nomeação como ministro da Casa Civil se encontra suspensa pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Lula lembrou também que junto ao então chanceler Celso Amorim liderou a criação do grupo de Amigos da Venezuela, que surgiu como uma ferramenta diplomática para enfrentar a crise desse país depois da tentativa de golpe em 2002.

No entanto, admitiu que nessa gestão teve divergências com o líder cubano Fidel Castro, que se opunha a que Estados Unidos, Alemanha e Espanha estivessem no grupo.

O então presidente do governo espanhol José María Aznar, disse Lula, foi o primeiro a admitir que havia "infiltrados" na tentativa de golpe da Venezuela e a presença dos três países foi estratégica "para ter credibilidade com a oposição", principalmente pelo papel do ex-secretário de Estado americano, Colin Powell.

"Participei igualmente em todas as reuniões do G8, nas quais não acreditavam muito na América Latina e éramos tratados como uma coisa menor", acrescentou.

Sobre o papel particular do Brasil no contexto global, Lula destacou o trabalho exercido junto à Turquia em 2010 para alcançar um tratado sobre o tema nuclear com o Irã.

"O que nós conseguimos com o Irã foi infinitamente melhor do que se conseguiu até agora. Uma coisa que os grandes não conseguiram", salientou Lula.

Em 2010, contou o ex-presidente, "estive reunido com (o então presidente iraniano) Mahmoud Ahmadinejad e vi que era possível um acordo. Mas nenhum dos líderes mundiais o tinha consultado. Isso não se resolve com diplomatas e sim entre os próprios líderes. O mundo ficou um pouco mais bizarro".

"A política é uma coisa muito química e vemos isso na televisão com (o presidente dos Estados Unidos) Barack Obama", ressaltou Lula.

Em seus comentários sobre política internacional, Lula também declarou que no conflito palestino, "em Israel só o povo quer um acordo", e reiterou seu pedido de uma reforma imediata da ONU.

"Estamos trabalhando no século XXI com uma coisa arcaica do século XX, que então foi boa, mas a ONU precisa de reformas", concluiu.