Topo

Irã inaugura primeiro parlamento da história com mais mulheres que clérigos

28/05/2016 13h18

Álvaro Mellizo

Teerã, 28 mai (EFE).- O parlamento iraniano inaugurou neste sábado sua décima legislatura, a primeira com mais mulheres que clérigos desde o triunfo da Revolução Islâmica em 1979 e marcada pela presença reforçada de deputados reformistas que arrebataram o domínio da câmara dos conservadores "principalistas".

Em cerimônia que contou com uma inusitada presença da imprensa internacional, os deputados que venceram as eleições de 26 de fevereiro e o segundo turno disputado em 29 abril assumiram suas cadeiras e formaram o parlamento iraniano mais "liberal" em mais de uma década.

Com 121 deputados, a lista de reformistas e moderados que expressaram nas eleições apoio às políticas de abertura ao mundo, reforma econômica e melhora das relações com Ocidente do presidente Hassan Rohani, é a força majoritária na câmara.

Os reformistas, que na passada legislatura tinham apenas nove cadeiras e que cimentaram seu triunfo com um êxito absoluto em Teerã, a maior circunscrição e mais disputada do país, onde obtiveram todas as cadeiras em disputa, arrebataram o domínio que os "principalistas" mantiveram na câmara nas duas últimas legislaturas.

Estes perderam quase uma centena de cadeiras até ficar em 83 deputados agora, entre os quais encontram-se, além disso, os menos radicais de entre suas fileiras, enquanto o resto dos 290 legisladores da câmara são de listas independentes de muito variadas tendências.

No total 18 mulheres, todas reformistas, entraram na câmara como deputadas, o maior número na história parlamentar iraniana, enquanto apenas 16 clérigos xiitas, frente aos 27 do parlamento saliente, foram escolhidos deputados nesta legislatura.

Esta simbólica mudança ficou denegrida pelas tentativas dos setores conservadores de anular a eleição de uma das legisladoras devido à publicação de fotos suas sem véu durante uma viagem ao exterior do país, caso cuja resolução definitiva ainda está pendente.

A abertura desta legislatura implica, além disso, que os setores reformistas e moderados dominam os dois únicos poderes do Estado iraniano (Executivo e Legislativo) que são escolhidos democraticamente pelo povo.

Precisamente, a nova câmara foi inaugurada em presença de Rohani, que a partir de agora contará com um parlamento mais afim a seus interesses e do qual espera que não torpedeará suas tentativas de reforma, particularmente no âmbito econômico.

Em seu discurso à câmara, Rohani lembrou que os deputados são os depositários da "soberania popular" e têm o mandato da nação "para legislar dentro dos princípios islâmicos e dos interesses nacionais".

Assim, lembrou que o Irã "necessita investimento para obter crescimento econômico" e apontou que nenhum país pode crescer "a menos que tenha boa interação com o mundo".

O líder supremo Ali Khamenei, a mais alta figura política e religiosa da República Islâmica, enviou à câmara um comunicado no qual também apontou que seu trabalho principal será também o de impulsionar "a economia da resistência", assim como defender "a cultura islâmica".

Além disso, pediu aos deputados que deixem de lado seus "interesses partidários e pessoais" e transformem a assembleia em "uma sólida fortaleza contra os vergonhosos truques e as demandas excessivas dos poderes hegemônicos".

"As tormentosas condições tanto regionais como globais, assim como as políticas aventureiras dos poderes hegemônicos globais e seus aprendizes, deixam a República Islâmica em uma situação complicada. Lidar com essa situação requer vigilância, vontade firme e brilhantes iniciativas por parte de todos", acrescentou o líder.

O parlamento iraniano tem o poder para criar leis, apesar de suas decisões poderem ser vetadas pelo denominado Conselho de Guardiães, organismo eleito diretamente por Khamenei que também se encarrega de dar a aprovação a qualquer candidato que queira concorrer às eleições.

Além disso, o parlamento também tem capacidade para destituir os ministros do governo e inclusive o presidente, além de ratificar os acordos internacionais e aprovar o orçamento geral.